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    porto velho, domingo 23 de março de 2025

A morte do coronel Ferro – Quando a farda se torna legado - por Arimar Souza de Sá

Ferro era intolerante com politicagem na segurança pública. “Crime se combate com estratégia, não com discurso”, dizia, sem paciência para vaidades...


Redação

Publicada em: 21/03/2025 20:04:53 - Atualizado

CRÔNICA DE FIM DE SEMANA - A morte do coronel Ferro – Quando a farda se torna legado

Arimar Souza de Sá

Há homens que passam pela vida como se estivessem apenas cumprindo expediente. E há outros que, mesmo depois de partirem, continuam comandando pelo exemplo: O coronel Walnir Ferro de Souza, foi desses.

Na manhã de segunda-feira, 17 de março, Rondônia perdeu um dos seus pilares da segurança pública. Mas não se perde uma fortaleza; ela se transforma em alicerce. Coronel Ferro não era apenas um militar; era um bastião da disciplina, um escudo contra o caos, um comandante cuja presença impunha ordem antes mesmo de qualquer ordem ser dada.

Ele costumava dizer: “Respeito não se impõe no grito, se conquista no olhar”. E assim fazia. Não precisava erguer a voz; seu semblante era a própria farda engomada da autoridade. Todo mundo o reverenciava, até os detentos o respeitavam, não por medo, mas pela postura. Se você quer que te escutem, aprenda a ouvir primeiro”, repetia aos mais novos.

Primeiro, foi da Guarda Territorial em 1969, guiado pelo pai — também homem da lei —, trilhou o caminho da coragem com passos firmes. Tornou-se o primeiro oficial da Polícia Militar de Rondônia e, depois, o primeiro filho deste chão a assumir o comando da corporação. Mais tarde, chegou ao posto de secretário de Segurança Pública, sempre carregando consigo a certeza de que a lei não se negocia. “O líder deve ver além da curva”, gostava de ensinar.

Esteve na linha de frente quando muitos preferiam a retaguarda. Quando o Acre ameaçou cruzar a linha em Extrema e Nova Califórnia, foi ele quem manteve Rondônia de pé. “Se recuar não é opção, avançamos com honra”, ordenou aos seus comandados. Ali, não era só o comandante que falava — era o Estado em voz firme, de comando e coração calmo.

Ferro era intolerante com politicagem na segurança pública. “Crime se combate com estratégia, não com discurso, dizia, sem paciência para vaidades. Talvez por isso tenha se tornado tão querido: porque nunca buscou aplausos, apenas resultado para a terra que lhe serviu de berço.

Mas nem só de rigidez era feito o Coronel Ferro. Nas horas vagas, gostava de estar entre os seus amigos. Ao lado de companheiros de farda, encontrava refúgio no bar do Biriba, no Conjunto Marechal Rondon. Era recebido como lorde por dona Atamar e Flávio, donos do comércio, e pelos amigos José Cleber, Lins, Serginho, Vicente, Cordeiro, Levi, Pity, Serjão, Álvaro e Cezinha. Sempre tinha à sua espera a melhor cadeira — daquelas de plástico, tipo "macarrão" — e um ambiente onde os risos eram tão fortes quanto as lembranças.

Entre um gole e outro, contava causos da caserna e se estraçalhava de rir quando os amigos relembravam suas façanhas de tempos mais agitados comandando sua tropa.

Sua esposa conta que, já doente, num desses dias em que a saudade falava mais alto que a dor, pediu para rever os amigos no Biriba. Não aguentava ficar em casa. Foi levado até lá, onde, por algumas horas, encontrou conforto na companhia dos parceiros de sempre, no mesmo ambiente onde, por tantos anos, celebrou a amizade e a vida.

Mas, ferro se foi para o andar de cima, e hoje, Rondônia sente o vazio. Mas não é silêncio de fim — é o respeito que se faz quando uma lenda se despede. O Coronel Ferro pode ter saído da tropa, mas a tropa jamais sairá dele.

Seu nome ecoará sempre que a coragem falar mais alto, sempre que a honra marchar na frente. Ele não apenas vestiu a farda, ele foi a farda. Não apenas comandou, ele inspirou. Não apenas viveu, ele deixou história.

E enquanto houver um policial marchando, um amigo brindando, um olhar firme impondo respeito sem precisar de palavras, Ferro ainda estará por aqui. Porque homens como ele não partem — apenas assumem outro posto, em um lugar onde o serviço nunca termina.

Homens como o coronel Ferro merecem no seu túmulo palavras assim: Aqui jaz um bastião da segurança pública, um homem que fez de ofício um sacerdócio e, com grandeza e sabedoria, deixou uma passagem luxuosa pelas terras de Rondon.

Descanse, Coronel! Seu legado… ah, esse - ainda está de serviço, de prontidão e continência....

AMÉM!


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