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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
BRASIL: A desaceleração da inflação e as novas regras fiscais anunciadas pelo governo não devem alterar a decisão do BC (Banco Central) de manter a taxa básica de juros no maior nível desde 2017 até o segundo semestre deste ano, conforme projeções de analistas do mercado financeiro.
Na visão dos economistas consultados semanalmente pela autoridade monetária, o primeiro corte da Selic acontecerá apenas no dia 20 de setembro, quando a taxa cairá 0,25 ponto percentual, dos atuais 13,75% para 13,5% ao ano.
Até o final deste ano, são estimadas duas outras quedas e a taxa básica de juros, projetada para finalizar 2023 em 12,5%, com baixas de 0,5 ponto percentual nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) encerradas nos dias 1º de novembro de 13 de dezembro.
João Mauricio Lemos Rosal, economista da Terra Investimentos, afirma que a nova expectativa de Selic em um nível menor ao final do ano é derivada do resultado do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) divulgado na semana passada.
"Os números positivos da inflação na semana passada, particularmente dentro dos núcleos, levar a essa pequena revisão das projeções de mercado para a taxa Selic", afirma ele ao comentar a alta de 0,71% do índice, inferior à projetada pelo mercado financeiro.
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, também vê com bons olhos o resultado da inflação do mês passado, cujo resultado devolveu a taxa acumulada nos últimos 12 para o intervalo da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Internacional), de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 1,75% para 4,75%).
“Quando você olha nos detalhes, percebe que o processo de perda de força da inflação foi retomado, com um processo de desinflação do setor de serviços e altas abaixo do esperado dos industrializados”, diz Rachel ao destacar que o BC ainda olha para o futuro para as tomadas de decisão sobre a política monetária.
As percepções levam em conta que a taxa Selic é o principal instrumento de política monetária para determinar o avanço dos preços em uma economia. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas opções de investimento pelas famílias.
Para Rachel, também deve pesar nos vereditos futuros do Copom as decisões que envolvem o novo arcabouço fiscal e, sobretudo, a possibilidade de alteração das metas de inflação. "A alteração da meta, em junho, para 4,5%, abre espaço para o Banco Central cortar os juros mais cedo, olhando para essa nova estimativa", avalia a chefe de economia.
A possibilidade de mudança ganhou mais força após o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sugerir a alteração ao classificar o atual patamar da Selic como "incompreensível". "Se a meta está errada, muda-se a meta", defendeu ele.
O movimento de manutenção dos juros altos por mais tempo surge mesmo diante das críticas do governo e do setor industrial contra o atual patamar dos juros. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) classifica o movimento como “equivocado”, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vê a taxa Selic como um entrave para o crescimento econômico do Brasil.
As percepções levam em conta que a elevação dos juros, apesar de ter potencial para conter a alta dos preços, diminui a disposição para o consumo e estimulam novas opções de investimento pelas famílias.
No patamar atual desde agosto, a taxa Selic já começou afeta o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Somente no último trimestre de 2022, quando a economia nacional encolheu 0,2%. Em janeiro deste ano, a prévia do BC (Banco Central) mostra um novo encolhimento da atividade econômica.
O Copom, no entanto, não descarta nova alta da taxa de juros na tentativa de conter a inflação. "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", destaca a ata da última reunião do grupo.