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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
Nos dias que correm, são raras as crianças que não têm um smartphone, um tablet, uma consola, um relógio inteligente. Ainda antes de conseguirem pronunciar corretamente a primeira frase, eis que o ‘dedinho’ faz já scroll nas mais variadas aplicações instaladas e nos inúmeros vídeos de desenhos animados que o YouTube disponibiliza. Os miúdos parecem já nascer ensinados a mexer em novas tecnologias, mas isso tem consequências bem mais graves do que a maioria dos pais pensa.
Apesar de o uso de dispositivos móveis ser uma constante ao longo do dia, é à noite que o impacto parece ser mais nocivo na saúde das crianças. O alerta é dado pela Universidade King’s College, em Londres.
Depois de ter analisado mais de 152 mil crianças e jovens entre os seis e os 19 anos e oriundas de vários países, os cientistas britânicos concluíram que o uso de gadgets à noite não só prejudica a qualidade do sono, como pode mesmo servir de trampolim para patologias como a obesidade e a depressão infantil. O processamento da memória fica limitado e o risco de mau comportamento e incapacidade de manter a atenção é também uma realidade.
Na prática, destaca a BBC, o estudo notou ainda que o ‘simples’ uso de um telemóvel todas as noites antes de dormir é suficiente para enfraquecer o sistema imunitário e para deixar as crianças e os jovens à mercê de um crescimento atrofiado.
A longo prazo, o uso diário deste tipo de equipamentos à noite é ainda capaz de interferir com os bons níveis hormonais, sendo que baixa consideravelmente a produção de três das mais fundamentais: melatonina (que prepara o corpo para o sono), leptina (que promove a sensação de saciedade) e GH (hormona libertada durante o sono e que estimula o bom crescimento). Por seu turno, se os níveis destas hormonas caem, a produção de cortisol (hormona do stress) sobre consideravelmente, comprometendo não só a estabilidade emocional, como deixando também a criança e o jovem à mercê de estados de ansiedade e nervosismo. Além disso, os elevados níveis de cortisol estão ainda associados a um aumento dos marcadores inflamatórios, podendo dar origem a uma infinidade de doenças.
Um dos grandes culpados para o efeito negativo que os dispositivos móveis têm na saúde das crianças e jovens (e dos adultos também, sejamos honestos) é o ecrã e a luz que este emite. Dizem os investigadores do King’s College que a luz e os estímulos por ela emitidos deixam o cérebro em estado de alerta quando, na verdade, deveria estar ‘calmo’ e preparado para dormir.
Mas não só: a intensidade da luz – a ‘luz azul’ - é capaz de interferir com o relógio circadiano (desregulando as hormonas e o bom funcionamento do organismo) e dificulta a capacidade de adormecer facilmente.
Como não poderia deixar de ser, o tipo de conteúdo que a criança e o jovem assiste antes de dormir pode também afetar a boa qualidade do sono, estando mais do que provado de que as redes sociais estimulam a ansiedade e os sentimentos depressivos, até mesmo nos adultos.