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porto velho, sexta-feira 24 de outubro de 2025

BRASIL: Um exame de sangue, testado por pesquisadores brasileiros, foi capaz de diagnosticar Alzheimer com mais de 90% de precisão — um valor acima do teste considerado "padrão ouro" para detecção da doença, o exame de líquor. Para os pesquisadores, a descoberta, descrita em pesquisa publicada no início do mês, pode facilitar o diangóstico precoce da doença e facilitar o tratamento.
Em duas pesquisas recém-publicadas, a proteína p-tau217 se mostrou o principal marcador sanguíneo para distinguir pessoas saudáveis daquelas com a doença.
A primeira pesquisa, publicada na revista Molecular Psychiatry, avaliou biomarcadores em sangue e líquor por meio de exames realizados em 59 pacientes que estavam sendo atendidos em clínicas de memória em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O estudo foi liderado por Willyans Borelli e Eduardo Zimmer, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com apoio do Instituto Serrapilheira.
Entre os participantes do estudo, havia pessoas com diagnóstico de Alzheimer, demência vascular e indivíduos sem demência. Todos passaram por uma avaliação cognitiva, tiveram sangue e líquor coletados para análise e realizaram um exame de ressonância magnética.
Os resultados do estudo apontaram a proteína p-tau217 como o principal biomarcador em exames de sangue.
"Ainda não compreendemos completamente a origem dessa proteína ao nível cerebral, mas sabemos que ela se eleva em casos de pacientes que têm acúmulo anormal de placas amiloides e de proteína tau fosforilada no cérebro, o que é característico da doença de Alzheimer", explica Borelli à CNN.
Segundo o pesquisador, a presença deste biomarcador no sangue se mostra mais precisa para identificar o Alzheimer devido à sua estabilidade nas coletas de sangue, com pouca variação de seus níveis sanguíneos. "Isso significa que ela vai dar, 'mais ou menos', sempre o mesmo valor, independente da temperatura e hora do dia em que coletamos [o sangue]", afirma.
Um outro estudo, uma revisão internacional publicada em setembro no periódico Lancet Neurology, reforça os resultados da pesquisa brasileira. O trabalho analisou mais de 110 estudos sobre o tema com cerca de 30 mil pessoas, confirmando que o p-tau217 no sangue é o biomarcador mais promissor para identificar o Alzheimer.
Assinado por 23 pesquisadores, incluindo oito brasileiros, o estudo conta com Eduardo Zimmer e Wagner Brum, aluno de doutorado e membro do grupo de pesquisa de Zimmer na UFRGS, como coautores.
Para os pesquisadores, além de facilitar o diagnóstico precoce de Alzheimer, as descobertas podem trazer novas perspectivas sobre a forma como a doença é tratada.
"Sem dúvida, isso trará um avanço muito grande no tratamento. Um grande desafio para o diagnóstico hoje é a identificação da proteína amiloide no cérebro de quem tem casos precoces de Alzheimer, quando o tratamento é mais efetivo", afirma Borelli.
"Sabemos que, quanto antes identificarmos a proteína em quem apresenta esquecimento, maior nossa 'janela terapêutica' para evitar progressão e para avançar na descoberta de tratamentos. Isso acontece porque o neurônio, diferente de outras células, quando morre, não é recuperável. Então, tentamos fazer de tudo para evitar a morte neuronal", completa.
Para Zimmer, os resultados do estudo abrem caminho para que exames de ponta em neurociência cheguem ao Sistema Único de Saúde (SUS), democratizando o acesso ao diagnóstico precoce.
Atualmente, o pesquisador e sua equipe coordenam a Iniciativa Brasileira de Biomarcadores para Doenças Neurodegenerativas (IB-BioNeuro), que busca implementar exames de sangue específicos para demências como política pública no SUS.
O diagnóstico por exame de sangue já é uma realidade na rede privada. Testes realizados no exterior, como o americano PrecivityAD2, são oferecidos no Brasil a um custo que pode chegar a R$ 3,6 mil. Embora apresentem alta precisão, seu preço elevado reforça a importância de desenvolver uma alternativa nacional e gratuita.
"[O exame de sangue para diagnosticar Alzheimer] É muito viável. O custo ainda não é baixo como um exame de hemograma — mas não há dúvidas de que o valor vai baixar progressivamente com o uso. Diferentemente dos exames padrão-ouro, o exame de sangue é escalável — pode ser realizado em qualquer lugar do país", afirma Borelli.