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    porto velho, sábado 20 de abril de 2024

Três réus são condenados por espancar adolescente até a morte na saída de festa no RS

Penas de Peterson Patric Silveira Oliveira, Leonardo Macedo Cunha e Vinícius Adonai Carvalho da Silva chegam até 38 anos de prisão.


G1

Publicada em: 25/06/2022 10:34:08 - Atualizado


BRASIL - Os primeiros três dos nove réus acusados de espancar até a morte Ronei Faleiro Júnior, de 17 anos, na saída de uma festa, em agosto de 2015, foram condenados durante júri na madrugada deste sábado (25), em Charqueadas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

As condenações são pelos crimes de homicídio qualificado, tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores.

Peterson Patric Silveira Oliveira foi sentenciado a 35 anos e quatro meses de prisão. Leonardo Macedo Cunha foi condenado a cumprir pena privativa de liberdade que chega a 35 anos e quatro meses. Já Vinícius Adonai Carvalho da Silva terá de cumprir 38 anos e 10 meses e 20 dias de reclusão.

A Defensoria Pública, que atuou na defesa de Cunha, disse que "a defesa foi feita da melhor forma possível visando um processo justo e leal. A partir de agora, vamos recorrer no que julgarmos necessário, nos autos do processo".

Diander Rocha, responsável pela defesa de Oliveira, disse que respeita a decisão tomada pelo júri, que vai analisar a sentença e "ingressar com as medidas cabíveis"..

O g1 tenta contato com os responsáveis pela defesa de Silva.

Essa foi a primeira etapa do julgamento do caso. Outros seis acusados devem ser julgados em júris previstos para os dias 4 e 7 de julho.

Como foi o 3º dia

Os três réus obtiveram um habeas corpus preventivo durante o julgamento de sexta. A medida garantiu que eles não fossem presos ao final do julgamento.

O entendimento da Justiça foi de que, como se trata de execução provisória baseada nas penas de prisão (eles seriam presos se fossem condenados a penas a partir de 15 anos), prendê-los configuraria "constrangimento ilegal ao direito de locomoção".

Os jurados se reuniram na sala secreta para deliberar sobre o caso por volta das 20h30 de sexta (24). A sentença foi proferida pela Justiça por volta das 00h20 de sábado.

Como foi o 2º dia

O segundo dia (23) foi marcado pelos depoimentos de Peterson Patric Silveira Oliveira, Leonardo Macedo Cunha e Vinícius Adonai Carvalho da Silva. Os três eram acusados de homicídio qualificado, três tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores.

O primeiro réu a depor foi Leonardo, que disse que já estava na rua quando ouviu alguém falando que havia uma briga. Ele contou que viu o pai de Ronei Júnior com uma garrafa na mão e o chutou para tentar defender um amigo. Relatou também que foi atingido por uma garrafada.

"Me sinto muito arrependido", disse, ao falar sobre o caso.

O segundo réu a prestar depoimento foi Peterson, que afirmou que não entrou na festa naquela noite. Ele relata ter chegado ao local já com a briga em andamento, que havia mais de uma confusão acontecendo e que desferiu "duas ou três garrafadas no rapaz", que atingiram a cabeça de Ronei.

"Só quero ser condenado, pagar o que devo e continuar com o que sobrou da minha vida", disse Peterson.

Por fim, Vinicius negou participação nas agressões. Ele afirma que foi à festa, mas já estava na rua na hora da confusão. Segundo o réu, ele nem chegou a ver Ronei naquela noite.

"Não encostei em ninguém", afirmou

Como foi o 1º dia

O primeiro dia de julgamento, na quarta (22), foi marcado pela emoção do pai da vítima, Ronei Wilson Faleiro. "Meu filho foi julgado, sentenciado e executado numa calçada. Não foi dada chance", falou, aos prantos.

Antes, pela manhã, houve o sorteio dos jurados. Três mulheres e quatro homens compõem o Conselho de Sentença.

Em seguida, Ronei relembrou os fatos da noite em que levou seu filho de 17 anos ao Clube Tiradentes, para que organizasse uma festa com o objetivo de angariar recursos para a formatura. Durante o depoimento, falou sobre a cena que encontrou ao buscar o filho, já na madrugada.

"Ouvi barulho de batidas de garrafas, de vidros, minha porta foi empurrada, mas eu consegui entrar no carro. (...) Fomos atacados pelas costas", disse.

Ronei cita momentos de desespero na tentativa de socorrer o filho. Ele tentou ser transferido para Porto Alegre, mas morreu a caminho do hospital.

"Uma médica disse que estavam tentando salvar a vida de Júnior. Mas que, se conseguissem, o Júnior que conhecíamos não seria mais o mesmo. É duro dizer isso. Mas arrebentaram a cabeça do meu filho", disse o pai da vítima, emocionado.

Além dele, foram ouvidas as vítimas Richard Saraiva de Almeida e Francielle Wincke. Ainda que acredite ter sido o alvo das agressões, por estar em uma festa de Charqueadas sendo morador de São Jerônimo, Richard relatou ter levado apenas um soco na cabeça, saindo prontamente do local e entrando no veículo do pai de Ronei.

"Se queriam me pegar, por que bateram tanto nele [Ronei Jr]?", questionou.

Para Franciele, a motivação do crime também teria sido o fato de que Richard seria de outra cidade.

"Entrei no carro pela porta do lado do motorista, Richard entrou atrás. Ronei Jr não conseguiu entrar, pois os guris [réus] puxavam para fora. Depois, o Richard conseguiu puxá-lo para dentro do carro", descreveu.

O delegado Rodrigo Machado Reis, que na época dos fatos era titular da Delegacia de Polícia de Charqueadas, foi ouvido na condição de testemunha. Segundo ele, já era de conhecimento dos moradores da cidade que o grupo "Bonde da Aba Reta" já vinha há alguns anos praticando infrações de menor potencial ofensivo na cidade. No entanto, não haviam registros formais desses crimes, como ameaças, injúrias, lesões leves e brigas em festas.

Relembre o crime

Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, de 17 anos, foi espancado e morto após uma discussão na saída do Clube Tiradentes no dia 1º de agosto de 2015, em Charqueadas. Ele estava em uma festa organizada para arrecadar fundos para a formatura do último ano da Escola Técnica Cenecista Carolino Euzébio Nunes.

Além do jovem, segundo o Ministério Público, foram vítimas de tentativas de homicídio o pai dele, o engenheiro Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, e o casal de amigos Richard Wienke e Francielle Wienke. O pai havia ido buscar o filho e ofereceu carona aos amigos.

Estes moravam na cidade vizinha de São Jerônimo e, por isso, segundo a Polícia Civil, eram vistos como inimigos por um grupo de jovens e adolescentes. Os três também foram agredidos.

Após as agressões, Ronei levou o filho até o hospital local, mas o adolescente precisou ser transferido para o Hospital Santo Antônio, em Porto Alegre. No entanto, ele morreu a caminho da instituição.

Em uma conversa por um aplicativo de celular, segundo a polícia, um dos suspeitos explica aos amigos como agrediu Ronei. "Eu dei duas garrafadas, com a garrafa quebrada na cabeça dele", comenta.

O Ministério Público confirmou a veracidade da gravação e os áudios foram incluídos no processo. Nas mensagens, segundo a investigação, eles pareciam comemorar.

"Eu comecei a chutar, tipo GTA, assim ó, comecei a chutar ele assim", diz um deles, se referindo ao jogo de vídeo game.

Nove adultos e sete adolescentes foram responsabilizados pela morte de Ronei. Os homens, na época com idades entre 18 e 21 anos, foram presos e os adolescentes, que tinham entre 15 e 17, cumpriram medidas socioeducativas.


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