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    porto velho, sábado 8 de fevereiro de 2025

Mãe de adolescente morto pela polícia francesa diz que culpa apenas o policial que atirou

França vive onda de protestos por conta da violência e discriminação policial que atinge jovens negros e árabes no país


cnn

Publicada em: 30/06/2023 10:22:47 - Atualizado

MUNDO: A mãe de um menino de 17 anos morto pela polícia francesa diz que culpa apenas o policial que atirou em seu filho, uma tragédia que provocou três noites seguidas de tumultos destrutivos e reacendeu um acalorado debate sobre discriminação e policiamento em comunidades multiétnicas de baixa renda.

O menino, Nahel, foi morto a tiros durante uma fiscalização de trânsito que ocorreu na manhã da terça-feira (27) no subúrbio parisiense de Nanterre. Imagens do incidente filmadas por um espectador mostraram dois policiais posicionados do lado do motorista do carro, um dos quais disparou sua arma contra o motorista, embora ele parecesse não estar em perigo imediato.

Segundo o promotor de Nanterre, Pascal Prache, o policial disse que atirou com medo de que o menino atropelasse alguém com seu carro.

“Não culpo a polícia, culpo uma pessoa, aquela que acabou com a vida do meu filho”, disse a mãe de Nahel, Mounia, à televisão France 5 em uma entrevista para as câmeras.

Prache disse que acredita-se que o policial tenha agido ilegalmente usando sua arma. Atualmente, ele está enfrentando uma investigação formal por homicídio culposo e entrou em prisão preventiva, informou a BFMTV, afiliada da CNN, na quinta-feira (29). Apesar dos apelos de altos funcionários por paciência para permitir que o sistema judicial siga seu curso, um número significativo de pessoas em toda a França continua chocado e com raiva, especialmente homens e mulheres jovens de cor que foram vítimas de discriminação pela polícia.

Por três noites seguidas, essa raiva deu lugar a protestos violentos em todo o país.

Antecipando uma noite de tumultos, a França destacou cerca de 40.000 agentes nesta quinta-feira e enviou sua força policial de elite, a RAID, para as cidades de Bordeaux, Lyon, Roubaix, Marselha e Lille para ajudar a conter os protestos, nos quais 875 pessoas foram detidos em todo o país, anunciou o Ministério do Interior na manhã de sexta-feira. Segundo as autoridades, 249 policiais e gendarmes ficaram feridos.

Houve confrontos entre manifestantes e policiais no bairro parisiense de Nanterre – onde Nahel, de 17 anos, morreu dias antes – e na cidade portuária de Marselha, no sul.

Em meio a escombros em chamas, uma parede em Nanterre foi pintada com spray com “vengeance pour Nael”, que se traduz como “vingança por Nael”, referindo-se ao adolescente morto e usando uma grafia alternativa de seu nome, de acordo com imagens do subúrbio.

Um banco foi incendiado em Nanterre, segundo fotos tiradas no local, e 15 pessoas foram detidas para interrogatório pela polícia depois que uma marcha em memória do adolescente se tornou violenta.

Manifestantes lançaram fogos de artifício contra policiais em Marselha, de acordo com a afiliada da CNN BFMTV, enquanto imagens da cidade de Lille, no norte, mostraram incêndios nas ruas e agentes de choque correndo. Seis pessoas foram detidas para interrogatório após participarem de um protesto proibido pelas autoridades em Lille, informou a autoridade regional em um post no Facebook. O presidente Emmanuel Macron realizará uma reunião de crise nesta sexta-feira (30) pelo segundo dia consecutivo após a violência na noite de quinta-feira, informou a BFMTV.

As autoridades esperam evitar a repetição das cenas vividas na noite de quarta-feira (28), quando delegacias, prefeituras e escolas foram incendiadas em várias cidades e cerca de 150 pessoas foram presas. O Ministério do Interior anunciou que planeja enviar 40.000 policiais em todo o país na quinta-feira, 5.000 deles em Paris, para reprimir possíveis distúrbios.

Os distúrbios começaram na terça-feira, horas depois que um controle de trânsito da polícia em Nanterre resultou na morte de Nahel. Ao longo de uma noite caótica, 40 carros foram queimados e 24 policiais ficaram feridos, segundo as autoridades francesas. O policial foi colocado sob investigação formal por homicídio culposo e colocado em prisão preventiva, informou a BFMTV na quinta-feira.

Nesta quinta-feira, cerca de 6.000 pessoas, segundo a BFMTV, se juntaram a uma marcha em homenagem a Nahel liderada por sua mãe em Nanterre.

Muitos usavam camisetas com os dizeres “justiça para Nahel”, enquanto outros entoavam o mesmo slogan. Alguns foram vistos segurando cartazes onde se lia “morte policial”. Um advogado da família confirmou na quinta-feira que o nome do menino era Nahel (ele foi inicialmente identificado como Naël).

Os ônibus e bondes de Lille fecharam após as 20h, horário local, de acordo com a BFMTV, e alguns subúrbios parisienses estabeleceram toque de recolher.

Os serviços de ônibus e bondes também foram suspensos na região de Île-de-France, que inclui Paris, a partir da noite de quinta-feira, informou a autoridade de transporte local.

Os ministros do governo foram solicitados a adiar viagens não urgentes e permanecer em Paris devido aos protestos, disse uma fonte do governo à CNN na quinta-feira, falando sob condição de anonimato e citando os padrões profissionais franceses.

As cenas violentas dos últimos dois dias levantaram preocupações de que a morte de Nahel levará a um nível de inquietação e agitação não visto desde 2005, quando a morte de dois adolescentes escondidos da polícia provocou três semanas de agitação e levou o governo a decretar um estado de emergência.


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