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Fora do 1º lote de vacina, idosas abaixo de 75 anos relatam angústia

Isolamento social segue afetando a saúde mental de mulheres, que apesar de serem do grupo de risco da covid-19, não serão vacinadas de imediato


R7

Publicada em: 03/12/2020 10:07:38 - Atualizado


BRASIL - A pandemia de covid-19 impediu Arminda Furtado de Oliveira, 72, de conhecer dois novos membros de sua família: o bisneto, de 8 meses, e o trineto, de 5 meses de vida. "Se tivesse carro, eu iria. Mas como tem que enfrentar ônibus, melhor não sair", pondera.

"Para mim, a pior coisa foi ter que ficar enfurnada dentro de casa. Eu gosto de sair, de viajar. No ano retrasado, fui até para a Bahia", conta.

O isolamento social precisa ser ainda mais rígido para Arminda, já que ela faz parte do grupo de risco da covid-19. No entanto, idosas em sua faixa etária só serão contempladas na segunda fase do plano de vacinação contra a covid-19, conforme já foi comunicado pelo Ministério da Saúde.

Ela mora na Praia Grande, no litoral de São Paulo, junto com o marido, e diz que não se sente sozinha porque recebe mensagens todos os dias e faz chamadas de vídeo com outros membros da família, mas, mesmo assim, espera ansiosamente por uma vacina contra a doença causada pelo coronavírus.

As viagens e idas à academia foram trocadas pelo jogo de palavras cruzadas. Sair agora só para ir ao mercado e ao médico, sempre de máscara e levando álcool em gel na bolsa. Na manhã de terça-feira, Arminda também se permitiu caminhar na orla da praia. "No dia que dá na telha, eu vou", resume.

"O Edu [marido] acaba de almoçar e dorme até 3, 4 da tarde. Eu fico aqui fazendo palavra cruzada. E dona de casa sempre tem alguma coisa para fazer", descreve sobre a rotina na quarentena.

mudança trazida pelo isolamento imposto para frear a disseminação do novo coronavírus foi ainda mais brusca, já que ela é agitada e costumava aproveitar a vida noturna do bairro de Santana, na zona Norte da capital paulista, onde vive.

"A gente tem se sentido mal. Porque, na realidade, a gente quer sair, passear, mas só vai em mercado e farmácia. Então, a gente entra até em depressão se deixar", desabafa.

"Eu ia no Charles [lanchonete], em bailes. Que eu sou viúva e tenho várias amigas, então eu saía sempre. A gente sente muita falta. Todos os dias tenho falado com elas por vídeo", relata.

Ela confessa que também já foi visitá-las em casa, mas poucas vezes e sempre mantendo o distanciamento e usando máscara. Além disso, há um mês começou a caminhar todas as manhãs na avenida Braz Leme, que fica próxima ao seu apartamento.

"Depois eu cuido dos meus netos para a Priscilla [filha], que também mora aqui no prédio, e ela vai trabalhar. Quando chega [em casa], eu já volto para o meu apartamento, mas na realidade a gente acaba tendo contato, não tem jeito".


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