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porto velho, quarta-feira 30 de abril de 2025
A situação em Rondônia, como em muitas áreas do Brasil, envolve desafios complexos relacionados ao saneamento básico e à qualidade do ar, que repercutem em nossa segurança alimentar. A intersecção entre o tratamento de esgoto inadequado e os problemas causados pela fumaça, proveniente de queimadas e outras fontes, cria um cenário preocupante para a saúde pública e o meio ambiente e qualidade do consumo humano e convivência socioambiental. Uma “passada de olho” no panorama sobre os indicadores de queimadas, qualidade de vida urbana e saneamento em Rondônia, com foco em Porto Velho nos indicam a relevância desse assunto. Os dados mostram desafios significativos tanto no combate às queimadas quanto na melhoria da infraestrutura urbana e sanitária. É o que veremos. Lembro que algumas breves informações (Dicas Saiba Mais) estão no final. Contribua comentando ou agregando mais informações ao tema.
A Floresta que Chora e a Lavoura que Seca
O desmatamento desenfreado não é apenas um crime ambiental. É um tiro no pé da nossa própria segurança alimentar. A floresta regula o ciclo das chuvas, irrigando as lavouras que alimentam o Brasil e o mundo. Destruí-la é como fechar a torneira da vida, condenando estados como Mato Grosso e Rondônia a um futuro de seca e miséria. Enquanto a floresta definha, as cidades amazônicas se afogam em esgoto, como banheiros a céu aberto. A falta de saneamento básico não é apenas uma questão de higiene, mas de saúde pública e dignidade humana. Rios outrora fontes de vida transformados em cloacas, contaminando a água que bebemos e os peixes que comemos. A consequência? Doenças, desnutrição e um ciclo vicioso de pobreza e sofrimento.
Os Relatórios com base nos dados da plataforma (experimental, mas já robusta) informa que a qualidade de vida urbana e saneamento em Porto Velho já ultrapassou o nível de preocupante para alarmante: apenas 41,79% da população de Porto Velho tem acesso ao abastecimento de água, enquanto a média nacional é de 84,24%; o esgotamento sanitário cobre apenas 9,89% da população, deixando mais de 414 mil habitantes sem coleta de esgoto; a coleta de resíduos sólidos é universal, mas apenas 0,14% dos resíduos coletados são recuperados. Por fim, a drenagem de águas pluviais atende menos de 1% da população, o que aumenta os riscos de inundações. Neste caso, as organizações representativas seguem sem muito impacto junto aos gestores públicos, como bem indicou a luta das organizações sociais, como no caso da Comunidade Vila Princesa na gestão cooperativa do Lixão em Porto Velho.
Em dados de 2024, as queimadas em Rondônia representaram um aumento significativo no número de queimadas. Foram registrados mais de 7.282 focos de incêndio até setembro, o maior número em 14 anos, e todos sabemos que significou reclusão e aumento de demanda nos Postos de Saúde e clínicas. Porto Velho liderou (e ainda liderará?) o ranking estadual, com 2.337 ocorrências, representando 32% do total. As queimadas têm impactos diretos na qualidade do ar, colocando Porto Velho entre as cidades com os piores índices de qualidade do ar no Brasil. Isso afeta especialmente pessoas com problemas respiratórios.
Na prática, como consequência desses dados, Rondônia contribui fortemente para uma Amazônia que agoniza. E com ela, a segurança alimentar de milhões, tanto na floresta quanto nas cidades. Enquanto discursos inflamados ecoam sobre a importância da região, a realidade nua e crua escancara um descaso criminoso: a floresta sangra, o saneamento inexiste e a fome espreita.
A Esperança que Renasce da Luta
A Amazônia não é apenas um problema ambiental, mas uma questão de justiça social, de saúde pública e de segurança alimentar. Continuar ignorando-a é condenar a nós mesmos a um futuro de fome e miséria. A escolha é nossa: ou abraçamos a floresta e construímos um futuro sustentável, ou assistimos de camarote à nossa própria destruição.
No caso específico da capital de Rondônia, Porto Velho, ela tem a maior extensão territorial do Brasil com 34.090,95 km² e uma área urbana de Porto Velho estimada em 41,7 km², de acordo com dados da Embrapa. Essa área representa uma pequena fração do território total do município, porém, a urbanização mal planejada e os níveis sanitários alarmantes. Dentro do perímetro urbano, as áreas verdes incluem parques como o Parque Natural, o Parque da Cidade, Parque Circuito e o Abobrão, confirmando o quanto a cobertura vegetal urbana é limitada em comparação ao território total do município.
É momento de reagir. De abandonar qualquer sinal de complacência e a sedução para uso de discursos vazios. Tempo de exigir políticas públicas que protejam a floresta, garantam o saneamento básico e promovam a segurança alimentar. De apoiar as comunidades que lutam na linha de frente. De cobrar das universidades um papel mais ativo e engajado. Parece que a “Prefeitura do Poraquê” (Electrophorus electricus) está disponível, bora mostrar competência e efetividade?
Iniciativas globais.
Nem tudo está perdido. Há comunidades que resistem, que lutam para proteger a floresta e garantir o saneamento básico. Há iniciativas de agroecologia que respeitam o bioma amazônico, produzindo alimentos saudáveis e sustentáveis. Há tecnologias inovadoras que transformam resíduos em recursos. Aqui estão alguns exemplos, em divulgação recentes, de iniciativas inovadoras que utilizam biotecnologia para tratar resíduos urbanos e prevenir a contaminação de áreas naturais:
1.Tecnologia de Plasma para Resíduos Sólidos: O uso de plasma é uma abordagem revolucionária para o tratamento de resíduos sólidos urbanos. Esse método utiliza temperaturas extremas (até 15.000°C) para decompor resíduos em nível atômico, eliminando emissões tóxicas. Além disso, gera subprodutos valiosos, como materiais cerâmicos, metais reaproveitáveis e hidrogênio, que pode ser usado como fonte de energia.
2. Compostagem Urbana com Biotecnologia: Avanços em biotecnologia têm permitido o desenvolvimento de sistemas de compostagem adaptados para ambientes urbanos. Esses sistemas utilizam microrganismos geneticamente otimizados para acelerar a decomposição de resíduos orgânicos, transformando-os em fertilizantes ricos em nutrientes. Além disso, tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) são usadas para monitorar e otimizar o processo.
3. Biorremediação de Águas Contaminadas: A biorremediação utiliza microrganismos para tratar águas contaminadas por resíduos urbanos. Por exemplo, bactérias especializadas podem degradar compostos tóxicos, como óleos e metais pesados, em rios e lagos urbanos, ajudando a restaurar ecossistemas naturais.
Essas iniciativas mostram como a biotecnologia pode ser uma aliada poderosa na gestão sustentável de resíduos e na proteção ambiental.
Universidades Públicas: Faróis (Ainda) Acesos na Escuridão
E as universidades? Onde estão os projetos inovadores, as soluções criativas, o conhecimento transformador? Presas entre as bolhas de haters e negacionistas, são obrigadas a regurgitar a necessidade de forte bases científicas, reagindo ao estigma de serem considerados locais para “teorias desconectadas da realidade” ou a imposição de meios e modos de vida científicos pragmáticos, rasos e alimentados pela demanda “profissionalizante” das políticas de Pós-graduação atuais. Enquanto a Amazônia clama por socorro, que exige mais pesquisa básica e aplicada alinhadas, limitam-se em seu potencial de fazer circular os artigos científicos e teses acadêmicas de modo a produzir aproximação com as comunidades as quais pertençam. É preciso ação, engajamento, compromisso com a transformação social. Sem política científica não acontecerá. Por sua vez, sem pertinência científica como atributo da pertinência social das Universidades amazônicas, menos ainda.
Contexto local.
A Universidade Federal de Rondônia (UNIR) tem desempenhado um papel significativo em pesquisas relacionadas às mudanças climáticas e ao saneamento urbano. São muitos grupos de pesquisa e Programas de Pós-graduação na UNIR e que certamente atuam na área. Ao final coloco o link que encontrei sobre eles. Mas aqui vou me atrever a destacar algumas contribuições notáveis, sem desprezar outras que existam:
1.Grupo de Pesquisas em Bioclimatologia e Mudanças Climáticas na Amazônia (BIOCLAM): Este grupo, criado em 2019 no Departamento de Geografia da UNIR, foca em temas como desmatamento, impactos climáticos na população urbana e rural, planejamento climático urbano e regional, e poluição atmosférica. Eles também promovem atividades de ensino e extensão para transferir conhecimento sobre eventos climáticos e meteorológicos para a sociedade.
2. Engenharia Ambiental e Sanitária: No campus de Ji-Paraná, a UNIR tem projetos que analisam a correlação entre variáveis climáticas e áreas queimadas, utilizando ferramentas como o Google Earth Engine. Esses estudos ajudam a entender os impactos das mudanças climáticas no estado de Rondônia e a propor soluções para mitigação e adaptação.
3. Grupo de Biogeoquímica Ambiental da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) continua ativo e tem contribuído significativamente para questões ambientais e de saúde na Amazônia. O grupo, registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq desde 1994, desenvolve estudos sobre o impacto ambiental em ecossistemas terrestres e aquáticos amazônicos, com foco em contaminantes orgânicos e inorgânicos.
4. O Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang C. Pfeiffer (BIOGEOQ), realiza pesquisas em áreas como ecotoxicologia, limnologia e toxicologia. Eles utilizam tecnologias avançadas, como espectrometria e cromatografia, para analisar contaminantes e seus riscos à saúde humana e ambiental. Além disso, o grupo tem contribuído para a formação de alunos de graduação, mestrado e doutorado, fortalecendo a pesquisa científica na região. Um exemplo de avanço científico em larga escala e colaborativo, é o Projeto Ochroma, que busca alternativas ao uso de mercúrio no garimpo de ouro, utilizando extratos de plantas amazônicas como o pau de balsa. Essa pesquisa não só oferece uma solução mais sustentável para a mineração, mas também promove educação ambiental junto às comunidades ribeirinhas.
Essas iniciativas mostram como a UNIR está contribuindo para enfrentar desafios ambientais e urbanos na região amazônica. Todos eles, porém, resistem a algo mais profundo do que a luta diária em manter o mérito ao que fazem: a queda no financiamento, desfavorecimento político em favor de uma “boa ciência” e ausência de uma política científica realmente efetiva. Tudo isso também dentro da própria UNIR, corroborando a forma como o Governo brasileiro está capenga no enfrentamento das assimetrias regionais, ainda persistentes.
Você já pensou sobre algo assim? Me conta?
Fontes: Dá uma olhadinha?
Pertinência científica das Universidades. https://www.academia.edu/11392...
Isto É: Como a tecnologia de plasma pode resolver o caos dos lixos nas cidades. https://istoe.com.br/istoegera...
Nova Tecnologia de Plasma. https://www.gizmodo.com.br/nov...
Tendências emergentes na compostagem urbana. https://barbosastart.com.br/20...
O que é Bioremediação [para iniciantes]: https://www.todamateria.com.br...
Água e saneamento (Porto Velho): https://www.aguaesaneamento.or...
Queimadas em Rondônia: https://g1.globo.com/ro/rondon...
Pesquisa da UNIR (Grupos Certificados): https://propesq.unir.br/pagina... [navegue pelas abas laterais]
Pos-Graduação da UNIR (Oferta existente. Institucional e em Rede): https://www.unir.br/pagina/exi... [navegue nas abas laterais]