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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
BRASIL - O médico francês Gilles David Tebould foi denunciado na quarta-feira (13) pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por ofensas racistas e outros crimes contra o porteiro Reginaldo Lima.
O caso aconteceu na Zona Sul do Rio, e o indiciamento da 12ª DP (Copacabana) cita três crimes cometidos pelo médico: injúria racial, ameaça e contravenção penal de vias de fato.
A promotora Janaína Marques Corrêa Melo, da 2ª Promotoria de Justiça de Botafogo e Copacabana, manteve na denúncia os crimes apontados pela polícia.
O MP também informou que Tebould não conseguiu provar que o suposto tratamento médico que faz só pode ser realizado na França - essa foi uma das alegações feitas pela médico, que estava com passagem comprada para deixar o Brasil.
Por isso, a promotora informou à Justiça que não existe motivo para liberar o passaporte do estrangeiro.
"Vale ressaltar que a França é o país de origem do denunciado e é de conhecimento geral que o referido país, da mesma forma que o Brasil, não extradita seus nacionais, portanto, liberar o passaporte seria permitir que o denunciado tivesse um 'salvo conduto' para evitar a justiça brasileira", opinou a promotora.
Médico ia deixar o país
Como mostrou o RJ2 na semana passada, em depoimento o médico francês disse que a viagem no dia 24 deste mês para a França, na Europa, seria para tratar problemas de saúde.
Na quinta-feira passada, dia 7, Gilles David ficou cerca de uma hora na 12ª DP (Copacabana). O médico foi obrigado por decisão judicial a entregar o passaporte para não deixar o Brasil.
Na delegacia, ele disse que precisa ir para a França no período estipulado porque toma remédios que só são comercializados lá - e seriam de extrema importância para a saúde.
Entretanto, perguntado pelos policiais quais seriam os medicamentos, o médico disse que só falaria em juízo.
Também de acordo com o relato, em janeiro em 2022 ele comprou as passagens para ir à França sem nenhuma intenção de fugir de qualquer responsabilidade penal.
Negou ofensas racistas
Sobre as acusações de xingamentos com termos racistas, Gilles disse que se dirigiu a Reginaldo e falou: "Por que não fechou bem a porta do elevador?". Como resposta, segundo o médico, ouviu do porteiro a seguinte frase: "Pergunta à sua mãe".
Naquele momento, de acordo com o francês, ele se aproximou do porteiro, mas sem tocá-lo. O médico afirmou aos agentes que se aproximou do funcionário e disse: "Você não tem competência para fechar a porta. Não deve trabalhar aí".
Ele negou no depoimento ter agredido Reginaldo e também disse que não xingou o porteiro.
Câmeras registraram agressão
As imagens das câmeras de segurança do prédio mostram o momento em que o o francês empurra com as duas mãos o pescoço do porteiro Reginaldo Silva.
Os vídeos registram, ainda, que, depois disso, o médico, gesticulando bastante na mesa em que o porteiro fica, vai para cima de Reginaldo. Entretanto, as câmeras não gravaram o áudio da conversa.
Francês denunciado por ameaças e ofensas racistas afirmou à polícia que viagem para a Europa seria para cuidar da saúde
Ainda assim, uma moradora que aparece nas imagens confirmou que Gilles David usou termos racistas ao se dirigir ao porteiro.
Ao deixar a delegacia, na quinta, o francês foi agressivo com as equipes de reportagem. Já dentro do carro, continuou mostrando irritação.
Uma das ameaças feitas pelo francês contra o porteiro Reginaldo pode ter ficado gravada na câmera do policial que atendeu o caso. A delegada espera só a entrega das imagens pela Polícia Militar para concluir o inquérito.
Gilles David é investigado pelos crimes de ameaça, lesão corporal e injúria racial.
Repórteres empurrados
Na saída da delegacia, Gilles David empurrou repórteres e cinegrafistas, e tentou esconder o rosto quando entrou no carro. Irritado, o médico chegou a dar socos no vidro do veículo na direção aos repórteres.
Médico francês Gilles David Teboul foi agressivo com os jornalistas após entregar o passaporte na última quinta-feira (7) para a Polícia Civil. Ele é investigado por agressão e racismo contra o porteiro de um prédio em Copacabana.
Na última quarta (6), a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, decidiu que o médico está proibido de deixar o país. Além de deixar o país, ele está proibido de aproximar-se do porteiro e de molestá-lo sob qualquer pretexto.
Para deixar o país, Gilles precisa de autorização judicial e a saída deve estar comunicada às autoridades de fiscalização das fronteiras por via aérea, marítima e terrestre.
Uma testemunha disse em depoimento que todo ano Gilles fica seis meses na França e os outros seis meses no Brasil, e que ele estaria com viagem marcada para o país de origem ainda este mês, podendo inclusive antecipar a viagem.
O passaporte do francês ficará sob a guarda da delegada Natacha Alves de Oliveira, da 12ª DP (Copacabana), responsável pela investigação.
O advogado de Gilles, Marcio Barros, disse que o cliente nega ter ofendido o porteiro e que o médico esclarecerá tudo, colaborando com a investigação.
Por falta de condições emocionais, porteiro que denunciou racismo pede licença do trabalho
Porteiro se afasta do trabalho
O porteiro que denunciou o médico por racismo pediu afastamento do trabalho nesta quarta (6) por falta de condições emocionais. Ele disse que não conseguia dormir nem comer.
Reginaldo Silva de Lima pediu licença por três dias, porque não estava em condições de exercer as atividades na portaria.
O porteiro chamou a polícia e relatou ter sido ameaçado pelo morador Gilles David Teboul. Ele conta que estava atendendo um hóspede quando Gilles, que é francês, passou e chamou a sua atenção porque a porta do elevador de serviço estava aberta.
"Ele voltou e falou: 'Seu incompetente. Você não está vendo que a porta do elevador está aberta? Você não tem capacidade para fazer essa função. Seu negro!'", contou Reginaldo.
O porteiro disse ainda que foi agredido e ameaçado de morte pelo morador.
“Ele me chamou de negro, macaco, vagabundo. Falou que pela minha cor eu não tinha capacidade de exercer a função de porteiro”, disse Reginaldo.
O porteiro afirmou que as ofensas continuaram na frente dos policiais.