• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, sábado 20 de abril de 2024

O Coronavírus e a Administração Pública - Por George Braga

" Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda" Sigmund Freud


GEORGE BRAGA

Publicada em: 27/03/2020 09:47:46 - Atualizado

PORTO VELHO-RO: Como sobreviver ao vírus? Quais as consequências ?
Leio sobre o passado para entender o presente e tentar prever esse Deus louco que é o futuro. Mas quase nada é novo. Tudo se repete, obviamente, com mudanças mas o cerne é o mesmo.

Muitas vezes o mal traz o bem de algumas formas:

Na idade média, no período da transição, Boccaccio escreve Decameron, que significa dez jornadas, onde um grupo de sete moças e três rapazes se isolam a fugir da peste negra e escrevem contos de amor, eróticos e trágicos, vindo a marcar a saída da escuridão do homem medieval.

Já  em relação às teorias sobre a origem da caipirinha, durante a gripe espanhola no Brasil, existem várias. Mas prefiro ficar com aquela que diz que durante o surto da gripe espanhola, aqui em terras tupiniquins, o brasileiro como uma forma de evitar a doença, fazia um mexido de limão, alho e mel e acrescentava álcool, este para fazer efeito mais rápido. 

Quando acabou o álcool, colocaram a cachaça e retiraram o alho e mel e acrescentando, ao final, o açúcar, e aí diz a lenda que nasceu a caipirinha. Não esquecer que essa doença ( gripe espanhola) foi tão forte e isonômica que levou a vida de nosso então Presidente da República Rodrigues Alves.

Depois, na primeira e segunda guerras mundiais, os agrotóxicos, uma descoberta da primeira guerra, foram utilizados como arma química na segunda. Embora hoje, se utilizado em nível demasiado, demonstre ser agressivo ao ser humano, à  época,  a descoberta de poder livrar a humanidade  de todas as pestes e pragas da lavoura,  foi bem propagada e largamente aceita. 

Somente depois, com o aprofundamento dos estudos científicos, saberíamos de suas consequências para a saúde do homem e do meio ambiente.
Esses são alguns exemplos de sofrimento e descobertas sobre os quais o tempo vem dizendo algo.

E  a verdade é  que, para nós,  é muito difícil trocar hábitos. Mudar modelos de gestão ou de vida. Somente uma guerra, uma doença ou uma grande descoberta pode abreviar isso, circunstância que me parece acontecerá, mais à  frente com o serviço público em suas diversas esferas ( federal, estadual e municipal).

Depois que passar essa crise do coronavírus, vamos perceber que muitos dos servidores podem trabalhar e produzir em casa. Vamos perceber, talvez, que muitos desses servidores pela própria natureza técnica de seus trabalhos via sistemas informatizados, produzem mais e melhor com mais felicidade e mais barato que no seu ambiente normal de trabalho.
Isso, claro, desde que se imponha uma métrica. Prazo estabelecido, meta claras e condutores da ação. Planejar, agir,  controlar e corrigir. Se o Estado agir assim, seremos mais e melhor  atendidos.

A permanecer esse trabalho na casa do servidor, alguns bilhões de reais podem ser economizados pelos Estados, municípios e União, pois a construção e a manutenção de prédios públicos, assim como despesas com aluguéis, contratos de vigilância, limpeza, água, energia, telefone, internet e outros insumos não ocorreriam mais, uma vez que, ao final, terminaria ficando por conta dos servidores.

Assim, penso que se o Estado agir com controle do trabalho, da produtividade e qualidade nesse novo modelo, poderemos passar para um outro nível de atendimento e toda a economia de alguns bilhões poderá ser voltada para infraestrutura, saúde, educação e segurança, problemas críticos desse nosso imenso e lindo Brasil.

É óbvio que algumas profissões não poderão ser por home office ou teletrabalho, como ações de médicos, enfermeiros, algumas ações do advogado, cuidadores de crianças e idosos etc, mas naquilo que puder ser feito, o Estado deve assim proceder na gestão pública, primando pela economia, rapidez e qualidade dos serviços  prestados.

Assim sendo, mesmo com essa pandemia, após o término do ciclo da doença, penso que esse modelo de trabalho poderá ser a mudança do serviço público brasileiro. 

Esse " virar de chave" pode mudar o hábito e a forma de vivermos e trabalharmos. Para sempre? 
O tempo dirá.


George Braga, servidor do TRT 14 Região e ex Secretário de Planejamento do Estado de Rondônia





Fale conosco