Fundado em 11/10/2001
porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
Os indicadores econômicos divulgados nos últimos dias pressionam o Banco Central (BC) para iniciar um ciclo de corte de juros. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano — patamar mantido pela autoridade monetária desde agosto de 2022.
No dia 7 de junho, o Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e surpreendeu os analistas de mercado. O índice oficial da inflação do país desacelerou para 0,23% em maio.
Em abril, o IPCA marcou alta de 0,61%, desacelerando em relação ao avanço de 0,71% de março. Em maio de 2022, a variação da inflação havia sido de 0,47%.
Porém, na visão de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a autoridade monetária só dará início ao processo de cortes na taxa de juros quando tiver certeza de que a inflação está em trajetória estável e em direção à meta.
“As expectativas ancoradas e sem grandes choques podem mudar a rota no meio do caminho. Choques positivos quanto negativos podem alterar esse cenário e suas respectivas probabilidades”, avalia o economista.
Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec-RJ, diz que a inflação de maio foi menor do que o mercado aguardava. Além disso, os índices medidos pelos IGPs da FGV estão favoráveis a uma mudança de direção do BC.
Referente aos indicadores que mais impactaram neste cenário no Brasil, Espírito Santo vê uma tendência para a queda de juros.
“Para os consumidores, os preços dos alimentos, bem como de combustíveis, que a Petrobras vem reduzindo. A safra agrícola foi recorde, isso alivia muito o orçamento familiar e era um grupo que vinha sofrendo bastante lá atrás. Ademais, o Boletim Focus vem mostrando nas últimas semanas uma maior ancoragem de expectativas.”
Algumas ações da equipe econômica do governo federal pressionam ainda mais a autarquia monetária do Brasil. O novo corte da Petrobras nos preços da gasolina, anunciado na quinta-feira (15), somado a um dólar consistentemente mais barato, está alimentando uma nova leva de revisões para baixo nas projeções de economistas para a inflação de 2023.
Alguns bancos e corretoras já falam até em um resultado que pode ficar em 5% ou abaixo disso até dezembro.
Outro indicador que mostra uma desaceleração nos preços é o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M). O último dado recuou 1,95% na primeira prévia de junho, após cair 1,13% na mesma leitura de maio, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).
A contração foi puxada por deflação do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), que recuou 2,74%, ante queda de 1,74% no mesmo período de maio.
Sung diz que desde a última reunião do Copom, realizada no início de maio, a inflação continuou dando sinais de arrefecimento e, diante de uma redução do risco fiscal, a taxa de câmbio passou a ser negociada abaixo dos R$ 5,00.
“Além disso, as expectativas melhoraram e as taxas das longas da curva de juro futura começaram a cair.”
Para ele, o BC não está somente preocupado com a inflação corrente, mas, principalmente, com a inflação futura.
“Se os agentes econômicos enxergarem uma inflação maior amanhã, hoje eles já incorporam este aumento nos seus contratos, nos salários e nos preços.”
Ao observar o Boletim Focus, que serve de parâmetro para os modelos do BC, o economista percebe que as expectativas para 2023 estão caindo relevantemente nas últimas semanas e, para 2024, há uma queda marginal.
“Além disso, o mais importante, as expectativas de longo prazo finalmente começaram a ceder. Após ficarem estáveis em 4% por várias semanas, o mercado passou a ver uma inflação de 3,90% para 2025 e 3,88% para 2026.”
Nos últimos comunicados, o Banco Central ressaltou a preocupação com as expectativas do IPCA para períodos mais longos. Sung pontua que essa primeira queda é um bom sinal.