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porto velho, segunda-feira 30 de dezembro de 2024
MUNDO- O Papa Francisco participou de um encontro nesta sexta-feira (1º) com um grupo de refugiados rohingyas, em Daca, em Bangladesh. Pela primeira vez, ele falou o nome dessa minoria muçulmana em público durante sua viagem à Ásia, chamando a atenção para a crise humanitária envolvendo o grupo que já é uma das mais graves no século XXI.
"A presença de Deus também é chamada Rohingya", afirmou o pontífice. Desde o fim de agosto, mais de 620 mil rohingyas deixaram Mianmar após uma onda violência, que a Organização das Nações Unidas (ONU) classificou "limpeza étnica".
Apesar de diversas menções indiretas à perseguição étnica e religiosa, em nenhum momento o papa tinha mencionado os rohingyas em seus discursos desde o início da sua viagem, que teve uma primeira parada em Mianmar.
A não menção do termo foi um pedido do clero de Mianmar a Francisco - o nome desta minoria é um tabu no país, que considera estrangeiras as pessoas pertencentes a esse grupo. O pontífice não quis correr o risco de fazer com que os católicos, que também são minoria no país, tornem-se também alvos de perseguições.
O encontro com os refugiados rohingyas aconteceu após um evento ecumênico do qual Francisco participou, no jardim da sede do arcebispado, com representantes de muçulmanos, budistas, hindus e outros cristãos em Daca.
Um grupo de três famílias, com 16 pessoas no total, entre elas duas mulheres com nikab (que deixa apenas os olhos descobertos), uma menina e um bebê, aproximaram-se para saudar ao papa, que parou com cada um deles para trocar algumas palavras. Os rohingyas estão instalados no campo de refugiados na província de Cox's Bazar, no oeste de Bangladesh, segundo a Efe.
Os refugiados sobrevivem em situação precária em Bangladesh em acampamentos do tamanho de cidades com a ajuda da doação de alimentos.
Em seu primeiro dia em Daca, na quinta-feira, o Papa Francisco pediu "medidas eficazes" para ajudar os rohingyas.
A crise humanitária envolvendo os rohingyas, uma das mais graves no século XXI, é o pano de fundo para a viagem do Papa Francisco à Ásia, que começou com sua visita a Mianmar. Essa que foi a primeira vez que um pontífice foi ao país, que é majoritariamente budista e está sendo acusado de limpeza étnica.
Durante a visita, o papa se encontrou com Aung San Suu Kyi, que, apesar de detentora de um Nobel da Paz, é criticada pela comunidade internacional pela falta de ação - e aparente conivência - em relação à perseguição dos rohingyas.
A atual fuga dos rohingyas começou com uma série de operações de represália das Forças de Segurança de Mianmar lançadas após ataques, em 25 de agosto, do grupo rebelde Exército de Salvação Rohingya de Arakan a postos militares e policiais, no estado de Rakhine.
Mais cedo nesta sexta-feira, o Papa Francisco celebrou uma missa para 100 mil católicos em um parque de Daca. As autoridades adotaram medidas de segurança para o evento, porque o país registrou vários ataques jihadistas contra minorias religiosas, incluindo os cristãos, nos últimos anos. Desde 2015, pelo menos três cristãos morreram em ataques atribuídos a extremistas muçulmanos.
Em um discurso pronunciado diante das autoridades civis do país na capital de Mianmar, Naypyidaw, o papa também defendeu um "compromisso pela justiça e respeito aos direitos humanos", de acordo com a France Presse.