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    porto velho, quinta-feira 18 de abril de 2024

“Das crianças ou adolescentes abusadas sexualmente, 70% foram por familiares"

Na capital, cerca de 200 casos/ano são atendidos, entretanto, a violência é a mais sub-notificada, ou seja, a cada um caso, outros dois não são denunciados, revela


Jaqueline Alencar / Rondonoticias

Publicada em: 04/07/2019 11:00:08 - Atualizado

PORTO VELHO RO - O Programa a Voz do Povo, apresentado pelo jornalista e advogado Arimar de Souza Sá ao vivo de segunda-feira à sexta-feira do meio-dia às 13 horas na capital em pela Rádio Caiari 103,1 e pela Antena FM em Rede Estadual, recebeu nessa quarta-feira-feira (03), o psicólogo do CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social, Giovany dos Santos Lima.

No programa, o entrevistado falou sobre: Exploração Sexual Infantil, o que, segundo iniciou explicando, é o que erroneamente se chamava prostituição infantil, pois hoje, há o entendimento de que, só é considerado prostituição quando se tem consciência do que está acontecendo.

De acordo com Giovany Lima, a Organização Internacional do Trabalho trata a exploração sexual de crianças e adolescentes como a pior forma de trabalho existente. Neste sentido, o papel do CREAS, é de disponibilizar um serviço para atendimento as vítimas de exploração e abuso sexual infantil em vários municípios do estado com objetivo de diminuir os danos causados.

Conforme explanado pelo psicólogo, a exploração sexual infantil está vinculada à outras violações de outros direitos como acesso à Escola, atividades esportivas e de lazer, trabalho infantil, e outros que são restritos muitas vezes nos casos  de famílias de baixa renda.

Em Rondônia, a exemplo da maioria dos casos em nível nacional, uma pesquisa de 2012 aponta que as ocorrências acontecem dentro de casa ou próximo à família e acontecem, em sua maioria a partir dos 5 anos de idade.

Quando o mal acontece dentro de casa, por exemplo, o CREAS trabalha a parte de responsabilização, que fica à cargo da Polícia, MP e Justiça; e de atendimento à vitima. “Os danos causados por este tipo de violência é muito grave. É o pior que se pode fazer à uma criança ou um adolescente, pois danifica a auto-estima, a auto-imagem e todos os relacionamentos que ela terá a partir de então”, afirmou.

Sintomas

Conforme Giovany Lima, geralmente uma criança que sofre violência física ou psicológica, apresenta sintomas como comportamento diferenciado. “Se a criança era alegre e gostava de interagir, por exemplo, geralmente ficará retraída, e começa a se isolar, pois é ameaçada pelo agressor que à faz sentir desvalorizada como ser humano e fazendo com que se sinta menosprezada por todos. É importante sempre estar atento a esses sintomas em casa, com vizinhos, pessoas próximas, na Escola...enfim, em lugares às quais ela mais frequenta”, orientou.

Casos

Entre os casos mais frequentes, reforçou, estão os que ocorrem em casa. Em Porto Velho, por exemplo, mencionou, os atendimentos feitos no CREAS mostram que, das vítimas abusadas, 70% foram por parentes ou pessoas muito próximas da família como: pelo padrastos, seguidos por pais e avós.

De acordo com ele, na capital do estado, cerca de 200 casos por ano são atendidos pelo CREAS, entretanto, a exploração sexual, é a violência mais sub-notificada que existe, ou seja, a cada um caso revelado, acredita-se que existam mais dois que não foram denunciados.

Na cidade, complementou, há inclusive casos registrados de famílias que são “patrocinadas” por aliciadores que abusam dos menores com consentimento da família e os índices são maiores na Zona Leste por ser uma região mais populosa, e com percentual maior de famílias de baixa renda, e consequentemente em defasagem escolar.

“Depois do abuso, é que se acontece a exploração sexual. Então hoje, o maior calcanhar é como garantir lares seguros. Mas geralmente a criança elege alguém como de referência para sua confiança, que passa a ter responsabilidade moral de fazer a denúncia”, disse, acrescentando que todos os casos, mesmo de suspeita, até hoje, nenhum foi negativo.

Estupro coletivo

Entre as situações mais marcantes citados por ele no programa e atendidos pelo CREAS de Porto Velho, está o estupro coletivo de uma adolescente, que teve o refrigerante alterado e sofreu abuso de seis adolescentes.

“A Escola negou a primeiro momento que foi na instituição. Mas sempre o depoimento da vítima é considerado. Neste caso mesmo, descobrimos que a vítima já era abusada desde os 8 anos de idade, ao relatar para nós o estupro coletivo como se fosse algo rotineiro”, revelou.

No programa, o psicólogo também orientou os ouvintes no sentido de lidar com situações em que há suspeita de violência como por exemplo, saber dialogar com a vítima de forma que não a afugente ainda mais; como detectar um suspeito abusador e como afastá-lo da família; onde fazer denúncias; casamento infantil, que segundo ele, ainda ocorrem no estado, especialmente em distritos e nas regiões amazônicas; educação sexual nas Escolas; e outros assuntos de interesse de todos, alertando: “a exploração sexual está muito associada à vulnerabilidade social. Portanto, cuidar da criança e do adolescente, é dever de todos e não apenas da família”.

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

A VOZ DO POVO - Entrevista psicólogo do CREAS Giovany dos Santos Lima


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