• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, sexta-feira 26 de abril de 2024

BR 364 – AS TRAGÉDIAS E A RODOVIA DA ESPERANÇA – Por: Arimar Souza de Sá


Publicada em: 13/07/2019 13:38:03 - Atualizado

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé e atividades ao ar livre

Hoje, eu estou “esvaziado” de assuntos. Resolvi, então, devanear, pegar a estrada da imaginação e ir embora...

Na verdade, talvez eu quisesse estar de porre, tipo o Lula na Granja do Torto, nos tempos de presidente, ou quem sabe ser um pai de santo para abrir todos os caminhos. Infelizmente não bebo, e não me avizinho das coisas das divindades. Sou abstêmio, de um lado, e de outro, um descrente, graças a Deus!

Quero, nessa caminhada, olhando por todas as vitrines, que a minha descrença alcance os patamares últimos das tragédias shakespearianas.

Não! Não falo de Hamlet, Otelo ou de Romeu e Julieta, mas nessa viagem, de repente, toda a saga shakespeariana chegou aos meus ouvidos, por vozes e tragédias humanas, por todos os séculos...

Recordei dos campos de concentração na Alemanha de Hitler e do genocídio do povo judeu; a bravura e morte de Antônio João, na guerra do Paraguai: “Sei que morro, mas o meu sangue e de meus companheiros servirão como protesto solene aos invasores de minha pátria.”

Aflijo-me, só de imaginar as experiências com os humanos nos laboratórios nazistas, e as bombas americanas em Hiroxima e Nagasaki.

Ah, meu Deus! Estou lendo o livro das tragédias e infortúnios, tragédias da natureza e tragédias anunciadas no desmonte histórico das mazelas humanas. São muitas e tantas que, se contadas, até o anjo São Gabriel subiria aos céus para pedir clemências a Deus.

Para ser recente, gostaria de inspiração para resolver a tragédia de Brumadinho, enfiar-me na lama para poder sentir na alma os horrores do fim do mundo vividos por aquela gente inocente.

Como disse, sou descrente, mas não me curvo às tempestades da covardia humana, aquela que solapa e come a vagina da terra, que ceifa esperanças e mata de forma atroz pela invigilância de todos nós.

Meus patrícios rondonienses: sou ainda de velhos e tenebrosos tempos nestes confins insólitos da pátria. Sou do tempo em que éramos duas cidades encavaladas na solidão do plexo amazônico – Porto Velho e Guajará-Mirim – onde existia apenas, como riqueza, a borracha nativa, na velha e rudimentar forma de extração do leite da hevea brasiliensis, a nossa seringueira.

Tempo dos paneiros de farinha vindos nos pequenos barcos lá dos confins do Pará, à época único meio de transporte desta região.

E por quê essas reminiscências?

É que me veio à mente, agora, a lembrança de JK, em cujo governo foi gestada a construção da BR 364 – “O Outro Braço da Cruz” no mapa do Brasil, descrito pelo ex governador Paulo Leal no livro do mesmo nome.

Antevendo todos os movimentos desenvolvimentistas do mundo, Juscelino abriu o estômago de uma pátria adormecida e foi de Brasília ao Acre, e foi de Brasília ao Pará, e se mais pudera iria de Brasília aos confins do mundo, para realizar seu sonho de construir a BR-364. Fê-lo com amor ao Brasil. E nós, rondonienses esquecidos, fomos agraciados.

O legado de Juscelino espelha-se no vértice da segurança nacional, com a ocupação de nossos espaços de terras cultiváveis e de rios navegáveis.

A criação do Estado de Rondônia, creiam, só foi possível graças à BR-364.

Os que se deslocaram com a clarinada de Jorge Teixeira, o Teixeirão, sabem da importância dessa carreteira nacional. Ao longo dela foram construídas as principais cidades do Estado, como Ariquemes, Jaru, Ouro Preto, Ji Paraná, Pimenta Bueno e tantas outras.

Mas dessa importância, dada pelo “príncipe” JK, infelizmente pouco restou, e hoje a “BR” se encontra como nas tragédias narradas no início desta crônica – palco da morte de centenas de rondonienses, que vão-e-vêm no solavanco de buracos e medo.

No toque das infinitudes e nas crenças de vida eterna, creio que de seu túmulo Juscelino chorou. Deve ter dito aos seus anjos, porque todos os temos: “Que pena... a incompetência de tantos governantes transformou os meus sonhos em pouso dos desgraçados”.

Honestamente, o povo de Rondônia não merece a inércia da bancada rondoniense no Congresso Nacional, e esse descaso do Governo Federal com o nosso patrimônio, o maior, que é a 364, que liga Rondônia ao restante do país.

É bom lembrar que por essa estrada trafegam milhares e milhares de carretas, transportando riqueza e esperança do norte para o mundo.

A produção agrícola e pecuária, que gera divisas para o Estado, caminha pela 364 em direção aos grandes centros consumidores do país, e bem assim, pela Rota do Pacífico, à nova porta de exportação, no beiral dos Andes, este grande contraforte entre o mar e a planície.

Deixar a 364 como está, sem um grito de nossos representantes na Câmara Federal e no Senado, é simplesmente uma vergonha, um verdadeiro desapreço e uma covardia com os votos que receberam.

Agora, deixando de lado os devaneios iniciais, vejo que Rondônia, sem a BR 364, é apenas um ponto distanciado do restante do Brasil e do mundo, um buraco no meio de rios, florestas e campos, apta, talvez, quem sabe, a abrigar o lixo do “mundo civilizado”, como já ocorre com alguns países da Ásia.

Enfim, que a sorte nos exclua de ser palco das tragédias humanas, narradas no início da crônica e que a BR 364, a dádiva do norte, não se finde como nas tragédias de Shakespeare, conjugando as nossas necessidades e atenção a um grito de alerta:

Acorda Brasil!...ACORDA RONDÔNIA.
AMÉM.


Fale conosco