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Deputados presos em operação da PF no AC teriam desviado mais de R$ 1,5 milhão

Operação 'Santinhos' deflagrada nessa terça-feira cumpriu 17 mandados de busca e apreensão em residências e gabinetes


G1 AC

Publicada em: 12/12/2018 11:52:53 - Atualizado

Rio Branco AC
- Os deputados estadual e federal eleitos na última eleição, Doutora Juliana e Manuel Marcos, ambos do PRB, teriam desviado mais de R$ 1,5 milhão do fundo eleitoral. A informação foi divulgada pela Polícia Federal do Acre (PF), que deflagrou a Operação Santinhos nessa terça-feira (11) em Rio Branco.

O G1 tentou ouvir assessores e também o advogado dos parlamentares, mas até esta publicação não obteve retorno.

Os dois deputados e mais seis pessoas foram presas preventivamente. Entre os presos está o diretor do Procon do Acre e filho de Juliana, Diego Rodrigues também Yargo Rodrigues, também filho da deputada. Eles devem responder por crimes de peculato, associação criminosa, compra de votos e lavagem de dinheiro.

Ao todo, foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão em casas e gabinetes de investigados e também na Câmara de Vereadores e na Assembleia Legislativa do estado do Acre (Aleac).

Durante o cumprimento dos mandados, a polícia apreendeu computadores e documentos relacionados a investigação. Além disso, foi achada uma arma de fogo, acessórios e munições de uso registro restrito na casa do diretor do Procon. Ele também deve ser indiciado por ameaça e coação de testemunhas e porte ilegal de arma de fogo.

O diretor do Procon chegou a ser preso no primeiro turno das eleições 2018 com uma quantia em dinheiro escondida dentro do carro.

Empresa de fachada
Thaisson de Souza Maciel foi um dos oito presos na operação. De acordo com a polícia, ele seria um laranja, dono de uma empresa de fachada usada para desviar os recursos públicos. A mulher dele também foi presa.

Conforme a Polícia Federal, somente no período do primeiro turno das eleições 2018, Maciel teria sacado mais de R$ 500 mil em espécie. Imagens de câmeras de segurança de um banco em Rio Branco mostram o suspeito fazendo vários saques por dia de valores próximos a R$ 50 mil. Um funcionário do banco também está sendo investigado.

Compra de votos

O valor desviado pelo grupo foi usado, de acordo com a polícia, para caixa dois eleitoral, para compra de votos e parte foi apropriado pelo grupo. O chefe da delegacia de Defesa Institucional, Eduardo Maneta, informou que, para justificar o desvio do dinheiro, a empresa de fachada emitiu várias notas frias.

“A Polícia Federal constatou que mais de R$ 1,5 milhão do fundo eleitoral foram desviados ilicitamente para uma empresa de fachada que estava em nome de um laranja. Ele emprestava o nome para esse grupo criminoso para que recursos públicos fossem desviados em nome do interesse de integrantes do Partido Republicano Brasileiro do Acre [PRB-AC]”, disse o delegado.

Candidatas mulheres para receber mais recursos

Durante as investigações, a polícia contatou que o PRB-AC lançou a candidatura de mulheres apenas para atingir o percentual mínimo de 30% e receber mais recursos do fundo partidário eleitoral. Três candidatas foram ouvidas como testemunhas e disseram que familiares mais próximos sequer sabiam que elas eram candidatas.

“Então, foi mais um esquema arquitetado pelo partido para lançar a candidatura dessas mulheres, receber ainda mais recursos do fundo e desviar para empresa de fachada. Para se ter uma ideia, uma das candidatas teve seis votos, outra teve quatro votos e uma teve um único voto”, disse o delegado.

Conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral, a candidata pelo PRB-AC Denise Rocha, recebeu seis votos, Francisca Marques recebeu quatro votos e Vanusa Correia teve um voto.

Governador intimado

O governador Tião Viana foi intimado a depor durante a Operação Santinho. De acordo com a Polícia Federal, Viana e outros dois secretários foram intimados para explicaram o porquê da nomeação de Thaysson de Souza Maciel, preso por desvio de fundo eleitoral.

Em nota, o governador informou que recebeu a equipe da Polícia Federal em seu gabinete e foi “convidado” a colaborar com a investigação, na Operação Santinhos, como testemunha. Segundo o governo, a equipe da polícia informou que o governador não está sendo investigado.

"Tião Viana se colocou imediatamente à disposição da instituição. O governador, antes da eleição, esteve cinco vezes na Polícia Federal, alertando sobre a violenta compra de votos que estava ocorrendo, inclusive, com envolvimento de organizações criminosas. O governador Tião Viana tem a trajetória na vida pública marcada pela defesa da transparência, da ética e do combate à corrupção", diz em nota.

Impedimento de diplomação

A Procuradoria Regional Eleitoral afirmou que vai ingressar com ação de investigação judicial eleitoral perante o Tribunal Regional Eleitoral. De acordo com o procurador Vitor Teodoro, o objetivo é evitar que os parlamentares presos na operação sejam diplomados no próximo dia 19 de dezembro.

“A Procuradoria Regional também tem intenção de ingressão com ação para apurar a arrecadação irregular e os gastos de forma irregular dos recursos oriundos dos fundos. Também vamos abrir ação para investigar a compra de votos. Todas visando impedir a diplomação dos parlamentares”, disse o procurador.

Teodoro destacou que, caso os parlamentares percam a diplomação, pelo código eleitoral, os votos que eles receberam, vão para o segundo candidato mais votado dentro do partido.

“Também vamos analisar entrar com ação de improbidade administrativa, que seria para tentar reaver os valores que foram desviados”, concluiu Teodoro.

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