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Morre jornalista e poeta TT Catalão, aos 71 anos

Jornalista, poeta e militante cultural deixa um legado de resistência e amor à Brasília


Correio Braziliense

Publicada em: 02/01/2020 09:16:43 - Atualizado

BRASÍLIA - Morreu, na madrugada de quinta-feira (2/1), por volta das 2h30, o poeta Vanderlei dos Santos Catalão, o TT Catalão, aos 71 anos. Jornalista, letrista, músico e ativista cultural morava na capital federal desde 1972. A trajetória dele se confunde com a história de Brasília. Chegou a ser figura de destaque no extinto Ministério da Cultura (MinC), durante o governo Lula. Ele foi um dos mentores da construção coletiva do Programa Cultura Viva, um dos projetos mais bem avaliados do Ministério.

TT Catalão morava no Rio de Janeiro, produzindo reportagens para a revista O Cruzeiro, quando recebeu o convite para vir a Brasília. Foi chamado para se tornar um dos instrumentistas da banda de rock Portal, e aceitou. Aqui, encontrou as pessoas vivendo a cidade, uma grande comunidade tão sonhada por Oscar Niemeyer. “(A cidade) Não tinha uma fronteira, uma divisa muito delineada. Eram pessoas, em tribo mesmo, que experimentaram a cidade enquanto espaço público. Isso é uma coisa muito importante. Não ficava uma cidade tão sitiada nos seus guetos, nos seus ‘quadrados’, que isola. As pessoas tinham a sensação de viver uma cidade comum”, comentou, em abril passado ao programa Natureza Viva, da Rádio EBC.

A vida na Brasília que buscava uma identidade serviu de inspiração ao poeta, que logo se instalou na redação do Correio Braziliense, ainda em 1976. Dividiu a vida de jornalista com a de artista, se envolvendo diariamente no meio cultural da cidade. Logo se tornou referência. Em 1978, coeditou e organizou suplementos e performances na Mostra do Horror Nacional, com José Mojica, Fernando Lemos, Ivan Cardoso, Elyseu Visconti e Júlio Bressane, em reação à censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

TT Catalão também participou do clássico filme Idade da Terra, de Glauber Rocha, lançado em 1980. Em 1987, criou a política de bolsas de estudos culturais e, dois anos depois, fundou e se tornou o primeiro presidente eleito do Conselho de Cultura do Distrito Federal. Em 1993, criou e geriu o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, pela Secretaria de Cultura. À época, mantinha as atividades do local até a meia-noite. Ele permaneceu à frente do espaço até 1997.

Entre os anos de 1997 e 2003, foi o editor de Pesquisa e Informação do Correio. Nesse período, trabalhou como consultor de conteúdo para o programa Cultura Ponto a Ponto, abordando sobre a cultura popular brasileira. A exibição era realizada pela TVE-Rio e pela TV Cultura-SP e, depois, acrescido para o laboratório Cultura Viva de Cinema e Vídeo com os Pontos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Cultura viva


No Governo do Distrito Federal, assumiu a chefia de gabinete da Fundação Cultural na primeira gestão pós-ditadura. Entre 2007 e 2008, tornou-se o subsecretário de Políticas Culturais e teve papel fundamental na aprovação da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do DF, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Em 2010, assumiu a Secretaria de Programas e Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), auxiliando a implantação do Programa Cultura Viva como uma polícia de Estado, em 2014.

TT Catalão também foi colaborador do primeiro blog do Noblat, do projeto Açougue Literário T-Bone, do BraXil, da Cultura Digital, e da Revista Raiz-SP, sobre cultura popular. Durante 2003 e 2006, participou do quadro Crônicas da Cidade, aos sábados, no DFTV.

Faça como ele

TT Catalão criou uma das capas mais icônicas do Correio Braziliense, publicada em 23 de janeiro de 1998. Com a manchete “Faça como eles, não faça como eles”, a primeira página do jornal destacava o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, e a então deputada federal Marta Suplicy atravessando fora do equipamento de segurança instalado em via próxima ao Palácio do Buriti. O flagrante fotográfico aparecia abaixo da imagem de capa do álbum Abbey Road, dos Beatles. Dessa forma, o Correio marcava a entrada em vigor do novo Código de Trânsito Brasileiro, dois anos após campanha de paz no trânsito liderada pelo jornal.




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