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Carnaval no Rio de Janeiro é marcado por um arrastão de violência e insegurança


OGlobo

Publicada em: 13/02/2018 09:34:43 - Atualizado

BRASIL- Uma onda de violência em meio ao carnaval de rua, que teve três arrastões na Praia de Ipanema em menos de 24 horas, pôs em xeque o planejamento da segurança para a folia carioca, também marcada pela falta de ordenamento e por um colapso nos transportes públicos. Os problemas ocorrem enquanto o prefeito Marcelo Crivella faz uma viagem pela Europa, e o governador Luiz Fernando Pezão descansa em Piraí, sua cidade natal, no interior.

Coube ao comandante-geral da PM, coronel Wolney Dias, a tarefa de tomar uma medida. Sob o argumento de que “o cobertor é curto”, ele anunciou ontem um remanejamento de parte do efetivo de 17 mil homens mobilizados para a festa que, segundo a Riotur, reúne este ano 6,5 milhões de pessoas. Mas uma das soluções encontradas pelo oficial foi deslocar para a orla da Zona Sul e o Centro equipes do Batalhão de Choque que reforçam o policiamento na Rocinha, alvo há cinco meses de operações e de uma disputa do tráfico.

Estamos com poucas viaturas, o que não dá visibilidade ao nosso trabalho. Veja, por exemplo, como foi o Bloco da Favorita (que, no sábado, levou quase 700 mil pessoas à Praia de Copacabana). Do alto, grupos de policiais, misturados à multidão, pareciam pontinhos — lamentou Wolney.

Horas antes de o comandante da PM dar a entrevista, o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz, disse à Globonews que órgãos de ações sociais têm que atuar mais nas ruas e recomendou aos foliões que “não ostentem joias” e evitem fazer selfies com celulares.

— Pedir isso é lamentável, mas, infelizmente, é a realidade que vivemos — justificou Blaz.

Crivella chegou ontem a Frankfurt, na Alemanha, onde deu início a um giro por quatro países. Em um vídeo nas redes sociais, ele avisou que viajou em busca de soluções, “inclusive tecnológicas”, para o Rio, contrariando a promessa, feita no último dia 5, de que iria aos desfiles na Sapucaí. Em sua nova agenda, consta uma visita a uma agência espacial que produz drones para projetos de segurança. Pezão, que, às vésperas do carnaval, chamou de “bem engrenado” o planejamento para a folia, reconheceu, após os arrastões, a necessidade de mudá-lo:

— Estamos com o efetivo máximo, mas já pedi para reforçar o policiamento em toda a orla.

TRÊS QUEIXAS DE TURISTAS A CADA HORA

Quem ficou no Rio, em especial na Praia de Ipanema, no sábado e no domingo, sentiu na pele as falhas do esquema de segurança. Bandidos fizeram três arrastões na altura do Posto 8, e, entre as vítimas, havia vários turistas estrangeiros. Somente das 8h às 16h de ontem, a Delegacia de Atendimento ao Turista registrou 26 ocorrências, o que dá três queixas por hora. Normalmente, são seis casos por dia. Dois italianos foram feridos na cabeça, e foram levados a um hospital. Uma chinesa e uma alemã levaram socos no rosto, além de chutes. Uma argentina que passeava com um bebê foi jogada ao chão. O espanhol Nicolas Ctambolsky contou ao “RJ TV”, da Rede Globo, como foi uma das ações:

— Chegaram uns caras no calçadão, seguraram minha namorada e bateram em mim. Roubaram nossos celulares.

Vítima de um outro arrastão, Alan Machado, morador de Volta Redonda, disse que foi atacado por oito criminosos. Muito machucado, ele desmaiou.

— Foram muito violentos. Quando recobrei os sentidos, cheguei a ver os bandidos roubando um casal — disse Alan.

No Leblon, dois PMs que tentaram impedir um assalto na Avenida Afrânio de Melo Franco foram baleados, no domingo. Hospitalizados, receberam alta ontem. O autor dos disparos fugiu. No mesmo dia do crime, um policial civil que também abordou ladrões foi espancado, em Copacabana. Um grupo de jovens o cercou na Avenida Atlântica e chegou a usar uma cadeira para agredi-lo.

A onda de violência também chegou aos arredores do Sambódromo, onde o policiamento está reforçado desde sexta-feira. O cantor e compositor Moacyr Luz foi assaltado pouco depois de sair de um táxi para desfilar pela Paraíso do Tuiuti, na madrugada de ontem. Três bandidos roubaram a carteira, o celular e até uma fantasia, que o sambista usaria na Mangueira, onde também desfilaria.

— Não vi polícia alguma. Está muito difícil viver aqui, no Rio — reclamou Moacyr Luz.

Ainda na região do Centro, O GLOBO flagrou, ontem à tarde, um espancamento. Quatro homens atacaram um jovem na Avenida Mem de Sá, próximo aos Arcos da Lapa, no início da tarde de ontem. Acusado de roubo, ele caiu desfalecido numa calçada após levar socos e chutes e receber uma gravata. Os agressores foram embora caminhando, já que não havia policiamento.

Também ontem, foi enterrado o estudante David Weber Rodrigues, de 18 anos. Ele estava hospitalizado desde o último dia 31, quando foi atropelado durante um assalto na Vila da Penha. Dois ladrões fugiram numa moto com o celular do rapaz e um pedaço de bolo que ele levava para a mãe.




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