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JERUSALÉM: Transferência de embaixada é mantida

Presidente brasileiro diz que 'é direito' dos palestinos reclamar da abertura de escritório de negócios na cidade que é centro do conflito com Israel


o globo

Publicada em: 01/04/2019 10:29:03 - Atualizado

JERUSALÉM — Um dia depois de confirmar, durante visita a Israel, a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que ainda pode transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade durante o seu mandato, como havia prometido ainda antes da posse. Nesta segunda-feira, em conversa com jornalistas, ele reiterou que mantém o compromisso de transferência da missão diplomática, mas pregou "calma" no processo de transição.

— Tem o compromisso, mas meu mandato vai até 2022, ok? Está explicado? E a gente tem que fazer as coisas com calma, sem problema, mantendo contato com o público de outras nações, e o que eu quero é que seja respeitada a autonomia de Israel. Se eu fosse presidente hoje e fosse abrir negociações com Israel, botaria a nossa embaixada aonde? Seria em Jerusalém. Agora, a gente não quer ofender ninguém. Agora, eu quero que respeitem a nossa autonomia — ressaltou Bolsonaro.

Questionado então se a transferência da embaixada ocorrerá até 2022, o presidente respondeu:

— Tá tudo tranquilo, podem ter certeza. O casamento está marcado.

A abertura de um escritório de negócios como medida  imediata já havia sido mencionada publicamente por Bolsonaro antes da viagem. No domingo, o anúncio foi descrito pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, como "um primeiro passo" para a transferência da embaixada.

—  Estamos agora em Jerusalém. Eu o cumprimento por sua decisão de abrir um escritório de comércio, tecnologia e inovação do governo brasileiro em Jerusalém. E vou lhes revelar um segredo: eu espero, quero acreditar, que é o primeiro passo para a abertura, um dia, da embaixada do Brasil em Jerusalém.

A proposta da transferência havia sofrido fortes críticas dos países árabes, que estão os principais compradores das exportações brasileira de carne, mas o recuo parcial do governo brasileiro não acalmou os ânimos.

Ainda na noite de domingo, a Autoridade Palestina (AP) convocou para consultas o seu embaixador no Brasil, Ibrahim Alzeben, em retaliação à abertura do escritório de negócios. Segundo Alzeben, o anúncio é "inoportuno" e "desnecessário".

— É direito deles reclamar — respondeu Bolsonaro nesta segunda, sobre a reação palestina.

A troca por ora da transferência imediata pela abertura do escritório de negócios não pareceu afetar o clima caloroso entre Netanyahu e Bolsonaro, que no domingo chegou a comparar a reaproximação entre os dois países a um "casamento" e a chamar o primeiro-ministro várias vezes de "meu irmão".

O recuo não pegou de surpresa o governo de Netanyahu, que já indicava nos últimos dias que a abertura de um escritório comercial brasileiro em Jerusalém também teria peso político. Sobretudo quando o primeiro-ministro tenta ganhar pontos na reta final da campanha para as eleições de 9 de abril.. O seu partido está praticamente empatado com seu principal adversário, a coalizão liderada pelo ex-comandante do Exército Benny Gantz.

O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou no domingo que o novo escritório não terá status de representação diplomática nem significa o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo Brasil. Segundo ele, seu propósito é promover cooperação em comércio e tecnologia, embora essas áreas já tenham representantes na embaixada brasileira em Tel Aviv, que fica a menos de uma hora de carro de Jerusalém.

Qualquer decisão em relação a Jerusalém é delicada porque o setor oriental (árabe) da cidade é considerada território ocupado pela ONU. Segundo resoluções do Conselho de Segurança, o status final da cidade só pode ser determinado em negociações entre israelenses e palestinos, que reivindicam o setor oriental como capital do seu futuro Estado.

Se transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, o Brasil se tornará o terceiro país, depois da Guatemala e dos Estados Unidos, a tomar a decisão.


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