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VIOLÊNCIA: A culpa é da educação? Por Arimar Souza de Sá

Crônica sobre violência produzida pelo Advogado e Jornalista Arimar Souza de Sá


Rondonoticias

Publicada em: 06/11/2017 17:45:44 - Atualizado

Pernoita no imaginário nacional que a violência é gerada pela fragilíssima educação oferecida pelo Estado às crianças.

Se assim fora, o problema seria apenas uma máxima cartesiana e não um nó de elevada complexidade e aparência insuperável, quando o enredo no novelo tenha apenas duas pontas: educação e segurança. Mas não é!

Por que nesse novelo, creiam, pernoitam principalmente o vilão da fome, do desemprego, da corrupção e da falta de planejamento familiar. O modelo de nossas megalópoles, a forma de criação dos municípios, a ausência de mais empresas geradoras de riquezas, menos Estado no eixo da ocupação econômica, a corrupção, a complexidade de nossa constituição, que nem os intelectuais a entendem e, sobretudo, a ausência de estadistas capazes de impor regras mais claras para serem obedecidas.

Na verdade, os aglomerados urbanos, nascidos da transumância (transferência do rural para as cidades) ainda na era Vargas, sem adaptação do homem a outras atividades, traduziram-se num verdadeiro desastre.

Os homens do campo trazidos a fórceps para os centros urbanos criaram dois monstros: a mão-de-obra desqualificada e a falta de moradia, sem se descuidar do fantasma da fome que, àquela época, já vinha rodeando e espremendo a dentadas, a barriga dos que roncavam na calada da noite.

Todos estes fatos relacionados à fome e à educação e, como conseqüência à pobreza absoluta, foram fielmente retratados no livro “Sete palmos de terra e um caixão” do médico sanitarista Josué de Castro, que colocava a fome, já na década de 40, como sendo a grande madrasta do mal deste país.

Consideradas essas assertivas, na ponta do novelo não está, desta feita, apenas a educação como a grande vilã de todos os males, senão a fome que grassa no país dos pobres, estes amontoados que estão em favelas, nos mangues, nos guetos, nos vãos das ruas, a perambular como animais em fuga de sua própria condição humana.

E esta fome que comento, não se revela apenas na falta de comida na hora certa, mas também no asseio dos banheiros das casas na falta de um sapato e de uma camisa, enfim, um trapo para cobrir o lombo. E, diante da coação irresistível, os homens se agitam feito feras em busca de adquiri-los e acabam engrossando as estatísticas das polícias e o débito vai para a educação.

Por outro lado, para os que têm mesas fartas, filhos acariciados com os bens da vida, educar é a segunda necessidade desses humanos. Por isso, os bem-nascidos se educam que é uma maravilha, enquanto que os filhos de pobre, com fome, permanecem burros, nem sequer compreendem o que o professor está explicando na sala de aula. Quando muito, são alfabetizados com os “pés nas costas”.

Educação, não se tem dúvida, se cogita primeiramente é no reino dos lares, com a rígida e respeitosa disciplina dos pais.

Mas como falar do tema em casa, sem pão na mesa? E ai se lê a blasfêmia constitucional: educar é dever do estado (incipiente e devedor), quando deveria ser assim: educar é dever das famílias sob a tutela do Estado. Educação vem de berço, mas com a barriga cheia. E esta condição se adquire com obrigação da oferta pelo Estado.

E vale pergunta: Criança que vai com fome para escola aufere algum aprendizado útil? E por que que a culpa é debitada à educação? Aos denodados professores?

Acontece que nenhum pobre do nosso país leu a Constituição. O sonho do pobre é curto, é de encher o bucho dos filhos para não ouvir à noite o “cró-cró-cró” de barrigas roncando no silêncio da madrugada. Pobre dor em uma cama!

Fome neste país é o maior problema dos centros urbanos, com reflexos puros e diretos na educação e não na segurança pública.

E nesse cenário, há até certo conluio dos detentores do poder na arrecadação clandestina de recursos para campanhas eleitorais, sem se levar em conta a dor das famílias que não têm nem o santo café matinal. Para essa corja, nada com respeito à educação.

No plano geral, nesse “novelo”, há a falta de uma educação maior, mais inteligente por parte do Estado, antes é claro, que os fora da lei não estabeleçam os seus quartéis e quem sabe uma Constituição própria para, no âmbito do desgoverno, impor os seus princípios e dogmas. E aí “babau”.

Vamos, pois, enquanto há tempo, antes de apontar o dedo para a educação como a grande vilã da segurança, cuidar, o quanto antes, da barriga do nosso povo, com a criação de programas vigorosos de segurança alimentar, capazes de imantar a idéia do pleno emprego, que representa, no correr da carruagem, “bóia segura na mesa das famílias” e fluente aprendizado nas escolas.

Se houver barriga cheia com pleno emprego, da educação cuidam as famílias. Primeiramente, eu, tu, ele, todos nós.

E, ao Estado, cabe formatar a magistral parceria na coadjuvância, “lato sensu”, a sadia formação dos meninos, para o enfrentamento de uma vida melhor e menos sofrível que terão pela frente.
AMÉM!


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