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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
Luiz Carlos Alves Fernandes, 51, é taxista há 16 anos. Na tarde de quinta-feira (5), ele estava no ponto, na avenida Álvares Cabral, em Belo Horizonte, quando viu uma mulher passar discutindo com um senhor de cerca de 70 anos, com dificuldade para caminhar, enquanto olhava para dentro dos carros parados.
Fernandes perguntou, então, se ela precisava de táxi. "Ela foi e respondeu para mim que estava precisando, mas disse 'eu não ando com negro, não gosto de negro'. Eu falei para ela: minha senhora, você não pode falar uma coisa dessas, não. Isso é crime. Ela foi e falou para mim de novo: eu sou racista, e daí?", conta ele.
No meio da discussão, Fernandes avisou que acionaria a polícia e ligou para o 190. A mulher deu uma cusparada em seu pé e perguntou se ele sabia com quem estava falando, alegando que o pai, o senhor com quem ela discutia antes, era delegado.
No local, a mulher, de 36 anos, segundo registro policial, não quis falar a falar com PMs negros. Quando abordada por uma policial, que pediu que ela se sentasse na calçada para aguardar o encaminhamento à delegacia, ela se negou e a chamou de sapata.
Segundo informações da Polícia Civil de Minas Gerais, a mulher foi autuada em flagrante pelos crimes de injúria racial, desacato, desobediência e resistência. O advogado de defesa dela disse à reportagem que sua cliente só irá se manifestar no curso do processo.No boletim de ocorrência registrado pela PM, Fernandes disse que teve seu exercício profissional tolhido e desrespeitado.
"Parece que cai uma pedra na cabeça da gente. Na verdade, sem palavras, eu não estava querendo acreditar. Só quem sente na pele mesmo para saber", diz ele.
Em novembro, uma cuidadora denunciou o anúncio de uma vaga de emprego que pedia que candidatas não fossem negras ou gordas.
Na mesma semana, um segurança foi alvo de ofensas por dois torcedores do Atlético- MG no Mineirão, em um jogo contra o Cruzeiro.
Pai de três filhos e com uma neta, Fernandes diz que nunca tinha sofrido preconceito dessa maneira antes. Ele conta que decidiu denunciar o caso para que não volte a ocorrer."Não fiz isso só por mim, fiz pela sociedade. Nós, brasileiros, todos temos um pezinho na senzala. Não pode acontecer uma coisa dessas, jamais."