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porto velho, sábado 23 de novembro de 2024
BRASIL- Empresas da Baixada Fluminense se tornaram alvo de tentativas de extorsão praticadas tanto por traficantes como por milicianos. Os bandidos estipularam uma espécie de pedágio, que em alguns casos chega a R$ 10 mil mensais, para não assaltar os estabelecimentos, não atacar os empregados e ainda garantir que os caminhões de carga não serão roubados em seus domínios. Em um dos casos, ocorrido há 20 dias, um homem detonou uma granada no terreno de uma fábrica para pressionar que o dinheiro exigido fosse pago.
Ninguém ficou ferido no episódio. Apesar das ameças , as empresas disseram que não chegaram a fazer qualquer pagamento. Nesta quinta-feira, Carlos Erane Aguiar, presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa e outros seis empresários, levaram o caso ao conhecimento do secretário estadual de Segurança Pública Roberto Sá, em uma reunião durou duas horas, no Centro do Rio. A notícia sobre a reunião foi publicada, ontem, na coluna do jornalista Ancelmo Gois, de O Globo.
É uma situação que a polícia está investigando profundamente. Posso afirmar que algumas empresas reclamam de invasão de bandidos e que são pressionadas por traficantes e milicianos a fazer uma contribuição. Não só as empresas estão sofrendo. Os funcionários estão sendo abordados nas ruas e nos condomínios industrias da região por estes grupos. Os empresários não registraram os casos porque temem sofrer represálias. O secretário nos recebeu e foi muito solicito e receptivo — disse Carlos Erane, que preferiu não dizer os municípios mais afetados pelo problema.
— É um fato que está atingindo empresários de todos os seguimentos na Baixada. Tornar pública a localização das empresas pode trazer represálias — completou, incluindo apenas que entre os seguimentos afetados pelo problema estão os de construção civil, gêneros alimentícios e cosméticos.
Um empresário, vítima de traficantes e que foi ouvido pelo Extra, disse ter sofrido duas tentativas de extorsão. Uma ocorreu no fim do ano passado e a outra no mês passado. Ele contou que um emissário do tráfico procurou sua empresa e comunicou que agora estava "dominando" a região.
— um sujeito passou lá de moto e disse que iria fazer uma reunião com um representante da empresa para acertar os valores que seriam pagos. Pediu R$ 10 mil nas duas oportunidades para não assaltar a empresa e os empregados. Também sei de casos de empresários que sofreram invasão em seus terrenos. Uma aconteceu há 20 dias quando um homem detonou uma granada. Também em janeiro, uma outra empresa teve uma área invadida por 20 bandidos que fugiam de um conflito com uma quadrilha rival — disse o empresário que pediu para não ser identificado e ainda omitiu a localização das empresas para evitar retaliações dos bandidos.
A Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Segurança confirmou o encontro de Roberto Sá com os empresários, mas alegou não divulgar o teor de reuniões fechadas.. Já Carlos Erane disse que os empresários sugeriram que as autoridades estaduais discutissem a criação de um projeto de lei, a fim de que um percentual do ICMS pago pelas empresas fosse revertido para o Fundo estadual de Segurança Pública.
O fundo teve a criação aprovada na Assembleia Legislativa do Rio no fim de dezembro. O dinheiro arrecadado poderia ser utilizado, por exemplo, para blindagem de veículos policiais.
Ainda de acordo com Carlos Erane, os empresários também acenaram com a possibilidade da criação de uma parceria envolvendo empresas e prefeituras da Baixada. O objetivo seria o de conseguir ajudar a polícia a fazer a manutenção da frota e até adquirir alguns veículos que seriam utilizados no patrulhamento da região.
— Queremos criar um grupo para ajudar no sentido de colaborar com as forças policiais. Com planejamento, uma parceria poderia ajudar com consertos de veículos e fornecendo alguns equipamentos — disse.
O presidente do sindicato informou ainda que algumas empresas acenam com a possibilidade de deixar a Baixada Fluminense, caso o assunto não seja resolvido.
— Não temos um levantamento com um número fechado das empresas que podem ir embora. O que eu posso dizer é que dezenas de empresas já deixaram o Rio por problemas de segurança —concluiu.