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CRÔNICA: A Professora e o Tempo - Por: Arimar Souza de Sá


Publicada em: 15/10/2023 13:25:37 - Atualizado

Professora,

Professora,

Professora,

De primeiro, a palmatória, a régua, os castigos no caroço de milho. Uma ponte entre a família, a igreja e a escola, símbolo de uma geração de sonhos na avenida fantástica do tempo.

Tua presença na escola pública ou nos educandários religiosos contribui e colabora fortemente na evolução educacional de nosso país, passando da palmatória aos avanços pedagógicos...

Ainda nos primórdios, professoras leigas (sem formação pedagógica). Mais tarde, já na Era Vargas, as normalistas eram obrigadas a não se casarem até terminar o curso, coisa, aliás, típica do Ditador, que não escapou à crítica dos cariocas no cancioneiro popular.

"Mas a normalista linda não pode casar ainda, só depois que se formar"... (trecho da música normalista).

Mas elas por dever e honestidade é preciso reconhecer: fincaram os primeiros postes de luz no cenário deste chão brasileiro.

Aliás, registra a história, a igreja Católica na sua missão temporal, criou em cada cidade um colégio, no caso de Porto Velho, o Dom Bosco para os homens e o Maria Auxiliadora para as mulheres.

Aprendia-se no internato, além do estudo, a educação básica sobre higiene, disciplina, limpeza pessoal, exercícios, etc.

Na verdade, as famílias acreditavam nos internatos e, neste período, imantou-se a pedra fundamental da educação em Rondônia.

Era o divino tempo em que os filhos obedeciam aos pais e até lhes pediam benção. A obediência era tão forte que os “meninos” entendiam os pais, quando bravos, pelos simples olhares. Aos professores nem se diga.

Via-se no olhar de um menino de 15 anos a pureza das folhas orvalhadas nas matas nos tempos de inverno. Via-se na visão de uma menina da mesma idade, o encantamento dos lírios nos campos. Não havia pecado.

Porque naqueles tempos de humanidade, brigava-se pela inocência, como os artífices das pedras poliam os diamantes, que eram as professoras.

Sinceramente, essas doces criaturas humanas, nos seus verdes dias eram tratadas como as rosas nos jardins e era tanto o amor pelos miúdos que elas dedicavam que os alunos as tinham como suas verdadeiras mamães, enquanto a sadia educação ia se consolidando com garbo e prazer.

Pestalozzi, por exemplo, o educador suíço, pregava que a escola deveria ser uma extensão do lar, como se quisera inspirar-se no ambiente familiar. Para ele, só o amor tinha força salvadora capaz de levar o homem a plena realização moral, isto é, encontrar dentro de si a essência divina que lhe dá liberdade. Dir-se-ia, uma percepção íntegra do ser humano.

Neste imbróglio ainda desenhado pelo suíço, estava a família, a escola e os professores, principalmente os das escolas públicas. Estas sim eram conquistas sagradas.

Mas o tempo passou, carregou o romantismo e alojou no silêncio. Com o descaso dos governos e o flagrante desprestígio à educação, meninos de hoje na escola, muitos deles, não são mais crianças e sim arquétipos, primitivos dos assassinos do futuro, lamentavelmente.

E o professor de regente de um passado idílico, passou a ser regido pelo medo, excluindo do convívio salutar na escola, o diálogo. Antes, de grande amigo dos alunos, vê-se hoje na contingência dar aula olhando para o relógio e o movimento dos meninos agressores, indisciplinados marginais, ainda na mais tenra idade.

O professor, com raras e honrosas exceções, vai hoje à escola para ganhar o pão e, dado o desprestígio que recebe, os resultados de seus ensinamentos ou as condições do ambiente escolar já não lhes pertence mais.

É feio dizer isso, mas num país de tantas mentiras, dizer a verdade nua e crua do ambiente escolar no Brasil é um dever que se nos impõe como cidadãos, partícipes também deste grande conflito.

As mortes de professores, as agressões constantes em sala de aula já fazem parte do cotidiano do país, sem conta de todos nós...

Antes, as normalistas, tinham na sala de aula o seu refúgio e encantamento, hoje, dada ambiguidade de indisciplina e agressões é o lugar onde os professores menos querem estar.

E o pior, é que este não é, definitivamente, um problema de governo, está inserido no busílis do ambiente social, onde os agentes do horror, não se confraternizam, isto é, família e a escola, cada um lavando as mãos como Pilatos. " Alía jacta est"- A sorte está lançada.

Assim, sem família e ambiente escolar adequado, é fácil entender qual homem que estamos produzindo para o mundo, porque neste diapasão, punem-se as famílias, os professores nas escolas e tome a produção de marginais em série. É o Brasil moderno que espanca seu próprio rabo.

Em face deste desregramento, a formatação de monstros, as cadeias estão ficando cada vez mais cheias e no futuro haverá mais juízes, mais soldados nas ruas, mais meninos violentos fumando e vendendo maconha nas portas dos educandários e traficantes a recrutá-los.

Sem morte a esse mal, a “Armageddon” chegará. Mortos haverão por toda parte e os bons seguirão para o céu e os abutres se saciarão dos não escolhidos e a TERRA, E A TERRA... Crestará, até que se descerre a última cortina.

Longe disso, as “professoras”, professoras, por certo, seguirão para o céu com as nossas orações e homenagens.

Amém!

O autor é jornalista e advogado - email: arimardesa@hotmail.com


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