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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
BRASIL: Após assassinar o sogro, Manfred von Richthofen, há mais de 20 anos, Daniel Cravinhos revela que será pai aos 43 anos. Ele foi condenado a 39 anos de prisão no ano de 2004, e cumpre o restante da pena em liberdade desde 2017. A condenação termina em 2041. Em entrevista à coluna True Crime, do jornal O Globo, Cravinhos diz carregar uma culpa "colossal e devastadora" pelo crime. "Não cometi um erro. Eu matei uma pessoa. Essa é a verdade. Mesmo depois de pagar toda a minha pena, estarei com esse estigma de assassino", diz ele.
Cravinhos era namorado de Suzana Richthofen (hoje Suzane Magnani Muniz após se casar e adquirir o sobrenome do marido) na época em que os dois mataram os pais dela. Hoje, Daniel namora a maquiadora Andressa Rodrigues, que está grávida de 11 semanas.
“Não sou oportunista para, nesta fase da vida, colocar toda a culpa nela (Suzane)”, disse Cravinhos no tribunal, sobre ter cometido o homicídio por vontade própria.
O bebê com Andressa deve nascer perto do aniversário de Suzane, que já tem um filho, nascido no mesmo dia do aniversário de Cravinhos, em janeiro.
"Como não tenho mais qualquer vínculo com a Suzane, essas questões de data não me afetam em nada. Mas confesso que não gostaria que meu filho fizesse aniversário no mesmo dia que ela", revela o ex-namorado de Suzane na entrevista ao jornal O Globo.
Hoje, Daniel trabalha em uma oficina, fazendo a personalização de capacetes e motos para competições. Ele também pilota aviões de aeromodelismo no Parque Ibirapuera por hobby. O local foi onde conheceu Suzane e Andreas (irmãos Richthofen).
Nas redes sociais, ele compartilha o trabalho e nem sempre recebe elogios. “Já ouvi comentários do tipo: ‘O capacete ficou ótimo, mas você sabia que foi feito por um assassino?’ Isso machuca, mas eu continuo seguindo em frente. Esse tipo de reação faz parte da minha penitência”, diz Cravinhos.
Andreas von Richthofen, irmão de Suzane, vive hoje isolado em uma chácara que pertenceu aos seus pais. Cravinhos já escreveu uma carta aberta a ele.
"Estava detido em Tremembé, mas minha mente continuava livre aqui fora. Andreas está em liberdade, mas sua mente está aprisionada. Hoje, tenho maturidade e discernimento para seguir em frente. Gostaria que ele também pudesse continuar sua jornada, mesmo diante de todas as adversidades. Sinto-me profundamente mal em viver minha vida enquanto ele está estagnado por minha causa. Sinto-me moralmente obrigado a estender-lhe a mão", disse Cravinhos na entrevista.
Questionado sobre a tentativa de contato com Andreas, ele responde:
"Já ensaiamos esse contato por meio de um amigo em comum do aeromodelismo. Estou dando este passo mais ousado para que ele saiba do meu desejo. Agora, aguardo uma resposta", disse.
Perguntado sobre o motivo de não ter procurado Andreas pessoalmente, Cravinhos respondeu: "Logo após a tragédia, Suzane tentou um contato com o irmão e acabou sendo denunciada à polícia por ameaça. Se Andreas se sentir ameaçado por mim e me denunciar, posso perder o regime aberto e voltar à prisão. Por isso, optei por deixar minhas intenções claras e públicas".
"Sempre fomos muito unidos. Fazíamos tudo juntos. Gostamos dos mesmos esportes. Assim como ele, vivo em uma prisão mesmo estando livre, pois não consigo fazer tudo o que as pessoas fazem. Longe de mim querer me comparar a ele. Eu cometi um erro. Ele não cometeu erro algum e está desamparado, vivendo sozinho. Quero dar-lhe carinho", completou Daniel.
Cravinhos diz ainda que usa a palavra "erro" para falar sobre o crime porque não consegue dizer "eu sou um assassino".
"Não consigo dizer 'eu sou um assassino' ou 'eu cometi um crime'. Essas expressões me machucam muito, me desestabilizam emocionalmente. Mas você tem razão. Não cometi um erro. Eu matei uma pessoa. Essa é a verdade. Mesmo depois de pagar toda a minha pena, estarei com esse estigma de assassino", afirmou ele ao Globo.
Sobre revelar o crime ao filho, Cravinho diz: "Não vou esconder dele o que fiz. Seria impossível fazer isso em um mundo como o de hoje. Minha história está contada nos jornais, livros e filmes. Quando ele tiver idade para ouvir a verdade, eu mesmo vou me abrir e contar tudo".
Cravinhos diz que apesar de publicar fotos personalizando capacetes e veículos, isso não significa que ele está bem.
"Carrego uma culpa colossal e devastadora. As pessoas não fazem ideia. Posto fotos correndo de moto e customizando veículos de corrida capacetes. Mas isso não significa que estou bem. Os eventos passados continuam a afetar a mim e à vida das pessoas envolvidas, mesmo após muitos anos. Estou tentando viver com os meus fantasmas. Não é fácil. Nem espero que as pessoas entendam o que fiz, porque o que fiz não tem explicação, não tem perdão nem clemência", revela.
"Já fui parado em blitzes na cidade e, surpreendentemente, fui bem tratado pelos policiais. No entanto, os profissionais de saúde me detestam. Sempre que preciso de atendimento médico, sou maltratado. Em dezembro, sofri um acidente de moto na avenida 23 de Maio e fiquei com um corte grande no braço. Precisava ir ao hospital para dar pontos, mas não tive coragem. Fiz a sutura em casa com cola Super Bonder e fita durex. Não estou me vitimizando, pois esse papel nem me cabe diante do que fiz. Queria apenas relatar como é meu dia a dia", conta Daniel ao Globo.
"Quero dizer às pessoas que cometi um crime, me arrependi profundamente e pago por ele até hoje. Não sou uma pessoa feliz. Apenas tento recomeçar a vida como um homem comum", acrescenta.
"No começo, pintava motos e capacetes anonimamente. Era muito elogiado. Mas as pessoas descobriram e passaram a me rejeitar. Um empresário me deu uma chance e me permitiu trabalhar na oficina da equipe de corrida dele. Na época, ele me disse: 'trabalhe aqui. Você vai sangrar, mas não vai morrer'. Hoje, está mais tranquilo. Mostro meu trabalho nas redes sociais e sou mais aceito pelo público", diz Daniel.
"Não tem como apontar um único motivo. Eu era tão idiota e imaturo na época que não tinha uma razão específica. Posso dizer que falhei não só com as vítimas, mas também com Andreas, com minha família e comigo mesmo. Se eu fosse homem e não um moleque, teria resolvido meus conflitos de outra forma", disse Cravinhos.
Questionado sobre a especulação de que ele e Suzane cometeram o crime porque os pais dela eram contra o relacionamento dos dois, ele respondeu:
"Isso é a maior bobagem que poderíamos apontar como motivação. As razões são um conjunto de fatores que incluem paixão, possessão, irresponsabilidade, impulsividade, descontrole, inconsequência, raiva, imaturidade e cegueira. Suzane mentiu, dizendo que o pai dela deu apenas um tapa em seu rosto. A verdade é que ela sofreu uma série de agressões em casa. Não estou justificando o crime, apenas relatando um fato que testemunhei para responder melhor à sua pergunta".
Suzane tramou o assassinato de seus pais, mortos enquanto dormiam, junto a seu namorado e o irmão dele, Cristian Cravinhos, com o objetivo de ficar com a herança de sua família Richthofen. As vítimas, Manfred e Marísia von Richthofen, descansavam quando foram mortos por diversos golpes desferidos na cabeça com barras de madeira e metal.
Ela foi condenada a 39 anos de reclusão, continua cumprindo a pena em regime aberto desde o início de 2023.
Sobre a ex-namorada, Cravinhos diz que não sente nada. E finaliza dizendo que se a encontrasse num elevador, por exemplo, ele sairia "às pressas, sem olhar para trás".
"O crime nos uniu, de fato. Mas essa união não é sentimental. Minha vida amorosa com ela está totalmente resolvida, embora nunca tenhamos rompido pessoalmente. Não sinto coisa alguma por ela. Nem ódio, nem carinho, nem desprezo, nem nada", disse Daniel Cravinhos.