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Polícia elucida assassinato de pintor e revela trama de mortes

O homem suspeito de ser o mandante foi assassinado meses depois do crime; suspeito de ser o autor é ambidestro e teria usado duas pistolas


Folha do Sul

Publicada em: 11/10/2019 17:02:14 - Atualizado



VILHENA, RO - A Polícia Civil de Vilhena encerrou na última sexta-feira, 04, as investigações acerca do assassinato, em 29 de maio deste ano, do pintor Marcelo Lucas, de 37 anos. O crime aconteceu em uma obra na Rua Maceió, no bairro 5º BEC, em Vilhena; onde a vítima trabalhava. De acordo com as investigações, dois homens em uma motocicleta chegaram ao endereço, o garupa desceu e disparou diversas vezes contra a vítima que morreu no local.
 
O delegado Núbio Lopes de Oliveira, que comandou as investigações, concedeu entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira, 11, e deu detalhes do caso. Lopes de Oliveira revelou que as investigações apontaram que o mandante do assassinato foi o homem de iniciais D.B.R.,conhecido como “Patrãozinho”, de 28 anos; ele teria contratado M.S.G. , conhecido como “Mau Mau”, de 26 anos, para executar Marcelo. Pelo serviço pagaria R$ 40 mil.
 
Além dos dois, também foram indiciados por participação no crime: A.F.S.J., o “PitBull”, de 26 anos, que segundo as investigações foi quem preparou o ambiente para receber o grupo que veio de Ji-Paraná para matar a vítima;  M.A.S.N., o “Lorota”, de 34 anos, foi o responsável por pilotar a motocicleta; e W.M., conhecido como “Japão” , de 28 anos, que  por não ter ficha criminal, era o responsável por fazer a correria para o grupo.
 
Como tudo começou
De acordo com delegado, para entender o caso, é preciso voltar no tempo até o dia 07 de abril de 2019. Nesta data, em Cacoal, foi assassinado o procurador da Câmara de Vereadores Sidney Soteli. Em razão desse assassinato, e de alguns outros que ocorreram na região de Ministro Andreazza e Cacoal, a Polícia Civil encontrou fortes indícios de que ocorria há tempos, uma briga entre duas famílias daquela região que resultou em diversas mortes. Segundo o delegado, apenas este ano, entre o dia 11 de abril e 29 de maio foram quatro mortes. Entre elas a de Sidney Soteli e Marcelo Lucas.
 
Segundo Lopes de Oliveiras, as investigações indicam que Marcelo Lucas seria o “mão de ferro” de Sidney e teria comentado no mundo do crime que iria matar “Patrãozinho” a mando de Sidney Soteli.
 
Mas, “Patrãozinho” teria descoberto as ameaças e agido antes. As investigações da Polícia Civil de Cacoal apontam “Patrãozinho” como mandante do assassinato de Sidney.  “Quando ele conseguiu matar Sidney Soteli, ele quis eliminar qualquer possibilidade de alguém fazer uma vingança contra ele. E quem era um dos homens que fazia os serviços para o Soteli? O Marcelo”, disse o delegado.
 
A mudança
 
A polícia apurou que Marcelo estava em Vilhena a menos de cinco meses. Ele havia se mudado para a maior cidade do Cone Sul, para onde pediu transferência de cumprimento de pena, em janeiro de 2019. Antes disse ele morava em Ji-Paraná.
 
A mudança de Marcelo dificultou os planos de “Patrãozinho” que precisou fazer, segundo o delegado, um trabalho de investigação para localizá-lo.  “Ele conseguiu levantar através de advogado as informações do paradeiro de Marcelo. Ele sabia que ele estava cumprindo pena em Vilhena, mas a cidade é grande, e seria difícil encontrá-lo”, pontuou o delegado antes de explicar: “As investigações apuraram que eles fizeram uma consulta no Ministério do Trabalho e descobriram o vínculo empregatício da esposa de Marcelo”, afirmou.  
 
Com essa informação, segundo o delegado, quando o grupo veio para Vilhena, um deles se passou por cliente da loja aonde a esposa de Marcelo trabalhava, para confirmação que se tratava realmente dela. Quando ela saiu eles a seguiram, descobriram a morada dela e viram Marcelo chegando.Depois o seguiram até o local de trabalho e com essas informações planejaram e executaram a ação.
 
Veículos e armas
 
As investigações apuraram que além da motocicleta usada no dia do crime, outros dois veículos foram usados no apoio: um Toyota Corolla e um Ford Ka. O grupo também usou duas casas. Uma aonde eles se refugiavam, e outra aonde eles guardavam os veículos.
As investigações também confirmaram que após o crime, o grupo retornou para a região central do estado levando no bagageiro do Ford Ka uma arsenal composto de um fuzil, uma submetralhadora, uma granada, duas pistolas, dois coletes a prova de balas, algemas e munições.
 
A prisão de parte dos envolvidos
 
Dias após o assassinato em Vilhena, o cumprimento de um mandado de busca e apreensão em uma residência na cidade de Cacoal prendeu a trio Mau Mau, Lorota e Japão. Na casa encontraram o Ford Ka e as armas. PitBull também foi preso a pedido da polícia de Vilhena.  
 
Com a apreensão das armas, e a suspeita dos homens presos em Cacoal terem envolvimentos  no homicídio em Vilhena, foi solicitado o exame de balística que confirmou que as balas que mataram eram das pistolas apreendidas com o grupo em Cacoal.
 
Ambidestro
 
O depoimento do homem conhecido como “Mau Mau”, apontado como o executor de Marcelo, e que é suspeito de também ter assassinado o procurador da Câmara de Vereadores de Cacoal, foi fundamental para elucidar um ponto obscuro no crime praticado em Vilhena. A perícia encontrou na cena do crime, projéteis de duas armas. Mas, as testemunhas afirmaram que apenas um homem desceu da moto atirando, o outro ficou esperando no veículo para dar fuga.
Ocorre que durante o depoimento de Mau Mau quando lhe foi questionado porque ele andava com tantas armas, ele disse que usava duas pistolas. O promotor teria insistido e questionado  como ele atiraria com duas armas ao mesmo tempo e ele teria respondido: “sou ambidestro, atiro com as duas mãos ao mesmo tempo”.
 
A ficha do executor
 
Foi também durante a audiência que Mau Mau declinou seu currículo. De acordo com ele, já cumpriu pena nos presídio de Rolim de Moura, Porto Velho, Cacoal e Ji-Paraná, pelos crimes de homicídio, latrocínio, sequestro, porte de arma, tráfico internacional de armas, assalto e extorsão.
 
A morte do mandante
 
Na madrugada do dia 1º de agosto, aproximadamente 90 dias após o assassinato em Vilhena, homens invadiram a casa de “Patrãozinho” em Ministro Andreazza e o mataram a tiros ao lado do irmão.


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