• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, quarta-feira 8 de janeiro de 2025

Perder gordura visceral protege contra Alzheimer, diz estudo

Diferentemente da gordura subcutânea, a visceral é mais profunda e se acumula entre órgãos vitais.


Paloma Oliveto

Publicada em: 07/01/2025 09:36:57 - Atualizado

BRASIL: A gordura visceral — aquela armazenada na região abdominal, em volta dos órgãos vitais — na meia-idade pode ser um fator de risco futuro para doença de Alzheimer, segundo um estudo norte-americano. Os autores sugerem que emagrecer e reduzir o tecido adiposo na faixa dos 40-50 anos pode ser uma estratégia bem-sucedida na prevenção da demência.

No estudo, 80 pessoas com idade média de 49,4 anos e sem problemas cognitivos foram submetidas a tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) e ressonância magnética, este último para medir o volume da gordura subcutânea (sob a pele) e da visceral. Também passaram por avaliações metabólicas e de painel lipídico (colesterol). Aproximadamente 57,5% dos participantes eram obesos, e o índice de massa corporal (IMC) médio foi de 32,31 (obesidade grau 1).

O PET scan é um dos exames usados no diagnóstico do Alzheimer, porque faz uma varredura do cérebro em busca do acúmulo de substâncias associadas à doença. O excesso das proteínas amiloide e tau antecedem em até 20 anos os sintomas clássicos, como esquecimento e outros déficits cognitivos.

Insulina

"Nosso estudo mostrou que o volume maior gordura visceral estava associada a níveis mais altos no cérebro das duas proteínas patológicas características da doença de Alzheimer — amiloide e tau", disse, em nota, a autora principal, Mahsa Dolatshahi, pesquisadora da Universidade Washington de St. Louis. Os exames também apontaram que a maior resistência à insulina e taxas baixas de colesterol HDL (o “colesterol bom”) tinham relação com o depósito de amiloide.

"Uma implicação fundamental do nosso trabalho é que o gerenciamento do risco de Alzheimer na obesidade precisará envolver o direcionamento dos problemas metabólicos e lipídicos relacionados, que frequentemente surgem com maior gordura corporal", complementou o radiologista Cyrus A. Raji, autor sênior do estudo.

A endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora clínica da Atma Soma, em São Paulo, e fundadora do projeto Cérebro em Ação, explica que as proteínas amiloide e tau são sinais precoces de um possível diagnóstico futuro da doença neurodegenerativa. “As placas amiloides geralmente surgem primeiro, com os emaranhados tau chegando mais tarde, conforme a doença progride. Quanto mais volume dessas proteínas o cérebro detém, mais ele fica doente, apresentando um fluxo sanguíneo menor, sinais de atrofia ou um desgaste da massa cinzenta no hipocampo, que envolve a memória”, diz.

Inflamação

Segundo a médica, é possível medir a gordura visceral por meio de exames como ressonância magnética abdominal, densitometria de corpo inteiro com medida de gordura corporal e bioimpedância. “Quanto mais gordura visceral uma pessoa tem, mais inflamado o corpo fica. E esse tipo de inflamação é muito mais grave do que uma que ocorre na gordura subcutânea, pois ela recebe mais fluxo sanguíneo por conta de sua localização próxima aos órgãos”, alerta.

Alessandra Rascovski lembra que a doença de Alzheimer não é apenas uma consequência do envelhecimento, mas tem relação com o estilo de vida. Para a endocrinologista, o estudo norte-americano abre caminho para estratégias preventivas de uma doença que está avançando em todo o mundo. A estimativa da Alzheimer’s Disease International (ADI) é que os casos globais da doença no mundo atinjam quase 75 milhões de pessoas em 2030 e 131,5 milhões em 2050. No Brasil, o Ministério da Saúde estima a incidência em 5,5 milhões nos próximos 25 anos.



Fale conosco