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    porto velho, sábado 1 de março de 2025

O carnaval do passado e o choque cultural do presente - por Arimar Souza de Sá

Antigamente, o carnaval da cidade fora palco de intensas rivalidades e paixões, que se entrelaçavam, formando um espetáculo único de cores...


Redação

Publicada em: 01/03/2025 10:02:37 - Atualizado

Foto - edição Rondonoticias

PORTO VELHO, RO - Festa popular onde o homem dá férias ao cansaço do corpo e se entrega à fantasia durante quatro dias, o Carnaval de Porto Velho é como um rio caudaloso e vibrante, que corre pelas avenidas da cidade e invade a alma dos foliões, carregando lembranças de uma festa gloriosa no passado que se reinventa a cada ano.

Antigamente, o carnaval da cidade fora palco de intensas rivalidades e paixões, que se entrelaçavam, formando um espetáculo único de cores, sons e emoções, e se desenhava com o brilho dos bailes no Danúbio Azul, Bancrévea Clube e no Imperial, três clubes emblemáticos onde a elite da cidade se entregava ao luxo, à sofisticação, e ao amor.

Mas, aos poucos, Porto Velho foi trocando as paredes fechadas desses salões pela cor e o calor das ruas, onde o samba acabou encontrando seu verdadeiro lar.

E foi exatamente nesse cenário que surgiram as duas grandes escolas de samba da cidade: ‘Diplomatas do Samba’ e ‘Pobres do Caiari’. A rivalidade entre elas, com suas características tão distintas, sempre foi o combustível que acendeu a chama do Carnaval da capital rondoniense, fazendo com que cada desfile fosse mais do que uma competição: era uma celebração da alma fervorosa da cidade.
Os Diplomatas do Samba chegaram ao palco de Momo com a elegância dos bailes de gala de então. Cada passo, cada movimento, era meticulosamente ensaiado, com o requinte de quem se dedica à perfeição, para se exibir garbosamente na avenida.

Sob a batuta de mestres como “Bola Sete”, que com sua visão criativa e talento impecável transformava cada desfile em uma obra de arte, os Diplomatas exalavam uma aura de grandeza. Eles sabiam que o samba podia ser majestoso, que cada alegoria e fantasia poderia ser um quadro pintado com as cores da história e da sua tradição. O samba dos Diplomatas não era apenas uma dança – era uma oração, uma homenagem à cultura, ao passado e ao futuro da cidade.

Do outro lado da avenida, os Pobres do Caiari, que nesse 28 de fevereiro completa 61 anos de existência, representavam a energia pura, o samba no pé, em sua essência histórica, com a força de um grito de liberdade. Com o coração pulsando forte nas ruas, os ‘Pobres’ desfilavam não apenas para ganhar, mas para fazer história.

Quem os assistiu não tem dúvidas de que seus desfiles eram explosões de criatividade, com alegorias que falavam diretamente ao povo e fantasias que transbordavam a essência do rondoniense.
Sob a direção de mestres carnavalescos como Cabeleira, Bola Sete, Flávio Daniel e Bainha, a escola Diplomatas trazia a verdadeira face do carnaval popular.

Já a Pobres do Caiari, comandada pelos mestres Manelão, Sílvio Santos, Babá, Marise Castiel e os irmãos Fernando e Vítor Sadeck, não era apenas uma sequência de batidas e evoluções – era a alma da cidade tocando no coração de cada folião. Era mais elitizado! E foi nesse fogo criativo, impulsionado pelo espírito de seus líderes carnavalescos, que as duas agremiações conquistaram o carnaval de Porto Velho, com a irreverência e a paixão de quem dança com a força das terras de Rondon.

Essa rivalidade, como um duelo entre dois impérios de samba, sempre foi alimentada pela força de seus mestres e pelo amor incondicional de seus brincantes ao carnaval.

E foi assim, com a garra e o espírito de luta de cada um desses nomes, que Porto Velho viu crescer o carnaval que hoje é uma das maiores festas do Norte do Brasil.

No entanto, a folia não parou no passado. Como um rio que nunca deixa de correr, o carnaval se renovou, trouxe novas influências e cores. O Carnaboi entrou na festa, com seus ritmos regionais e danças folclóricas, trazendo o boi-bumbá para as ruas da cidade. E o Axé, com sua energia contagiante e suas batidas envolventes, também se faz presente, misturando nesse caldeirão o calor das festas do Nordeste com a alegria contagiante do folião rondoniense.

E, no epicentro dessa festa, surge a Banda do Vai Quem Quer, o maior bloco carnavalesco da região Norte, que arrasta mais de 100 mil foliões pelas avenidas de Porto Velho. A ‘Vai Quem Quer’ é como um trovão que ecoa pelas ruas no sábado de carnaval, uma onda de energia que toma a cidade, arrastando multidões. Ela é uma espécie de fio condutor de uma tradição renovada, onde a música, o samba e a alegria contagiantes do passado se misturam ao presente e se tornam um só coração na folia, e hoje, guardadas as proporções, Porto Velho vive seu carnaval com a mesma paixão de ontem, com as mesmas cores vibrantes e a energia renovada.

As rivalidades, as histórias, os nomes lendários, tudo, tudo, faz parte dessa grande festa que continua a escrever seu legado nas ruas. Uma festa que nunca acaba e nem perde seu brilho, sempre se reinventa, sempre se transforma, mas sem nunca perder a essência que a consagrou na mente e no coração do povo rondoniense.

Bom carnaval à todos!
AMÉM!


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