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porto velho, quarta-feira 27 de novembro de 2024
BRASIL: Um estudo publicado no começo deste mês na revista Nature Communications mostra que a Covid-19 altera o equilíbrio das bactérias intestinais, o que abre caminho para infecções bacterianas capazes de resistir ao tratamento com antibióticos.
A microbiota intestinal abriga trilhões de bactérias, fungos e vírus que são responsáveis por manter o funcionamento adequado de diversas funções no organismo humano. O desequilíbrio dessa região, no entanto, pode trazer diversos malefícios à saúde.
O artigo mostra que os pacientes diagnosticados com Covid sofrem muito com infecções bacterianas secundárias — que podem levar a óbito. Porém, ainda não se sabia como essa relação acontecia.
Para responder a esse questionamento, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Nova York investigaram de forma detalhada como o Sars-CoV-2 afeta a microbiota e como o desequilíbrio de microrganismos na região colabora com a ocorrência de infecções bacterianas.
A partir de testes em camundongos, os pesquisadores descobriram que o vírus causador da Covid desencadeia uma diminuição da diversidade de microrganismos da flora intestinal e altera o revestimento do intestino — aumenta as células que produzem muco e diminui aquelas responsáveis pela produção de compostos antimicrobianos.
Porém, as células antimicrobianas que continuavam no intestino apresentavam anormalidades parecidas com as que são encontradas em doenças intestinais inflamatórias.
"Nossas descobertas sugerem que a infecção por coronavírus interfere diretamente no equilíbrio saudável de micróbios no intestino, colocando ainda mais em risco os pacientes no processo", diz um dos líderes do estudo, Jonas Schluter.
Os cientistas também examinaram amostras de fezes de 96 pacientes diagnosticados com Covid-19. Em um quarto delas, apenas um gênero de bactéria oportunista e resistente a antibióticos foi predominante.
Essa diminuição de diversidade bacteriana, segundo os pesquisadores, também é comum em pacientes com infecções secundárias na corrente sanguínea.
Pensando nisso, a equipe sequenciou o DNA bacteriano de pacientes diagnosticados com infecções secundárias.
Na maioria dos casos, as bactérias que infectaram o sangue também apareceram no intestino. Verificou-se, portanto, que infecções originadas no intestino podem migrar para a corrente sanguínea.