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Desigualdade social, exclusão e subdesenvolvimento: o desafio central da sociedade brasileira


Por Leno Danner

07/10/2019 08:58:11 - Atualizado

O Brasil é uma sociedade marcada por grande desigualdade social, que acaba impedindo o desenvolvimento cultural das pessoas e, com isso, a própria industrialização ampla de nossa economia, o que, por sua vez, retroage no âmbito da própria sociedade em termos de estagnação econômica, baixa mobilidade social, miséria, marginalização e exclusão.

Segundo dados recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, 23,9 por cento das famílias brasileiras vivem com renda média de 1.245 reais mensais. Levando-se em conta que cada família é em geral constituída por pelo menos três pessoas e de que, nesse valor, estão embutidos rendimentos do trabalho, transferências de renda (pensão, aposentadoria e programas de assistência) e rendimentos não-monetários (produção para o próprio consumo e doações recebidas de produtos e serviços), esse valor decresce mais ainda, chegando a no máximo 60 por cento do valor acima comentado.

Ou seja, nossa renda familiar é baixíssima e impede o acesso da maior parte das famílias a condições materiais dignas para sua vida e, principalmente, ao capital cultural determinante para nossa sociedade, que permite que pais, mães e filhos/as possam desenvolver suas habilidades e potencialidades e aperfeiçoarem-se intelectualmente a partir da aquisição desse arcabouço intelectual que é fundamental em termos de mobilidade social e de acesso a boas oportunidades de formação e de trabalho – incluindo-se a própria maturidade cultural necessária a uma democracia.

Com uma renda tão baixa, portanto, pelo menos um quarto das famílias brasileiras simplesmente não consegue ter acesso aos itens mais básicos para a sobrevivência e definitivamente estão fora das possibilidades de acesso e de usufruto do capital cultural que é necessário para seu desenvolvimento cognitivo e cultural e para a viabilização de suas oportunidades de ascensão social. Nasceram, por assim dizer, em uma posição social que não lhes permitirá o mínimo de mobilidade social, nem para seus filhos e possivelmente netos. Nasceram para ser pobres, condenados à exclusão, à marginalização e ao subdesenvolvimento permanentes e pungentes, por assim dizer – embora isso seja uma questão política, e não uma imposição biológica.

É nesse sentido que a sociedade brasileira precisa conscientizar-se de duas questões fundamentais para a tematização e o enfrentamento dessa gravíssima situação: a primeira delas diz respeito ao fato de que nosso grande gargalo sociopolítico é a desigualdade, a miséria, a marginalização e a exclusão de um contingente populacional muito alto, situação que impede não apenas seu desenvolvimento e sua inclusão, mas também o próprio desenvolvimento de nossa sociedade e o fortalecimento de suas instituições democráticas; e, segunda, de que o poder público deve ter uma atuação mais incisiva em termos de políticas públicas de inclusão e de formação sociais, no sentido de garantir acesso da população a esse capital cultural de que falei ao longo do texto.

As pessoas precisam ter acesso à – e aprendizado da – cultura científica, tecnológica e humanística que constitui o âmago de uma sociedade democrática moderna e que permite concomitantemente (a) o desenvolvimento intelectual-cognitivo e político-cultural necessário para a vida social, bem como (b) a apropriação de formação científico-tecnológica básica que capacite os cidadãos e as cidadãs ao mercado de trabalho, permitindo-lhes valorização salarial e mobilidade social consequente. 

Ademais, é urgente o investimento do Estado em infraestrutura produtiva, capacitação laboral e educação pública de qualidade. Estes são fatores que se ligam diretamente à ideia do capital cultural como um objetivo-chave da vida democrática, que deve ser acessível a todos. Sobretudo, para que isso efetivamente se consolide, é importante que todos tenhamos em mente que, em uma sociedade subdesenvolvida como a nossa, de baixa formação cultural e de fraco protagonismo econômico, são as instituições públicas de um modo geral e o Estado em particular que se tornam as instituições centrais em termos de superação da desigualdade, de retirada das pessoas de situações de marginalização e de exclusão, bem como de fomento da industrialização, da ciência e da tecnologia que são fundamentais para o desenvolvimento de nossa sociedade.


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