Fundado em 11/10/2001
porto velho, sexta-feira 1 de agosto de 2025
BRASIL: O uso de medicamentos antidepressivos cresceu 12,4% entre adultos de 29 a 58 anos no Brasil, segundo levantamento feito pela Fucional Health Tech, empresa referência em inteligência de dados para programas de suporte a pacientes. O trabalho foi feito com base em informações de mais de 2,5 milhões de beneficiários do Benefício Farmácia da Funcional, comparando dados de junho de 2023 a maio de 2024 com junho de 2024 a maio de 2025. A CNN recebeu os dados com exclusividade.
De acordo com a pesquisa, os antidepressivos são o segundo tipo de medicamento mais utilizado na base de beneficiários do Benefício Farmácia, ficando atrás apenas de antibióticos. Por outro lado, o uso de ansiolíticos caiu 10,6%.
"Esse aumento reflete tanto o impacto do estilo de vida moderno, marcado por jornadas longas, estresse e insegurança econômica, quanto uma mudança cultural importante: hoje falar sobre saúde mental e buscar tratamento deixou de ser tabu para boa parte da população", afirma Alexandre Vieira, diretor médico da Funcional Health Tech à CNN.
Os dados do levantamento também refletem o cenário do Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais relataram ter recebido diagnóstico médico de depressão. Dentro desse grupo, cerca de 48% usavam antidepressivos nas semanas anteriores à pesquisa.
"Esses dados confirmam que o crescimento do uso de antidepressivos entre adultos não é isolado: está associado a uma prevalência significativa da doença, desigualdade de acesso ao cuidado em saúde mental e às pressões da vida moderna. Isso reforça que saúde mental é um tema crítico e urgente para políticas de Saúde", analisa Vieira.
Outras informações levantadas pelo estudo também mostram que houve um aumento no uso de medicamentos crônicos entre adultos e idosos. Entre os seus beneficiários do Benefício Farmácia com mais de 58 anos, o estudo aponta um aumento de 9,4% no número de usuários que fazem uso de fármacos como antidiabéticos, anti-hipertensivos e estatinas, nos últimos dois anos.
Atualmente, mais de 25% dos usuários do Benefício Farmácia da Funcional têm acima de 49 anos, proporção que segue em expansão à medida que a população brasileira envelhece. Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país poderá alcançar 75,3 milhões de idosos em 2070, representando 37,8% da população total.
"Esse crescimento está diretamente ligado ao envelhecimento acelerado da população brasileira e ao aumento dos diagnósticos precoces de doenças como hipertensão, diabetes e colesterol elevado", afirma Vieira. "À medida que as pessoas vivem mais [o que é muito bom enquanto sociedade], também acumulam mais condições crônicas que exigem tratamento contínuo, precisamos nos adaptar a esta nova realidade."
Outro ponto é que as diretrizes médicas indicam o início mais precoce de alguns tratamentos preventivos, como o uso de estatinas e anti-hipertensivos em pessoas com risco cardiovascular aumentado, observa o especialista. Isso leva a um número maior de prescrições e, consequentemente, a um maior uso simultâneo de medicamentos.
"O desafio é que, com mais idosos tomando três ou mais medicamentos ao mesmo tempo, aumenta não só o risco de interações medicamentosas, mas também a baixa adesão, pois pode gerar um elevado custo financeiro a esta população. Isso exige um acompanhamento muito mais estruturado para garantir que o tratamento realmente resulte em qualidade de vida e prevenção de complicações graves, e que principalmente seja economicamente viável", afirma.
O estudo aponta para uma redução de 9,8% no uso de anticoncepcionais por mulheres de 34 a 43 anos. Para Vieira, isso sugere uma tendência de adesão à maternidade tardia, mas também pode estar relacionado ao maior uso de outros métodos contraceptivos, como DIU e implante hormonal.
"No Brasil, a partir de 2020, o Ministério da Saúde incluiu oficialmente esse procedimento na atenção básica do SUS, confirmando que enfermeiros capacitados podem inserir DIU. Em 2023, uma nota técnica reforçou a segurança dessa prática, e desde então o número de inserções feitas por enfermeiros aumentou bastante, principalmente em regiões com menor disponibilidade de médicos", afirma.
Já entre as mulheres mais jovens, o uso de contraceptivos segue em alta, com crescimento de 15,3%, indicando que o planejamento reprodutivo continua sendo uma prioridade nessa faixa etária.
"Gestações a partir dos 35 anos sempre foram consideradas de risco na medicina, mas esse perfil etário está se tornando cada vez mais comum, e tende a se tornar o novo padrão nos próximos anos, diante da tendência de maternidade tardia e do envelhecimento populacional. Mapear essa realidade ajuda as empresas a estruturar políticas de saúde feminina mais assertivas e a antecipar riscos relacionados à gestação e ao cuidado materno-infantil", ressalta Vieira.