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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
BRASIL - Um cruzamento de dados entre a planilha da Odebrecht contendo doações de caixa 2 e a declaração eleitoral de Antero Paes de Barros, candidato ao Senado pelo PSDB em 2010, mostra que empresas ligadas ao Grupo Petrópolis, usadas pela empreiteira para fazer pagamentos a políticos, doaram R$ 100 mil ao tucano.
O depósito do dinheiro teria sido feito, segundo registro de movimentações financeiras da construtora, em 29 de setembro, 16 dias após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, então presidente de honra do PSDB, enviar e-mail para Marcelo Odebrecht, pedindo doações justamente às campanhas de Paes de Barros, além de Flexa Ribeiro.
A troca de mensagens entre ambos consta em relatório da Polícia Federal a respeito de um disco rígido apreendido com o empresário, durante as investigações da Operação Lava Jato.
"Caro Marcelo, recordando nossa conversa no jantar de outro dia, envio-lhe um sos. O candidato ao senado, Antero Paes de barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dados bancários (...)", escreveu Fernando Henrique, de acordo com informações de O Globo.
"Presidente, estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos", respondeu Odebrecht. "Já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço", completou o empresário, em mensagem enviada um dia depois.
Ainda conforme O Globo, no dia 21 de setembro de 2010, Fernando Henrique enviou um novo e-mail com o título "O de sempre". "Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito", disse.
"Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apoiá-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar", reforçou Marcelo Odebrecht.
Respostas
Procurado para comentar o assunto, Fernando Henrique alegou não se lembrar se as doações foram feitas, mas salientou que, ainda assim, não estaria cometendo nenhuma ilegalidade, pois não ocupava cargo no governo.
Já Antero Paes de Barros, atualmente sem partido, negou ter recebido qualquer contribuição da Odebrecht. O mesmo foi dito por Flexa Ribeiro.
A Odebrecht, por sua vez, voltou a declarar que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua, e implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes. Segundo a defesa de Marcelo Odebrecht, os e-mails são autoexplicativos e se referem a pedidos que sempre foram normais e comuns por parte de políticos.