MUNDO: O Reino Unido enfrenta uma “década perdida” de crescimento se não forem tomadas medidas para lidar com a queda do investimento empresarial e a escassez de trabalhadores, alertou um importante grupo de lobby empresarial.

Em uma previsão econômica sombria publicada nesta segunda-feira (5), a Confederação da Indústria Britânica (CBI) disse que três quartos das empresas estão lutando para encontrar as habilidades e trabalhadores de que precisam. Ele pediu mudanças na política do governo, incluindo um sistema de imigração mais flexível e incentivos fiscais para aumentar o investimento.

“A Grã-Bretanha está em estagflação – com inflação disparada, crescimento negativo, queda na produtividade e no investimento empresarial. As empresas veem oportunidades de crescimento em potencial, mas a falta de ‘razões para acreditar’ diante dos ventos contrários está fazendo com que parem de investir em 2023”, disse o diretor geral da CBI, Tony Danker, em comunicado.

“Veremos uma década perdida de crescimento se nenhuma ação for tomada. O PIB é um simples multiplicador de dois fatores: pessoas e sua produtividade. Mas não temos as pessoas de que precisamos, nem a produtividade”, acrescentou Danker.

O Reino Unido é a única economia do G7 que ainda não se recuperou totalmente da pandemia. O aumento dos custos de energia e alimentos levou a inflação a uma alta de 41 anos em outubro. Greves generalizadas se tornaram a norma nos últimos meses, à medida que os trabalhadores sentem o agravamento da crise do custo de vida.

Os trabalhadores do Reino Unido sofreram a maior queda em seu poder de compra em mais de 20 anos entre abril e junho, quando os salários reais médios – que consideram a inflação – caíram 3%. A queda dos salários reais foi menos acentuada no terceiro trimestre, mas ainda assim foi uma das maiores desde o início dos registros oficiais em 2001.

Em um sinal de como a ação grevista se tornou perturbadora, o presidente do Partido Conservador, Nadim Zahawi, disse no domingo que o governo está pensando em trazer os militares para manter os serviços públicos funcionando.

As perspectivas para a economia do Reino Unido no próximo ano estão entre as mais fracas das nações avançadas cobertas pela previsão do CBI, com apenas o PIB alemão devendo cair em um ritmo ligeiramente mais rápido. A Alemanha sentiu toda a força da crise energética desencadeada pela invasão russa da Ucrânia.

O CBI espera que a economia do Reino Unido encolha 0,4% em 2023 – um rebaixamento significativo em relação ao crescimento de 1% previsto em junho. Prevê-se que a economia recupere seu tamanho pré-Covid apenas no segundo trimestre de 2024.

A inflação deve cair gradualmente ao longo do próximo ano, mas permanecerá significativamente acima da meta de 2% do Banco da Inglaterra em 2023 e levará a um declínio de um ano nos gastos do consumidor, prevê a CBI.

O grupo espera que o investimento empresarial caia a partir de meados do próximo ano, ficando 9% abaixo do nível pré-pandêmico no final de 2024. A produção por trabalhador deve permanecer 2% abaixo de sua tendência pré-Covid “já fraca” naquela época, disse o CBI.

“Embora seja um consolo que a próxima recessão seja superficial, é preocupante que a fraqueza de longo prazo na produtividade e no investimento empresarial pareça estar se consolidando”, disse o principal economista do CBI, Alpesh Paleja, em um comunicado. “Não é um bom presságio para os padrões de vida e a capacidade da economia de crescer no longo prazo.”

O grupo disse que o governo deve lidar com os déficits de investimento com incentivos fiscais permanentes, que estima liberar £ 50 bilhões (US$ 61,4 bilhões) em investimentos de capital por ano até o final da década.

“Não podemos nos dar ao luxo de ter outra década em que [investimento e produtividade] estejam estagnados”, disse Danker.