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Reflexão: O menor abandonado e o desamor dos homens


Arimar Souza de Sá

Publicada em: 20/01/2019 10:51:32 - Atualizado

CRÔNICA DE FIM DE SEMANA
O MENOR ABANDONADO E O DESAMOR DOS HOMENS
- Arimar Souza de Sá

A eterna vigilância é mesmo sócia dos anos. A não vigilância do desamor!

Quando vejo uma criança deitada na calçada, suja, imunda, como fome, encolhendo-se com frio, sinto o desamor universal, uma espécie de freio à dignidade, a dormência humana, vestígios de loucura, e aí, não me calo e lanço o meu protesto.

Quando vejo crianças cheirando cola, esmurrando-se, golpeando-se, levando “porradas” da Polícia, quando deveriam estar sentadas num banco de Escola, constato o desamor dos “Homens”, e é visível a revolta que boliça até as minhas entranhas, e aí, bate a vontade de clamar aos céus...

Quando vejo nos cruzamentos uma criança pedindo um óbolo qualquer, coro de vergonha, sinto ali o desamor que campeia e torna os homens verdadeiros filhos da P...

Quando vejo crianças sob o sol causticante, cuidando carros, lavando carros, brigando por um pequeno espaço para viver e construir o mundo de suas próprias circunstâncias, sinto o desamor dos adultos, dos que silenciam, dos que poderiam mudar o curso dessa história nojenta e nada fizeram e aí, dá vontade de falar o nome desses demônios.

Quando vejo uma criança indo para a Escola, descalça, sem banho, sem o santo café matinal, sinto ali o desamor andando ao vivo e a cores, poluindo os muros da vergonha nacional, vou à loucura, berro, meus olhos faíscam, infelizmente e só...

Quando vejo crianças em bando, assaltando, com o implacável rótulo de trombadinhas, sinto o desamor coletivo a produzir essa imensurável enfermidade social. Logo eu que odeio o “silêncio”, desta vez, apenas baixo a cabeça e misturo-me a multidão covarde que esconde nos intramuros de sua própria vergonha, para dizer apenas: “Cruz credo”.

Sem dúvida, preciso me viabilizar mais como gente. Preciso medrar mais a minha consciência. Ao invés de escrever e criticar, ser apenas um cronista contador de histórias no “Face”, todo sábado à tarde, procurar incentivar mais o cultivo da vigilância cega dos anos, guardar mais partículas de ternuras, e transformá-las em ações concretas em favor desses meninos.

Enquanto não melhoro, vou fazendo assim com as letras que produzo, rogando o alerta dos que me acompanham:

Criança universal,
Que se cria em meio aos lampejos e emoções,
Tu não és pedra, nem lixo, nem deserto,
És gente, sim, gente, gente, como eu, coração, coração.

Deixa me ver-te assim, como há muito tempo te viu Dona Nadir Albuquerque, no Educandário Belisário Pena?
Quero sentir essa doce sensação santificada dos que doam o coração,
Para construir o futuro da terra.

Criança do meu mundo,
Tua aflição, em qualquer canto, é claro que me comove,
Tua alegria também.

Mas enfim, por enquanto, fico apenas com tua alegria,
Associo-me pelo menos nos teus sonhos
Na eterna vigilância que também desprezei, 
Para, de hoje por diante, dar um “dedinho” de contribuição para viveres uma vida melhor.

AMÉM!



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