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Uruguai vai às urnas neste domingo para escolher sucessor

Uruguaios decidirão também em plebiscito, se aprovam ou não reforma na área de segurança, que incluiria criação de guarda militar


g1

Publicada em: 27/10/2019 10:28:25 - Atualizado

URUGUAI - Assim como a Argentina, o Uruguai também vai às urnas neste domingo (27) para escolher o sucessor do presidente de esquerda Tabaré Vázquez, em eleições nas quais os cidadãos também se pronunciam sobre uma reforma de segurança que cria uma guarda militarizada. A eleição começou às 8h (horário de Brasília).

As eleições presidenciais e parlamentares acontecem ao mesmo tempo que na Argentina, em um contexto de instabilidade regional, com questionamentos aos resultados da votação na Bolívia, protestos de rua em massa no Chile e no Equador.

"A democracia no Uruguai está muito sólida e é preciso cuidar dela diante dos riscos", disse Tabaré Vázquez nesta quinta-feira a jornalistas, em uma última mensagem antes da votação, para qual foram convocados 2,6 milhões de eleitores.

A votação também ocorrem em meio à comoção gerada pelo anúncio de que Tabaré Vázquez está em tratamento contra um câncer no pulmão.

Os números mostram que o engenheiro Daniel Martínez, governista da Frente Ampla, lidera com 33% das intenções de voto. Em seguida, está o advogado Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, com 25% (conheça os candidatos no fim da reportagem).

Indicadores preocupantes

A votação será um teste de fogo para a Frente Ampla, coalizão de esquerda que governa o país desde 2005 e que enfrenta as eleições com uma economia estagnada, inflação acima do teto da meta oficial (7,56%), desemprego de 9% e uma degradação dos indicadores de segurança que são um tema central da campanha eleitoral.

Outrora considerado um oásis de paz em uma região turbulenta, o Uruguai viu as estatísticas de segurança piorarem nos últimos anos. No ano passado, houve um número recorde de homicídios (414), um aumento 45% em relação a 2017.

Por isso, além de votar para presidente, os uruguaios se pronunciarão por uma reforma constitucional de segurança que gerou grande polêmica.

A reforma promove a criação de uma guarda nacional com efetivo militar em tarefas policiais; a criação de uma pena de prisão perpétua "revisável" após 30 anos de cumprimento da sentença para delitos graves; penas mais duras de prisão para homicidas e estupradores; e a autorização de operações noturnas de busca e apreensão a residências, por ordem judicial, em caso de suspeita de ilícitos.

Embora nenhum candidato à Presidência apoie a reforma, e ela tenha sido alvo de uma forte campanha contra por parte de movimentos sociais, de sindicatos e da governista Frente Ampla, pesquisas publicadas esta semana apontam que entre 39% e 53% da população é favorável à proposta.

As eleições uruguaias ocorrem em um contexto turbulento na América do Sul, onde a maior parte dos países enfrenta protestos ou crises políticas sem precedentes. Embora o projeto de reforma na segurança tenha sido o estopim para uma série de protestos no país, o Uruguai vive cenário político e econômico relativamente estável na comparação com vizinhos.

O pacote de medidas inclui:

  • criação de uma Guarda Nacional militar que terá poder de polícia
  • adoção da prisão perpétua
  • fim da progressão de pena em alguns casos
  • possibilidade de operações de busca à noite, com autorização judicial

Em 2018, a taxa de homicídios no Uruguai chegou a 11,8 a cada 100 mil habitantes. É a primeira vez que o índice chegou a dois dígitos na história do país. Com isso, segundo o "El País", somente Venezuela, Brasil e Colômbia tiveram maior proporção de mortes violentas no ano passado.

Pesquisas de opinião apontam vitória do "sim", embora nenhum dos principais candidatos tenha manifestado apoio ao projeto – nem Lacalle Pou, colega de partido do senador que liderou a campanha pela aprovação; nem o militarista Guido Manini Ríos, que adota forte discurso pela mudança na área de segurança pública.

A oposição ao projeto também cresceu nas ruas de Montevidéu, onde milhares de manifestantes disseram "não" à proposta. De fato, o apoio caiu ao longo do ano, principalmente depois que figuras centrais da política uruguaia – da direita e da esquerda – passaram a expressar dúvidas quanto à efetividade da proposta.

À direita, os críticos temem que a reforma enfraqueça e pressione as Forças Armadas. À esquerda, opositores da medida acreditam que ela não resolverá o problema de segurança e poderá aumentar a violência.

Veja os principais candidatos a presidente:

Daniel Martínez – Frente Ampla

Daniel Martínez, candidato à Presidência do Uruguai, discursa em ato de campanha em Montevidéu na quinta-feira (23) — Foto: Pablo Porciuncula/AFP

Candidato da situação e ex-prefeito de Montevidéu, Martínez não é visto pela principal coalizão de esquerda como um grande líder tal qual Vázquez e o ex-presidente José "Pepe" Mujica. O desafio a ele aumenta porque, se eleito, ele terá de lidar com cisões dentro da própria Frente Ampla e com um Congresso bastante fragmentado.

Ainda assim, as pesquisas de opinião mostraram Martínez em uma ascendente – incapaz, no entanto, de garantir nova vitória da Frente Ampla no primeiro turno. Tudo indica que ele terá de fazer concessões à direita se quiser atrair eleitores dos outros partidos uruguaios para manter a coalizão esquerdista no poder pelos próximos anos, algo que pode irritar correligionários mais à esquerda.

  • Luis Lacalle Pou – Partido Nacional
Luis Lacalle Pou, candidato à Presidência do Uruguai, faz passeata na cidade de Las Pedras na quinta-feira (23) — Foto: Eitan Abramovich/AFP

O advogado é a principal aposta da direita uruguaia para retornar ao poder após 15 anos de governos da Frente Ampla. Filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), o candidato propõe reequilibrar as contas públicas – o site oficial de campanha acusa o atual governo de acumular dívidas e permitir falência de empresas com capital estatal, como a companhia aérea Pluna, que fechou as operações em 2012.

Lacalle tentará se descolar da imagem de Mauricio Macri, presidente da Argentina eleito em 2015 com plataforma semelhante e que dificilmente conseguirá se reeleger. Martínez, inclusive, chegou a compará-lo com o argentino em um debate, e o candidato direitista respondeu: "Essa comparação é simplista, e eu não o comparei com Kirchner".

  • Guido Manini Ríos – Cabildo Abierto

Pesquisas mais recentes do "El País" mostraram que Manini conseguiu chegar à terceira colocação nas intenções de votos e deve conquistar cerca de 12% do eleitorado. Ele, que é general, obteve notoriedade após o presidente Vásquez afastá-lo do cargo de comandante chefe do Exército por críticas ao sistema de Justiça do país e ao propor reformas no Estado e um novo Código de Processo Penal.

Embora receba comparações com Jair Bolsonaro, Manini – que evita se considerar de direita ou de esquerda – ressaltou à agência argentina Infobae que há diferenças nas ideias entre ele e o presidente brasileiro.

  • Ernesto Talvi – Partido Colorado

Talvi, do tradicional Partido Colorado, chegou a disputar uma vaga no segundo turno de acordo com as primeiras pesquisas. Porém, ele viu seu apoio derreter diante do crescimento de Lacalle Pou e de Manini Ríos.

O economista combina uma plataforma economicamente liberal com uma série de medidas para combater a criminalidade e melhorar os índices de educação no país. Com isso, o capital político de Talvi deve ser disputado entre Martínez e Lacalle Pou, no segundo turno.




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