• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, sexta-feira 26 de abril de 2024

Crônica de Fim de Semana - As tragédias - por Arimar Souza de Sá

“Há entre o céu e a terra mistérios que desconhecemos” - Jhonatas


Arimar de Souza Sá

Publicada em: 16/02/2019 11:54:25 - Atualizado

As tragédias

“Há entre o céu e a terra mistérios que desconhecemos” - Jhonatas

RONDÔNIA, BRASIL - Na cultura das letras há sábios que ensinam que a terra se cura de “per se”, (por si só), porque a natureza é Deus procurando caminhos para sobreviver aos solavancos.

Na prática, isso significa dizer, que nada acontece sem uma causa geradora. Ou seja, os efeitos migram, em decorrência da ação deletéria dos homens, que sob a égide da ganância de muitos e má gestão pública, às escancaras, diuturnamente batem na cara da Natureza e ela se vinga...

Vale registrar que a América do Sul, é a parte da terra mais rica em minérios, terras aráveis, água em abundância, como registrou Eduardo Galeano em seu livro memorável: “As Veias Abertas da América Latina”: Somos, desde o ciclo colonial, um espaço de depredação dos estrangeiros.

Verdade ou não, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, possuímos mananciais fantásticos de riquezas naturais, cuja gerência, infelizmente, encontra-se nas mãos do capital estrangeiro, e como “capital” não tem face e nem alma, Mariana e Brumadinho são, apenas, pontas de um Iceberg cujo tamanho ninguém soube até hoje mensurar.

As mortes dos pobres no atoleiro que se formou em Brumadinho, são apenas um mero detalhe para a VALE. Na verdade, o capitalismo selvagem gostaria mesmo era de soterrar todos os brasileiros e, solenemente, por sobre o aterro, fincar cruzes brancas sobre o solo para lembrar os soldados da maior guerra do mundo.

Tais fatos, no entanto, nas redes sociais deram ao ano de 2.019, que apenas começou o título de grande vilão. Não! Não creio, nem culparei o ano de 2019 pelas tragédias. O ano que se inicia, a meu ver, da graça de Jesus Cristo, é apenas o escoadouro da multiplicidade de erros, equívocos, ganâncias e omissões gestadas há várias décadas.

E o pior, é que, se não cuidar, haverá outras tragédias. E que não sejam nucleares como a que ocorreu em Chernobil na Rússia. Pasmem! Se no Brasil não temos fiscalização para coibir os maus feitos de uma pequena barragem, como iremos estar seguros diante de uma explosão numa usina nuclear. Queira Deus nunca aconteça!

Quanto às enchentes do Rio de Janeiro, creiam, não são tragédias, senão consequências de um Estado acéfalo de autoridade, onde quem manda é o crime organizado e as milícias. A Prefeitura diz: - não pode construir nas encostas! As milícias respondem: - podem construir! E a segunda opção vence sem a menor cerimônia.

A Bahia de Guanabara, por exemplo, cartão postal do Rio de Janeiro, é um “bosteiro” só. Defecaram nos rios, no mar, na ética, nos costumes, tudo próprio um Estado lascivo quase impossível de consertar. O carioca é gozador, mas “cagando” é o maior predador da terra. Então, não há tragédias no Rio de Janeiro, há sim uma terra minada de horrores pronta para explodir, diante da paisagem monumental de mar, praias e montanhas.

Vejam o que aconteceu no ninho do urubu: Um festival de horrores, tudo improvisado. Sem vigilância, alojados em container, jovens em busca de um sonho, se amontoavam como vacas nos cercados. Na verdade, apenas um comboio mentes juvenis, servindo como iscas de contratos milionários com o exterior.

Ora, aonde cabe, um time de profissionais como o Flamengo, com um alojamento sórdido abrigando pessoas fragilizadas, a maioria de famílias pobres, à busca de um espaço nos arranjos dos céus futebolísticos.

É bom dizer que o Rio de Janeiro pela falta de autoridade, transformou-se no estaleiro do inferno. Por lá, cada capeta gerencia o seu espaço sem preocupação alguma com o coletivo. Então, tudo que aconteceu em terras fluminenses, não foi tragédia, foi puro descaso e vai ficar na impunidade.

Por outro lado, nos espaços de discussões das questões deletérias do país, os recentes assédios às mulheres, o feminicídio, entre outros, são todos acontecimentos que foram gestados nos anos anteriores. Portanto, isso não é tragédia, é desgoverno.

Aqui em Rondônia mesmo, se as águas diluviais romperem as comportas das Usinas do Rio Madeira, haverá tristezas e ranger de dentes ante à uma tragédia anunciada.

Como visto, até agora, ninguém se levantou para cuidar do nosso mal. O Governo e a classe política silentes dão o tom do desapreço a tamanho descalabro que anda por um fio no fundo de nosso quintal.

Por fim, neste embate constante, entre natureza e homem, homem e meio ambiente, infelizmente haverá outras tragédias porque a terra, se corrige de “per se” para sobreviver ao caos produzido pelos homens, anos a fio, até o fim do mundo.

Antes da dor, que haja, pelo ao menos, decência!

AMÉM!


Fale conosco