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porto velho, sexta-feira 18 de abril de 2025
BRASIL: Você já ouviu falar em frutas capazes de "limpar" o fígado? Em redes sociais, diversos conteúdos divulgam receitas milagrosas para recuperar o órgão. Especialistas ouvidos pelo g1 esclarecem o que há de verdade e o que é mito nessas promessas.
Nesta reportagem você vai conferir:
Confira abaixo os detalhes de cada tópico:
A eficácia de produtos que prometem um "detox do fígado" é bastante controversa, com evidências limitadas e inconclusivas, afirma a médica nutróloga e membro da comissão científica da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Aline Zanetta.
O principal mito vendido nas redes é que as frutas podem ser quase milagrosas. Mas não é bem assim.
A gordura no fígado se forma com o aumento do peso corporal – a mesma gordura acumulada no corpo pode depositar-se também nesse órgão.
O consumo de uma dieta saudável – rica em frutas (mas sem excessos) e vegetais - pode melhorar a saúde do fígado, especialmente para quem tem condições como a doença hepática gordurosa não alcoólica (MASLD, sigla em inglês para Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica). Diversos estudos indicam que componentes bioativos presentes nos alimentos têm efeitos benéficos sobre a saúde hepática.
Dietas ricas em gorduras prejudicam o fígado. Mas é importante lembrar da qualidade das gorduras, destaca Samara Rodrigues, médica endocrinologista e nutróloga do Grupo Valsa e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Segundo ela, gorduras como as encontradas em peixes, abacates e nozes podem ser benéficas, sempre que consumidas com moderação. Já as gorduras saturadas e trans, encontradas nas carnes vermelhas, biscoitos, sorvetes, devem ser sempre evitadas.
Apesar de não existirem alimentos capazes de "limpar o fígado", alguns podem proteger as células hepáticas. Confira algumas frutas ricas em antioxidantes e compostos fenólicos, com efeito hepatoprotetor citadas por Aline Zanetta e pela diretora do Conselho Regional de Nutrição 4ª Região (CRN-4) e doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos pela UFRJ Luana Limoeiro:
“O limão é uma excelente opção, por ser uma fruta com formas de consumo bem variadas e com pouquíssimas calorias. Espremido em água, em rodelas, como suco, em temperos. Em jejum ou antes de refeições, ele auxilia na liberação das enzimas digestivas, facilitando a digestão e fortalecendo nosso sistema imune”, explica Zanetta.
Um estudo de 2020 observou que uma maior ingestão de ácidos fenólicos está associada a uma menor prevalência de doença hepática gordurosa não alcoólica e resistência à insulina. Esses compostos estão presentes nas frutas cítricas, frutas vermelhas, nas uvas, romã e chocolate amargo.
👍 A melhor forma de consumir fruta é como sobremesa, após as refeições e in natura, respeitando o tamanho das porções de cada fruta.
Sucos de frutas são liberados? 🚫 Sucos não estão recomendados em nenhum plano alimentar (nem mesmo para pessoas sem problemas no fígado).
Hepatologistas destacam que, quem tem gordura no fígado, pode ter diabetes, pré-diabetes ou insulina elevada. E o excesso de açúcar consumida por meio das frutas pode contribuir para acumular mais gordura.
Eles explicam que as frutas são realmente saudáveis, mas devem ser consumidas com moderação. Elas contêm açúcares (sacarose e frutose) na sua composição, assim como outros alimentos doces. O consumo de frutas em excesso vai trazer uma quantidade exagerada de frutose para o indivíduo. Esse excesso de energia vai fazer acumular gordura no corpo e, consequentemente, no fígado.
Um indivíduo magro, sem doença metabólica, sem resistência à ação da insulina, sem diabetes, sem colesterol alto e sem gordura no fígado tem a recomendação média de 3 porções de fruta por dia.
Quem não conseguir consumir essas quantidades deve buscar orientação nutricional.
A lista pode parecer um tanto extensa e rigorosa, mas os especialistas e entidades médicas dizem que a adoção de novos hábitos é de fato capaz de contribuir para a saúde hepática:
Vale lembrar que não há medicamentos específicos que eliminem diretamente o excesso de gordura no fígado. O tratamento depende das causas identificadas e se baseia em mudanças fundamentais no estilo de vida.
A esteatose hepática (gordura no fígado) é uma das principais causas de problema no órgão no Brasil. O problema atinge um terço da população mundial e tem aumentado junto com os índices de obesidade da população. A doença está associada ao diabetes, colesterol elevado e sedentarismo.
O consumo de álcool pode ser causa isolada ou estar associado às causas metabólicas de esteatose hepática. Estima-se que cerca de 30% da população tenha este problema, sendo que aproximadamente metade pode evoluir para formas mais graves.
“O fígado é um órgão essencial para a desintoxicação do nosso organismo, metabolizando e eliminando substâncias químicas nocivas. Ele possui uma capacidade única de regeneração e recuperação de lesões agudas, mas pode ser danificado por condições crônicas”, explica Zanetta.