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    porto velho, sábado 20 de abril de 2024

Discernimento e foco - escrito por Andrey Cavalcante - presidente da OAB/RO

“O futuro tem muitos nomes: para os fracos é o inalcançável; para os temerosos, o desconhecido; para os valentes é a oportunidade”


*Andrey Cavalcante

Publicada em: 01/10/2018 09:54:30 - Atualizado

A partir de agora, o futuro. Busquei inspiração em Victor-Marie Hugo para abrir, esta semana, a saudação aos novos advogados e advogadas, na solenidade de entrega de credenciais promovida pela OAB Rondônia. Disse Hugo que “O futuro tem muitos nomes: para os fracos é o inalcançável; para os temerosos, o desconhecido; para os valentes é a oportunidade”. Atitude e decisão, discernimento e foco. Estão aí os fundamentos para a condução do destino de cada um. É claro que cada um dos novos colegas, cuja vitória em mais esta etapa de sua trajetória comemoramos, conhece bem o valor e a importância prática dessas expressões.

Foram atributos indispensáveis para sua condução individual até às credenciais que agora recebem. E continuarão a ser, em sua caminhada na direção do que o futuro lhes reserva. Fundamentais inclusive para o país, especialmente nesse momento eleitoral conturbado da vida nacional, em que a racionalidade é desprezada em favor de paixões exacerbadas. Lembrei Robert Beno Cialdini, professor emérito de Psicologia e Marketing na Universidade do Estado do Arizona e autor de “As Armas da Persuasão”, que disse: “Com freqüência, imaginamos os adolescentes como rebeldes com ideias próprias. É importante reconhecer, porém, que normalmente isso se aplica apenas em relação aos seus pais. Em meio aos seus semelhantes eles se sujeitam em massa ao que dita a aprovação social”.

Trata-se do conhecido efeito manada, no qual discernimento e foco são dispensados assim como o é a tarefa de pensar. Acontece com freqüência nas salas de embarque dos aeroportos. Basta que uma pessoa pare em frente ao portão, ainda que sem qualquer indicativo do início do embarque, para que de imediato uma fila se forme. É até engraçado, porque começou, não pára mais. Também está acontecendo, de forma muito mais acentuada, nesta campanha eleitoral. Todos os eleitores, a não ser por uma minoria oportunista, querem, de uma forma ou de outra, o melhor para o país. O problema começa quando o radicalismo e a intolerância estabelecem ser o seu o único caminho correto. As religiões são o melhor exemplo. Praticamente todas louvam o mesmo Deus. Quantas tragédias já não foram produzidas, no entanto, em nome do que se imagina ser o melhor caminho para chegar a Ele?

O professor Jerônimo Mendes, especialista em Desenvolvimento Pessoal e Profissional esclarece que discernimento pode parecer uma palavra complexa e talvez não se tenha a definição na ponta da língua, mas o conceito é simples. Obviamente, sob determinado juízo de valor, fruto de modelos mentais previamente estabelecidos, ninguém quer abrir mão de nada e, por conta disso, os relacionamentos se deterioram, a violência aumenta, os casamentos desmoronam, os filhos se revoltam e o ambiente de trabalho se transforma em palco de disputas, inveja, ganância e competição desenfreada.

Na verdade, bem ou mal, certo ou errado, bom ou ruim, melhor ou pior, puro ou impuro são conceitos que dependem exclusivamente da sua escala de valores pessoais. Não podemos estar certos nem errados o tempo todo, portanto, discernimento é uma qualidade imprescindível para o crescimento pessoal e profissional das pessoas em qualquer parte do mundo. Discernimento nada mais é do que a capacidade de respeitar o ponto de vista alheio sem deixar que isso interfira em seu modo de pensar ou provoque qualquer juízo de valor equivocado a respeito do seu interlocutor. Discernimento é a capacidade de respeitar a opinião, o modo de vida, a religião e a argumentação alheia.

Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos. Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação. Esse é, em síntese, o pensamento da OAB, Casa à qual os novos advogados e advogadas que acolhemos em nossa Casa para fortalecê-la ainda mais, com seu vigor e ideais. Todos os novos advogados podem ter certeza de que nossa instituição se revigora a partir de seu ingresso.

*Andrey Cavalcante é presidente da OAB/RO


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