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porto velho, quinta-feira 21 de novembro de 2024
BRASIL: Se essa história virar um livro, o título poderia ser: "O retorno do Peregrino". Quatro meses depois de deixar Niterói, no Rio de Janeiro, de UTI móvel, Paulo Peregrino, o paciente que passou por um tratamento considerado revolucionário no combate ao câncer, voltou para casa caminhando e trazendo as próprias malas.
O publicitário combatia o câncer havia 13 anos e teve remissão completa do linfoma em 30 dias com CAR-T Cell (entenda o método abaixo). Paulo estava prestes a receber cuidados paliativos quando, entre março e abril, foi o 14º paciente a ser tratado pela terapia, em São Paulo.
A técnica combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório e faz parte de um estudo que usa verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Aos 61 anos, no último sábado, Paulo fez as malas e pegou um ônibus de São Paulo a Niterói com a esposa e a prima dela. O site acompanhou as mais de 6 horas de viagem até o momento da chegada na casa.
Carregar as malas sozinho tem um significado importante ao publicitário. Em 2022, ele mal andava e não conseguia colocar o tênis com o inchaço na perna direita.
Na porta, o filho, de 29 anos, esperava o pai. A cadela Aretha estava no quintal e só reconheceu o dono depois de uma cheirada e uma lambida.
Na escada a caminho dos quartos, vários retratos de pai, mãe e filho contam a história desde 1993, quando o Gabriel "foi gerado", brinca Ana Maria Peregrino, a esposa.
A esposa mostra a sequência e havia um espaço ainda vazio com um adesivo escrito "2022".
"Eu fiquei na expectativa muito grande se eu iria conseguir completar esses quadros. Pra que a gente tivesse essa recordação com ela", contou Ana, que completou a coleção de fotos família.
No total, 15 pacientes participaram da mesma pesquisa com a terapia experimental que Paulo passou. O método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O protocolo contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país.
Vamberto Luiz de Castro, o primeiro paciente a realizar o tratamento em 2019, teve remissão total, mas morreu pouco tempo depois em um acidente doméstico.
O coordenador da pesquisa e do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, Dimas Covas, quer ampliar os estudos no mês que vem.
"Continuamos, sim, com a inclusão de pacientes com estudos compassivos e esperamos em breve ter autorização da Anvisa para iniciar o estudo clínico. Estudo clinico de fase 1 e fase 2 que pretenda incluir 81 pacientes. Esperamos aprovação ainda em julho para que em agosto possamos iniciar esse estudo mais abrangente."