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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
A Ferrovia do Diabo - Os Pioneiros e a Madeira Mamoré
- Crônica de Arimar Souza de Sá
Lá se iam os pioneiros! Seguiam Rio Madeira acima, demandavam aos castelhanos, lá para as bandas do Rio Mamoré.
Desciam dormentes à terra, corpos às sepulturas. Cada dormente uma cruz, cada cruz, um símbolo de fantasia para a lendária Estrada de Ferro do Diabo.
Foram anos de lutas. Romper o plexo inóspito da selva bruta era travar desafios com a própria existência. Com o beribéri, a terçã maligna, a febre amarela, as flechas dos índios, o pium, a mutuca e o carapanã, completavam o circo de um festival de horrores. Nem por isto, os heróis se afastaram da senda.
E o pior é que depois de tantas e tantas batalhas dessa guerra de superação de monstros, nenhuma medalha, nenhum toque de ternura, apenas o seco “good by”, do inglês, que encheu os bolsos e partiu para outras fronteiras.
Depois o apito do trem. O negro barbadiano e depois os seus filhos, tem a cor e a envergadura da máquina 16. A lenha na fornalha, um calor insuportável nas caldeiras, a fagulha da lenha queimada e o aceno morno da menina à beira da Estrada.
Por fim, um Decreto Seco. O final de romance? Não! De uma tragédia! Na Estrada do Diabo o homem foi lenda, mas enterrou seu coração. Hoje, não resta nem mesmo uma cruz.
Os pioneiros, quase todos viraram pó. Mas Rondônia ainda vive...
Crônica feita, na década de 80. O autor é advogado, jornalista e apresentador do Programa A VOZ DO POVO, Rádio Caiari, 103,1.