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porto velho, sábado 23 de novembro de 2024
BRASIL: Eu já percorri muitos caminhos na seara política e ao longo dos anos vi muitas mudanças. Confesso que sinto saudade de um tempo em que as campanhas eleitorais eram feitas no corpo a corpo, olho no olho, com sinceridade e vontade de fazer a diferença.
Era assim que eu, como muitos outros, pedia o voto, apertando a mão do eleitor, ouvindo suas demandas e apresentando propostas com clareza. O diálogo era direto, honesto, e as promessas, por mais desafiadoras, eram feitas de maneira pessoal, levando em consideração a realidade de cada comunidade da vida rondoniense.
Hoje, no entanto, me vejo distante dessa prática que tanto me cativou. A campanha mudou, e não posso deixar de lamentar o que se tornou. A política, que já foi uma troca genuína de ideias, uma verdadeira construção de confiança entre candidato e eleitor, agora é, em grande parte, dominada pela internet. Redes sociais se transformaram no principal campo de batalha, onde vence aquele que consegue dominar melhor os algoritmos, as estratégias de marketing e a produção de conteúdo que viraliza. Infelizmente, a essência da política, que é servir à população, fica em segundo plano.
Vejo com tristeza que, atualmente, o caráter de um candidato ou suas boas propostas não parecem ser o suficiente. É como se as redes sociais tivessem criado uma campanha surda. Ninguém mais precisa se ouvir. O que vale é quem tem mais curtidas, mais seguidores, mais engajamento – como se isso fosse a medida da competência de alguém para administrar o bem público. Aquele que tem boas ideias, propostas concretas e honestidade, mas não sabe "vender" sua imagem na internet, acaba perdendo para quem domina melhor as estratégias digitais, mesmo que lhe falte o conteúdo necessário para a governança pública.
Não se trata de negar a modernidade ou a importância da tecnologia no processo democrático, mas de questionar o que se perdeu nesse caminho e foi alojado no silêncio.
Antes, um aperto de mão significava confiança; hoje, um clique em "curtir" pode ser apenas superficialidade. A política está cada vez mais distante de suas raízes, de suas verdadeiras responsabilidades. E o maior prejudicado, no final, é o próprio eleitor, que muitas vezes não vê além da tela do celular e acaba elegendo candidatos que são bons de mídia, mas fracos de caráter e propostas.
Eu sou saudosista, sim. Saudosista de uma política que, mesmo imperfeita, era feita com mais verdade, mais presença. De uma política onde, para pedir o voto, você tinha que estar disposto a ouvir o outro e se comprometer a fazer a diferença, não só a “aparecer” bem nas redes.
Espero que, um dia, possamos resgatar um pouco dessa essência, para que a política volte a ser um caminho para servir, e não apenas para ganhar seguidores e eleger ‘pseudos’ representantes, distantes das reais necessidade de seu povo.
Sendo assim, estou de volta!
Amir Lando é advogado militante desde a década de 70. Foi deputado estadual, federal, senador da República e Ministro da Previdência. Foi relator do impeachment que tirou Collor do poder.