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A CELEUMA NO CABARÉ BRASIL. Por: Arimar Souza de Sá


Publicada em: 07/10/2019 09:51:37 - Atualizado

Ultimamente, talvez pelo caminhar dos anos, venho procurando, como católico relaxado, uma aproximação maior com Deus. E, neste processo de ajeitar meu espectro espiritual, até na análise do cenário político brasileiro, o culto à Bíblia, vejo como inevitável.

E olha o que diz o apóstolo Mateus, no capítulo 6 versículo 24: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”.

Estou, assim como Mateus, convencido de que amor e ódio não se amalgamam, posto que de essências diferentes.

O Brasil de hoje está mais ou menos assim, entupido de amor e ódio, numa briga ferrenha entre o bem e o mal e, com isso, trepidam os estandartes da Nação.

Obliterados, os agentes públicos voltam-se aos mesmos sangramentos do início da República, quando o império foi defenestrado. A oligarquia agrária, de um lado, os desgraçados, de outro. Um embate torturante que só recrudesceu com a intervenção de Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro.

Senão, vejamos: onde estamos hoje? De um lado, o discurso nacionalista do presidente Bolsonaro e besteiras ao léu; de um lado um país de barnabés, que sugam o erário daquele Brasil que estacionou e não produz; de um lado, o Parlamento, sedento de benesses; de um lado o judiciário confuso e desacreditado, em guerra com procuradores, no desafio do quem pode mais chora menos.

De outro, o povo brasileiro, com o celular na mão assistindo perplexo ao espetáculo dantesco ao inverso: partindo do inferno, vivendo no purgatório e sonhando com o céu.

E, nesta confusão, eis que surge um anjo do Senhor e pergunta com voz bem alta: quem serve ao Senhor? Ninguém responde. Um silêncio sepulcral enche o tenso ambiente.

De repente, um estampido do fundo da terra e eis que surge um trovoar de cães ladrando sob a ordem do diabo: “Temos que acabar com a Lava-Jato e soltar o Lula”. O circo está armado.

Ecos de tiros pipocam pelo céu de Brasília. Nuvens escurecem, e na convulsão, ouve-se um gemido: é da terra, parindo das entranhas o Apocalipse, e no imaginário dos que pensam, ceifa-se cabeças coroadas com uma lâmina invisível. E há sangue esparramado pelo chão. E os coices se retumbam. Na Corte, chispas, lavras cospem larvas de fogo.

Nessa invasão de horrores, túrgidos, os seios de uma leoa parecem explodir; as estrelas no infinito crepitam e o negrume da noite invade a “uterologia” das fêmeas, que se trancam à continuidade da vida. É o caos que recrudesce, parecendo até o último afeto de Deus em solo brasileiro!

O Brasil, creiam, vive nesse embalo sujo. O universo é um só, soldados do mal tentando devorar o exército bem. E Deus? Ele é brasileiro? Vai nos ajudar a sair dessa?
Voltemos! Da celeuma na zona à ordem. Será que no Brasil existem pessoas servindo a dois senhores? Isto é, a Deus e ao Diabo?

Há senadores empresários? Empresários senadores? Há deputados ruralistas e ruralistas deputados? Há ministros empresários e empresários ministros?

Dir-se-ia, após quase 150 anos de República: a fórmula encontrada pelos republicanos é uma só – servir a dois senhores, ao Estado como predador, e aos negócios próprios, como bons “gestores”...

O certo é que altas figuras públicas estão na berlinda, com o c* na mão, mas o modelo é o mesmo, na vergasta do manjado toma-lá-dá-cá.

A moda, transformou-se em costume, e o homem brasileiro minou-se com o entulho histórico, para ser uma horda de bipolares, onde na moeda de troca serve-se aos dois senhores em plena luz do dia.

Cruz Credo!

É evidente que a Lava-Jato é o anti-herói de nosso folhetim. No imo, há quem prefira ser Eike, o enganador das elites, do que ser Moro, o devastador dos predadores da República – ambos atores e intérpretes do caos a que me refiro: O Eike, símbolo da corrupção, e Moro, o D´Artagnan brasileiro.

Na trama, herói e anti-herói, ambos são parte do alvoroço de encontros e desencontros do Cabaré Brasil.

Na essência, embora em lados opostos, eles são viventes no mesmo espaço de tragédias anunciadas do País, onde amor, ódio e interesses escusos se confundem, e matam a esperança do povo brasileiro num amanhã melhor.

E, sem esperança, a vida morre. Então, melhor dizer: o último que sair apaga a luz.

Amém!


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