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    porto velho, sexta-feira 31 de janeiro de 2025

"Por que Hollywood não nos importa... mas subiremos as Torres do Oscar?"


Por Walterlina Brasil

31/01/2025 11:15:27 - Atualizado

O Oscar está causando rebuliço. E o rebuliço é a repercussão da indicação do filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” para a premiação hoolywoodiana que ocorrerá em março de 2025. Eu assisti. Um filme lento, sem ser monótono. Suave, sem deixar de ser contundente. Intrigante, sem deixar de ser explícito quanto a violência que denuncia. E escrevo isso aqui já me acomodando em frente ao computador, para não permitir que as lágrimas interrompam novamente meu raciocínio, que capitula ao lembrar do olhar de Fernanda Montenegro, na sua única aparição – e no final do filme – onde a memória encontra os afetos. É potente. É: o Oscar “goes to...” Brasil, em suas chagas abertas, e um sofrimento contido em um nome de mulher (“Eunice Paiva”). Não é pela história em si, mas pelo que a arte pode revelar. Vamos comentar um pouco? Lembro, leitor/leitora que no final tem umas pistas das fontes que busquei, como um toque de “saiba mais”. Bora?

O Oscar (não) é um lixo.

O Oscar, conhecido oficialmente como Academy Awards da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ocupa o ápice do reconhecimento cinematográfico mundial. Desde sua primeira edição em 16 de maio de 1929, a cerimônia supera uma ideia de “simples premiação”. Atualmente com 24 categorias principais, a premiação almeja indicar a excelência artística, impulsionar carreiras, influenciar tendências de mercado e gerar um impacto econômico significativo. Os filmes indicados frequentemente experimentam um aumento médio de 35% em bilheteria após a nomeação. Para artistas e cineastas, a mera indicação pode significar consagração, reconhecimento e oportunidades internacionais.

Embora a disputa eleve a pressão para atender padrões técnicos internacionais, atualizar demanda de infraestrutura e competir em desvantagem quando há baixo investimento, o Oscar garante, atualmente, uma visibilidade global. O evento possui um alcance médio de 40 milhões de espectadores durante a transmissão, em mais de 200 mercados de entretenimento entre os 195 países do mundo e é capturada como distribuição potencial em plataformas de streaming globais. Em termos de networking, amplia em 40% a previsão de aumento em investimentos internacionais, redes para coproduções internacionais e fortalecimento para as demandas de investimento na política de cultura, em um mercado onde circulam em arrecadação entre 5 e 15 bilhões de dólares anuais.

Elas no Oscar.

Fernanda Montenegro e o Oscar tem a mesma idade: 96 anos em 2025. Apenas o Oscar é mais velho em meses pois surge em maio de 1929, enquanto Montenegro nasceu em outubro. Por sua vez, Fernanda Torres é de 1965, fará 60 anos. Quando Rubens Paiva é levado de sua família para nunca mais retornar, Torres tinha 6 anos; quando sua mãe foi indicada ao Oscar, tinha 34. E o tempo passa. Mas o Oscar de Melhor Atriz é um dos mais prestigiados da cerimônia, tendo coroado talentos excepcionais ao longo dos anos, pelos quais torcemos e encontramos nominadas nas estrelas da “Calçada da Fama” apinhada de pedintes. De fato, nesses 96 anos, poucas atrizes latinas foram indicadas, tivemos: Penélope Cruz, espanhola (1 vitória), Rita Moreno, Porto-riquenha (1 vitória), Salma Hayek, Mexicana (1 indicação). Atrizes que redefiniram os padrões de atuação e abriram portas para maior representatividade no cinema. Neste contexto de pouca presença de atrizes latinas, encontramos Fernanda Montenegro como a única atriz brasileira a ter sido indicada ao Oscar, por "Central do Brasil" em 1999. A indicação de Fernanda Torres em 2025, simboliza um passo significativo tanto para o Brasil quanto para a representação latina no Oscar e mantem viva essa possibilidade de inserção e adequada visibilidade às atrizes latinas.

Ainda estou aqui.

"Ainda Estou Aqui” é um farol de inovação narrativa, profundidade emocional e uma execução artística superior. É um lembrete poderoso de que o cinema brasileiro não apenas compete no cenário global, mas pode superá-lo, oferecendo uma visão única e profundamente humana que ressoa muito além de suas fronteiras geográficas e culturais. O filme transcende sua própria temporalidade, estabelecendo-se como um marco definitivo na história do cinema nacional, tendo nesta premiação a possibilidade da projeção adequada.

A nomeação do filme brasileiro marca um momento histórico, sendo apenas a quinta produção nacional a alcançar tal reconhecimento na categoria de Melhor Filme Internacional, após "O Pagador de Promessas" (1963), "O Quatrilho" (1996), "Central do Brasil" (1999) e "Cidade de Deus" (2004). Não se reduz a uma conquista para Fernanda Torres e a equipe do filme, mas a persistência do cinema brasileiro. Representa uma oportunidade de reafirmar a qualidade e a relevância da produção nacional no cenário global. A indicação de Fernanda Torres para melhor atriz, é um reboot com 25 anos de espera, dos 54 em que o corpo de Rubens Paiva não foi velado.

Independentemente do resultado, esta indicação abre portas, inspira novas gerações de cineastas e reafirma o poder transformador do cinema. Não é apenas um filme que ainda está aqui; é uma obra que sempre estará aqui, gravada na memória coletiva como um testamento do cinema brasileiro contemporâneo, associado ao perfil sombrio de um momento político do país que muita gente quer esquecer ou ignorar.

Contexto Local.

Não encontro em Rondônia uma produção orgânica e um reconhecimento justo em relação a produção nacional. Talvez eu precise procurar mais. Porém, na linha de “Ainda Estou Aqui”, admito que há uma batalha para que a arte se torne portadora da criatividade local e impacte positivamente a nossa economia criativa, encerrando conteúdos vigorosos. Na Universidade Federal de Rondônia (UNIR) temos os Cursos Teatro e Jornalismo lidando com aspectos da narrativa cinematográfica e integrando as diferentes linguagens e pautas. Há que se mencionar Neidinha Suruí (O Território) e Agrael (Ela Mora Logo Ali), egressas da UNIR, como atrizes que mantem portas abertas para cinematografia local com projeção nacional e internacional. Fazedores de cultura se apresentam com documentários, criações artísticas em filme e outras formas de aparelhos artísticos que demonstraram qualidade e conquistaram espaço. Não é – ainda – um Oscar, mas certamente são significativos sinais de que as políticas de incentivo à cultura podem funcionar. Sei que podem ter muito mais produções. Porém inspirada no fato de que a estimativa de crescimento do mercado cinematográfico brasileiro é de 25% até 2027, a proposta de desenvolvimento de polos cinematográficos regionais terão, em Rondônia, um cenário promissor.

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Fontes: Dá uma olhadinha?

Industria e Premiação no cinema: https://olhardigital.com.br/20...

Sobre o filme “Ainda Estou Aqui”: https://www.adorocinema.com/fi...

Sobre o filme “Ela Mora Logo Ali”: https://viventeandante.com/fil...

Sobre o filme “O Território”: https://www.adorocinema.com/fi...

*NOTA: As opiniões nesta Coluna não expressam, necessariamente, o pensamento da Universidade Federal de Rondônia, nem dos diversos setores que a constituem.


*Professora Walterlina Brasil é Docente Titular do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Professora em Cursos de Licenciatura e do Programa Nacional em Rede Mestrado Profissional em Administração Pública – PROFIAP UNIR. Pesquisadora do Grupo de Estudos de Educação Superior – GEPES/UNIR

Sobre mim: https://linktr.ee/walterlina.brasil



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