BRASIL: O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, ex-chefe da corporação no Amazonas, afirmou que Amazônia vive uma guerra com a presença de criminosos armados e que é preciso haver ações coordenadas das polícias em nível estadual e federal com as Forças Armadas. Segundo ele, criminosos que atuam na região têm parte dos políticos do Norte "no bolso.

Saraiva concedeu entrevista para comentar o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Os dois foram vistos pela última vez no último dia 5, quando faziam um trabalho de investigação na terra indígena Vale do Javari, região marcada por conflitos envolvendo garimpo ilegal, roubo de madeira e tráfico de drogas.

“[Enquanto não se entender que] é preciso cada um, cada instituição na sua atribuição, tendo ação coordenada, nós vamos perder essa guerra. Porque é uma guerra”, disse.

Para o delegado, é preciso que as Forças Armadas cumpram o papel previsto na legislação de exercer papel de polícia em áreas de fronteira. No entanto, segundo ele, este papel ainda é muito associado exclusivamente a inimigos externos, enquanto regiões da Amazônia hoje são dominadas por criminosos de dentro do país.

“Ainda é majoritário nas Forças Armadas o entendimento de que eles têm a função de enfrentar inimigos internos, quando, na verdade, tem grupos criminoso internos que estão corroendo o Estado debaixo da barba das instituições”, declarou.

“Amazônia é um lugar imenso. O efetivo do Exército perto do da Polícia Federal não dá nem pra comparar [...]. É preciso [as Forças Armadas] exercerem esse papel que está previsto na lei e começarem a atuar em conjunto com a segurança pública da região”, completou.

‘Criminosos têm políticos no bolso’

Saraiva, que foi retirado do cargo de chefia na PF após apresentar notícia-crime contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, também afirmou que há parlamentares financiados por criminosos que atuam na região Norte.

Segundo ele, operacionalmente, seria fácil acabar com atividades ilegais na região por meio da destruição de equipamentos, mas o que ele chama de “cobertura política” dificulta isso.

“O que pega é quando chega a cobertura política dos criminosos, porque esses criminosos têm boa parte dos políticos da região Norte no bolso. To falando de governadores, senadores...”, afirmou.

Saraiva afirmou também já ter sofrido ameaças. “Já foi apreendido celular de madeireiros em que estava a minha foto escrito embaixo “alvo a ser apreendido”. Recentemente soube que meu nome apareceu numa cela do PCC em Presidente Venceslau numa lista não sei se de pessoas para morrer ou para serem localizadas. Existe, sim, esse risco. Eu uso carro blindado.”