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    porto velho, sábado 13 de setembro de 2025

Pai e filho italianos compraram cerca de uma tonelada de ouro de terra indígena

Polícia Federal investiga ação de organização criminosa envolvida em garimpo ilegal; dupla já tem antecedentes criminais de comércio irregular de minério...


TERRA.COM.BR

Publicada em: 13/12/2021 06:31:02 - Atualizado

BRASÍLIA - A escolha do nome Terra Desolata para a operação da Polícia Federal não foi mera citação à expressão italiana que, em português, remete à "terra devastada". Um dos principais elos da organização criminosa investigada pela PF é a atuação de uma família de italianos que atua há décadas no comércio de ouro. Pai e filho, Mauro Dogi e Giacomo Dogi chegaram a adiantar dezenas de milhões a agentes do garimpo, para receber depois a mercadoria retirada ilegalmente da terra indígena Kaiapó, no sul do Pará.

O inquérito aponta que a empresa da família Dogi, a CHM do Brasil, sediada em Goiânia, fez 3.179 operações de compra de joias, pedras e metais preciosos no período de cinco anos entre setembro de 2015 a setembro de 2020, movimentando mais de R$ 2,142 bilhões. Somente de garimpeiros do Sul do Pará, os quais raramente possuem o documento de permissão de lavra garimpeira (PLG), a empresa desembolsou nada menos que R$ 246,5 milhões no período, valor que corresponde a, aproximadamente, uma tonelada de ouro extraído de forma ilegal.

O negócio era viabilizado por meio da empresa CHM do Brasil Metais, que tem sede em Goiânia, e sua parceira diretamente na Itália, a empresa Chimet SPA Recuperadora e Beneficiadora de Metais, conhecida mundialmente em recuperação e refino de metais preciosos. É uma parceria de décadas. Mauro Dogi, que fundou a CHM do Brasil, trabalhou antes para a Chimet. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) levantou que a italiana Chimet SPA remeteu à CHM do Brasil mais de R$ 2,106 bilhões.

De acordo com as investigações, os nomes de Mauro Dogi e Giacomo Dogi não são novidades nos inquéritos policiais. Ambos têm antecedentes criminais ligados a comércio ilegal de minério e já foram citados como principais destinatários do ouro ilegal extraído de terras indígenas da região de Cumaru do Norte, também no Pará.

A negociação para a compra de ouro incluía uma série de empresas e pessoas, mas dois intermediários se destacavam nessas transações, os irmãos Walterly Guedes Pereira dos Santos e Vergelina Pereira dos Santos.

A confiança dos italianos nas operações com Walterly era tanta que, em dois anos e quatro meses, o investigado recebeu diretamente da empresa CHM do BRASIL, em 102 operações, mais de R$ 14,5 milhões como "antecipação para entrega de mercadoria futura" de jóias, pedras e metais preciosos".

O problema é que nem Walterly, sua irmã ou sua empresa, a W.G.P. dos Santos Comércio de Metais, possui autorização de compra e venda de ouro ou permissão de lavra garimpeira(PLG), além de não serem classificados como Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), ou seja, não têm condição para realizar atividades relacionadas ao comércio de minério e metais preciosos. A PF concluiu que Vergelina Pereira dos Santos atuava como braço operacional do irmão. O Coaf identificou que ela fez 142 saques nas contas bancárias de Walterly, em um período de 20 meses, com movimentação de mais de R$ 16,175 milhões. Os saques realizados, em sua maioria, se destinavam a pagamentos a fornecedores.

"A investigada Vergelina atua como compradora de ouro ilegal extraídos, principalmente, de terra indígenas, em nome de seu irmão Walterly, compondo, desta forma, a organização criminosa, realizando os primeiros atos, com o fim de concretizar o comércio ilegal de ouro, inclusive para o exterior", afirma o inquérito. As exportações eram realizadas, muitas vezes, em voos privados, sem o conhecimento das autoridades competentes e sem passar pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).

A Cooperativa de Garimpeiros de Ourilandia e Região (Cooperouri) não se manifestou até o fechamento deste texto. A reportagem não conseguiu contato com a empresa CHM do Brasil. A italiana Chimet SPA foi acionada, mas não se manifestou até esta publicação.


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