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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
Ao ter seu nome referendado para um segundo mandato, em agosto de 2021, o procurador-geral da República, Augusto Aras, tornou-se caso único, nos dias atuais, de autoridade do primeiro plano da República a ser referendado, majoritariamente, pelo Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Para atingir essa condição, enfrentou uma máquina corporativa consolidada ao longo de 30 anos dentro da instituição.
Na sabatina a que foi submetido no Senado, antes de ter seu nome reconfirmado pelo Plenário, ele disse: “Não permiti que o Ministério Público quisesse se substituir ao Poder Legislativo, ao Judiciário ou ao Executivo. Cumprir a Constituição é compreender a separação dos Poderes, é poder saber que o dever de fiscalizar condutas ilícitas não dá aos membros do Ministério Público nenhum poder inerente aos poderes constituídos, harmônicos e independentes entre si.”
O desmanche das chamadas forças-tarefa – que, por motivos tortos, como os malfeitos jurídicos da autointitulada “operação lava jato”, contribuíram para o descrédito da PGR – foi a primeira etapa da transformação do Ministério Público Federal empreendida por Aras.
Em portarias assinadas na primeira semana de abril de 2022, o PGR deu início à segunda etapa. Designou 41 procuradores da República e regionais da República para integrar Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizados (Gaecos) no MPF. Criados para dar a institucionalidade e a organicidade que faltavam às forças-tarefa, os Gaecos vão atuar em 12 estados: Alagoas, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Com as nomeações, o total de procuradores nos Gaecos federais chega a 82.
Com a implantação dos novos grupos, 19 estados passam a contar com Gaecos federais de forma definitiva. É que, em sete deles, as estruturas já funcionam nessa condição. Nos oito estados restantes, o assunto é objeto de análise e tratativas conduzidas pela Câmara Criminal do MPF, que também fará estudos sobre a possibilidade da criação de Gaecos no âmbito das Procuradorias Regionais da República. O modelo repete experiência adotada há mais de três décadas nos Ministérios Públicos estaduais.
Segundo a PGR, “a transformação das comissões provisórias em permanentes representa passo importante na institucionalização do trabalho e abre espaço para que os Gaecos passem a contar com a estrutura material e humana necessária ao desenvolvimento das investigações. A distribuição desses recursos considera critérios como a demanda de trabalho e os limites orçamentários, e será feita de forma equânime, sem desconsiderar as especificidades de cada unidade. O quadro local foi mapeado pelos próprios integrantes das comissões provisórias e relatado à Câmara Criminal do MPF (2ª CCR) e à Corregedoria.”
Augusto Aras começou a imprimir sua marca na composição dos cargos de assessoramento superior da PGR a partir de 2020. Findo o mandato de alguns dos integrantes das Câmaras de Coordenação e Revisão, o procurador-geral procurou diversificar a constituição dos colegiados e nomear subprocuradores afinados com suas ideias.
Este processo culminou em 2022, quando o comando dos cargos de direção da PGR foi notavelmente alterado, com a substituição do vice-procurador geral Humberto Jacques de Medeiros pela subprocuradora Lindôra Araújo. Embora não fizesse parte, formalmente, do quadro diretivo da PGR, a subprocuradora passou a ser figura estratégica na segunda gestão de Aras.
Em 2021, a PGR apresentou ao Supremo Tribunal Federal, ao lado dos subprocuradores-gerais escolhidos para atuar na corte, 250 petições, entre denúncias e ações; 619 recursos; e mais de 32 mil manifestações. Ao Superior Tribunal de Justiça, foram apresentadas 16 denúncias e 49 outras ações, além de 8.500 recursos e 400 mil manifestações.
Outra das preocupações mais notórias da PGR em 2022 é com o processo eleitoral. Ao longo de 2021, o Ministério Público Eleitoral, cujas atribuições também são da PGR, atuou para fortalecer a fiscalização do cumprimento das normas que regem as eleições, com vistas ao pleito geral de 2022. O MP Eleitoral atuou em diversas frentes, como a prevenção e o enfrentamento da violência de gênero na política e da desinformação, o diálogo com outras instituições, a transparência do processo eleitoral e o combate a abusos, no sentido de garantir o equilíbrio de oportunidades entre os candidatos.