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Com 'ossos de vidro', baiana se forma em psicologia e busca apoio para publicar livro


G1

Publicada em: 16/04/2018 16:05:20 - Atualizado

BRASIL- Aos 51 anos, a psicóloga Glady Maria da Silva, moradora do bairro de Itacaranha, subúrbio de Salvador, comemora uma série de vitórias. Ela conquistou, com muita luta, o diploma de psicologia, a conclusão da primeira pós-graduação e a segunda pós, que está em andamento.

Ela tem osteogênese imperfeita, conhecida como “ossos de vidro" porque causa fragilidade óssea. A condição já trouxe mais de 100 fraturas no corpo, além de limitações de acessibilidade e preconceito, mas acabou transformando Glady em uma pessoa mais forte.

A psicóloga conta a trajetória de convivência com a doença no livro “Minha auto superação”. Salvo em um arquivo de computador, a obra está em fase de revisão e ela, agora, busca parceiros para viabilizar a publicação e realizar mais um sonho. [No vídeo, ela lê um trecho do livro.

Glady guarda memórias de momentos felizes da vida em álbuns de fotografias. São retratos de viagens, convivência com amigos e familiares, que mostram sua personalidade inquieta, que não se deixou limitar pela fragilidade óssea.

As conquistas também são lembradas em classificadores que acumulam documentos, como os diplomas de conclusão da graduação e da primeira pós. São os troféus que ela conquistou com força de vontade e apoio da família.

Dificuldades

Por conta da doença, Glady teve que passar por uma cirurgia em um dos braços há 15 anos. “Quando era novinha, se eu espirrasse, tinha fratura. Aos poucos, fui adquirindo resistência. Graças a Deus, eu fui superando essa fase de tantas fraturas. Não que hoje eu não tenha, posso ter se fizer movimento brusco. Mas eu fui aprendendo a conviver. É o que falo: ‘tem que aprender a viver’”, ensina.

A descoberta da síndrome só ocorreu depois do parto, porque a mãe de Glady, a técnica de enfermagem aposentada Maria Anunciação da Silva, não teve condições financeiras de custear uma ultrassonografia durante a gestação. Após dar à luz, ela percebeu que o bebê tinha uma estatura menor.

No entanto, o diagnóstico de osteogênese imperfeita só veio por meio de um pediatra particular, chamado por ela para ajudar a sair da maternidade onde a filha ficou internada, em um berçário durante cinco dias.

“Ele disse: 'olha, é um caso difícil, a medicina não pode dar jeito, a gente sabe disso, mas ela quer levar a filha dela e vai levar'”, relembra Maria, que acabou assinando um termo para receber alta e levar filha embora do hospital.

Desde então, teve que cuidar dela sozinha, sem ajuda do pai da criança, que segundo ela, não prestou cuidados quando descobriu a doença. Maria recorda que teve que lutar com as escolas para que Glady fosse aceita e pudesse exercer o direito de estudar. Ela também ensinou a filha a lidar com os olhares e comentários preconceituosos.

“O que eu mais tinha medo era de ela ficar depressiva, de ela ver os outros se desenvolvendo e ela não. Eu tentei trabalhar muito com isso. Quando ela tinha uma coisa que machucava e ela falava comigo, eu dizia: 'faça igual a sua mãe, sua mãe também ouve isso e vê, mas entra por um ouvido e sai por outro. Quem lhe olha e faz crítica é porque você é diferente'. Eu só pedia a Deus que ela não visse, mas às vezes, ela via. Eu conversava com ela para que não se deixasse abalar com isso. Eu dizia: ‘Você é inteligente, você é gente, não escute. Veja e faça que não veja’”, rememora Maria.

Acessibilidade

Com cerca de 25 anos, Glady começou a trabalhar, dando aulas de reforço escolar para turmas de crianças. Ela também fazia artesanato, e, aos poucos, conseguiu conquistar mais autonomia pessoal e financeira.

Ela conta que só passou a usar cadeira de rodas quando começou a cursar universidade, porque percebeu que precisava de ainda mais independência. Até então, costumava se movimentar sempre carregada por pessoas conhecidas.

“Porque eu ainda não me via na cadeira de rodas, eu fui criada sempre no braço. Eu não via limitações. Todo mundo fazia tudo comigo no braço e eu nunca me vi nessa condição. Eu aceitei minha cadeira quando eu entrei na instituição. Porque eu sou elétrica. Precisava dessa autonomia. Sabe aquelas decisões que você toma e resolve enfrentar sem saber se vai dar certo ou errado? Eu aceitei minha cadeira”, conta.

Ela teve que pedir para universidade uma cadeira de rodas já que a instituição ainda não oferecia o instrumento de acessibilidade. “Só que a cadeira era adulta, dava 10 de mim. Eu fiquei perdida ali e para acostumar foi difícil. Mas eu agradeci a Deus que pelo menos um avanço eu tive, pior se eu não tivesse nenhum”, diz. Depois disso, ela acabou ganhando uma cadeira adaptada para o seu tamanho, cedida por uma instituição de saúde.


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