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    porto velho, quarta-feira 1 de maio de 2024

BR-364 – Um sonho, um pesadelo, um baita desmazêlo no País do faz de conta


Arimar Souza de Sá

Publicada em: 18/11/2019 11:01:00 - Atualizado


CRÔNICA DE FIM DE SEMANA - BR-364 – Um sonho, um pesadelo, um baita desmazêlo no País do faz de conta - Arimar Souza de Sá

No Brasil de meu Deus, como em qualquer outra parte do mundo, as realizações, ousadas ou não, nasceram de um sonho.

E foi sonhando que Juscelino Kubitschek trouxe do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste, no coração do Brasil, a nova capital da República.

O objetivo era convergir os vários Brasis num só ponto, a partir do qual a nação pudesse alcançar o desenvolvimento, com o alargamento de suas fronteiras agrícolas e pastoris, sobretudo para espraiar as populações por todos os quadrantes brasileiros, a fim de fincar aqui e acolá, com sua presença, os contrafortes necessários à segurança nacional.

Desejava o diamantino JK que o desenvolvimento se fizesse em círculos, através da assimilação de culturas e a implantação de pólos agrícolas, industriais e de serviços ao longo da chamada Amazônia Legal, à época totalmente despovoada.

Para não ficar só no discurso, como sói acontecer nos dias atuais, iniciou e concluiu a BR/Belém/Brasília, rodovia que Jânio Quadros, míope e irresponsavelmente, cognominou de “caminho de onça”. Mas são águas passadas, portanto o assunto morto está.

Com o advento magistral do insigne Teixeirão, na década de 80, eis que ressurge o ideal de transformar o sonho de Juscelino em realidade. De repente, ouviu-se o rebuliço de máquinas a fervilhar os 1.460 km de Cuiabá a Porto Velho e, ao cabo de aproximadamente 2.000 dias, estava a Estrada totalmente asfaltada.

Com isso, Rondônia metamorfoseou-se, num canto emblemático de esperança para milhares de brasileiros, que se “despencaram” de todos os lados do País, atendendo ao seu chamado, para aqui fincarem seus quartéis e brigarem contra os óbices existenciais do destino humano, e vencer.

Na febre que esquentou o ventre de Rondônia, foram abertas uma série de frentes agrícolas com a plantação de cacau, café, e mais recentemente a soja e o milho, além da Frente Mineralógica, com exploração do ouro de aluvião, inspiração de um Rio Barrento, chamado Madeira que, num átimo, se transformou numa fonte de ouro, e ainda a abertura de novas lavras de cassiterita – e haja festa!... Tudo isso, porém, passou célere, o Eldorado acabou, o garimpeiro “blefou”, mas não tocaram a última valsa.

Depois de risonhos dias, coloridos de ilusões e de desejo de enriquecimento do dia para a noite, com a pressa restaram a omissão e um estúpido silêncio.

E é sob o manto deste estúpido silêncio que a BR-364 está se transformando no tal “caminho de onça” vaticinado por Jânio Quadros, conhecido , na década de 60, como “homem da vassoura”, por sua disposição em “varrer a corrupção do País”...

Cheia de buracos, com mortes estúpidas quase todo dia, os motoristas são obrigados a viver sina brutal na rodovia, tudo a demonstrar o completo descaso das “autoridades de plantão” quando de se trata de investimentos necessários à sua manutenção.

Uma estrada estiolada, sacrificada pelas chuvas e pela falta de manutenção e controle dos veículos que nela trafegam, ou seja, é mais uma riqueza que se esvai, é investimento que se perde num país que precisa tanto crescer, para gerar emprego e renda.

Ora, a BR-364 foi inspirada como um marco de esperança para colorir e concretizar os sonhos dos que habitam o noroeste do Brasil: rondonienses, acreanos e amazonenses.

Desprezada, assim como está, sem cuidado e zelo, é apenas um caminho por onde passam os veículos que trafegam “na marra” por aqui, quebrando eixo, rasgando pneus, mas buscando um porto seguro. Não é uma Estrada, senão quase uma vicinal – mal cuidada, sem dono, sem carinho, sem defesa e sem respeito.

Como se vê, trata-se de uma questão inteligente de desafio aos que habitam estas paragens, porque é por ela que a riqueza de Rondônia circula, no vai-e-vem de mercadorias vindas do sul, e das “commodities” produzidas aqui, no Acre ou no Amazonas, que são exportadas para o restante do país e para o exterior.

Deixar a Estrada assim como está é o mesmo que dizer que não temos representantes interessados em resolver este problema crucial na vida do povo desta terra.

É tempo, então, de gritamos FORTE, para não permitir que a BR-364 tenha o mesmo destino da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. Urge, portanto, que o “Bloco Amazônico” no Congresso jogue em grupo, politicamente, em favor de temas comuns, como as estradas.

Exigir – porque não? – as presenças dos ministros do transporte e da infraestrutura e, se for o caso, do próprio presidente Bolsonaro, honrando os votos que recebeu na Região, para dar um tranco nessa situação macabra que se instalou, e que tanto “enche o saco” e aflige os que residem e trabalham no Norte do País.

Se não houver uma mudança urgente e radical do pensamento político amazônico, vamos continuar amargando a derrota, gerada pelos que não tem prestígio e nem se entrosam no “campo” do Parlamento e, pela omissão, propiciam naquilo que um dia fora uma estrada, o que restou dela: o choro pelas mortes, o ranger de dentes e um sorriso amarelo...

Se assim não for, quando tudo terminar, restará apenas um “caminho de onças”, como vaticinou Jânio Quadros. E aí, vozes sinistras se levantarão, como de costume, para procurar culpados, e Rondônia, nessas alturas, voltará a ser apenas um minúsculo e remoto ponto no mapa do Brasil, onde habitam os índios Pacaás Novos, Periquitos e Arara.

Já para os que vieram do sul e aqui fincaram raízes, restará a perplexidade e um desejo imenso de voltar a pé, admitindo, no caminho, que o sonho não passou de um pesadelo.

Senhores políticos, sejamos pelo menos elegantes, e salvemos a BR, enquanto ainda há tempo para mudar.

AMÉM!..


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