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Um mês depois, mortes de Vereadora Marielle e Anderson seguem sem solução


R7

Publicada em: 14/04/2018 09:12:17 - Atualizado

BRASIL- Um mês depois dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes no Rio de Janeiro, a polícia ainda não apresentou informações sobre os suspeitos do crime.

Nesse período, muito se especulou sobre as motivações das mortes e o passado da parlamentar, quinta mais votada para a Câmara do Rio de Janeiro nas eleições de 2016.

O caso segue em sigilo, mas a falta de respostas é um fator que preocupa especialistas, movimentos sociais e órgãos como a Anistia Internacional, que nesta sexta-feira (13) emitiu comunicado cobrando resposta rápida das autoridades.

De acordo com a porta-voz do órgão, Renata Neder, a morte de ativistas e defensores dos direitos humanos, como Marielle Franco, pode gerar uma “espiral de medo e silenciamento”.

— Isso não pode acontecer, porque isso seria concretizar tudo aquilo que quem cometeu o crime queria fazer, que era desmobilizar a luta por direitos no país. Por isso é importante que o Estado responda essa pergunta: quem matou Marielle? E por quê?

Anielle Silva, irmã da vereadora, espera que o trabalho seja realizado de forma cuidadosa. Para ela, saber o passo a passo da investigação não alivia a dor da família.

— Não estamos ansiosos em relação a nada porque eu acho que acaba deixando a gente um pouco mais perturbada.

Marielle e Anderson foram assassinados na noite do dia 14 de março, uma quarta-feira, quando voltavam de um evento na Casa das Pretas, na Lapa, onde a vereadora participou de um debate. Em imagens de câmeras de segurança, a polícia identificou ao menos dois carros seguindo o veículo da vereadora.

O crime ocorreu por volta das 21h30, na rua João Paulo I, no Estácio, bairro da região central. No local, não há imagens de câmeras de segurança. Foram cerca de 13 tiros disparados, sendo que quatro acertaram Marielle. A única sobrevivente do crime foi a assessora que acompanhava a vereadora.

As circunstâncias da morte abalaram a família de Marielle, e provoca um período de vazio, segundo Anielle.

— Tá sendo difícil, doloroso, complicado. Tá sendo vazio. A gente está tentando ficar bem, a gente está tentando ficar de pé, mas não é a mesma coisa, nunca vai ser.

Esse vazio é parcialmente preenchido pelas manifestações que tomaram as ruas e as redes sociais após o crime. No dia seguinte à morte, foram realizados atos em todo o país e também no exterior em memória de Marielle e Anderson.

Os atos seguiram ao longo do primeiro mês de morte e, neste sábado (14), outros atos ocorrem pelo país. No Rio, manifestantes refazem o trajeto de Marielle na sua última noite de vida, saindo da Lapa em direção ao local onde o crime ocorreu.

Todo esse apoio recebido deixou Anielle supresa e “acalentada”.

—A gente não esperava essa comoção toda. A gente acompanhava o trabalho dela também, mas a gente não sabia o quanto de pessoas que ela conseguiu atingir. É óbvio que depois da morte, que teve um nível mundial de todo mundo se manifestar, ficou ainda mais visada. Dá uma tristeza pela maneira que foi, pelo momento, mas também acalenta, de uma certa forma, saber que ela conseguiu atingir ao menos um pouco dos objetivos da vida dela.

As manifestações também servem como um meio de pressionar as investigações, conforme avaliou o coordenador do LAV-Uerj (Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Ignacio Cano.

Especulações

O sigilo nas investigações foi anunciado pela Polícia Civil do Rio poucos dias após o crime. Até então, as únicas pistas que haviam sido divulgadas eram sobre a placa do carro dos suspeitos, que os agentes descobriram ser clonada de um veículo de Nova Iguaçu. A investigação também apontou que as munições usadas eram de um lote vendido para a Polícia Federal.

Para Cano, divulgar mais detalhes sobre a investigação pode comprometer o trabalho da polícia. Renata também defende a ideia de Cano e afirma que divulgar informações pode dar pistas a quem cometeu o crime.

— Pode gerar especulação, pode, possivelmente, avisar quem cometeu aquele crime que eles estão no caminho certo e eventualmente a pessoa fugir. Então não necessariamente divulgar informações sobre o andamento detalhado das investigações é positivo.

Outro problema apontado por Renata são as especulações feitas pela população.

— A gente não tem como fazer nenhuma especulação sobre o assassinato da Marielle e é importante que não se faça especulação. Essa resposta precisa ser dada pelo Estado por meio de uma investigação meticulosa, profunda, detalhada, e que esperamos que também seja uma investigação célere, que não seja uma investigação lenta. O papel da sociedade civil não é especular.

Na sexta, a polícia informou, por meio de nota, que “o inquérito sobre este caso segue sob sigilo na Delegacia de Homicídios da Capital. Não temos informações para divulgar à imprensa”.

Cano considera que a investigação é difícil, ainda mais pelos obstáculos encontrados pelos investigadores, como a falta de câmeras no local e a clonagem das placas.

— A gente sabe que a investigação é difícil porque o assassinato foi cometido por profissionais e que portanto não se trata de uma investigação fácil, mas realmente um mês depois sem ter uma linha clara, um avanço, é preocupante.

Esquecimento

Outro ponto positivo da mobilização é que o caso não será esquecido, segundo apontou o sociólogo. Mas caso as respostas não sejam apresentadas nos próximos meses, Cano acha que pode haver uma sensação de impunidade seguida de um desânimo nos manifestantes.

— O caso não vai cair no esquecimento porque tem muita repercussão, até internacional. Agora se não houver respostas na investigação, vai ter um desanimo muito profundo nos movimentos, e um descrédito do governo. O risco é a sensação de impunidade e o desânimo das pessoas que acham que se a Marielle não estava protegida, apesar do nível de visibilidade e da função que ela tinha, então muita gente acha que eles muito menos. E isso gera temor e ansiedade.

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Renata Neder espera que o caso seja tratado com prioridade pelos investigadores.

— Temos que cobrar celeridade, a gente não pode deixar que a investigação se arraste por muito tempo. Por isso a gente está pedindo priorização.

Anielle diz que pretende continuar a luta da irmã e diz esperar que a justiça seja feita.

— Eu espero que as repercussões não parem, espero que não saia impune, como muita coisa no Brasil acaba. E espero de verdade que a justiça seja feita, porque eu acho que o mais importante do que saber quem fez é saber quem mandou fazer.


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