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porto velho, quinta-feira 3 de julho de 2025
BRASIL: A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga suspeitos de agredir e roubar um homem após um encontro marcado por um aplicativo de relacionamento direcionado ao público LGBTQIA+ em Porto Alegre. O caso teria ocorrido na quinta-feira (6). Ao g1, o rapaz que registrou a ocorrência afirma que ainda não conseguiu voltar para casa depois do que aconteceu.
"Tenho um trauma brutal para lidar a partir de agora. Não sei quando vou voltar a dormir no meu apartamento", diz o homem, que prefere não ser identificado.
A ocorrência é apurada pela Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância da Capital. Segundo a delegada Andréa Mattos, o rapaz marcou o encontro em sua casa com dois homens. Ao chegar no local, a dupla amordaçou e amarrou o jovem, que foi forçado a transferir dinheiro por Pix para uma conta bancária. Outra quantia em espécie e uma caixa de som foram roubados.
A ação dos criminosos durou cerca de 40 minutos. O homem também foi agredido com coronhadas e socos no rosto. O rapaz ficou ferido no rosto após o crime, mas não precisou ser internado e passa bem.
Depois do acontecido, o homem fala com preocupação sobre a segurança de usuários de aplicativos, uma vez que as contas nem sempre são verificadas ou têm a autenticidade confirmada pelas plataformas.
"É o alerta que fica. Se a pessoa quiser fazer o uso desse aplicativo, que ela seja mais precavida", afirma.
Por volta de 17h de quinta, o homem fez contato com uma dupla através do aplicativo de encontros. Na descrição, apareciam dois jovens de 24 anos. Eles trocaram fotos e mensagens, marcando um encontro para logo mais.
"Por algum motivo, o meu sexto sentido estava achando meio estranho aquilo ali. Mas eu estava em um momento um pouco difícil e estava precisando ter uma aventura dessa, um encontro diferente, e me coloquei à disposição", diz o homem.
O usuário do aplicativo chegou a desconfiar que se tratava de um perfil falso, quando os dois homens demoraram para aparecer no horário combinado. No entanto, por volta de 19h20, uma dupla apareceu em frente ao local onde o rapaz mora. Desconfiado, ele avisou um amigo.
"Disse que 'se algo me acontecer e em uma hora eu não ter dado retorno, é que algo aconteceu comigo'", relata.
Os dois suspeitos vestiam máscaras de proteção contra o coronavírus e um deles usava boné. "Então, não tinha como fazer reconhecimento facial", afirma o jovem.
O homem ofereceu cerveja à dupla. Segundo a vítima das agressões, um deles agia de forma mais agressiva e agitada. "O mais tranquilo pediu um copo d'água e o mais agressivo pediu para usar o banheiro. Ele voltou para a sala e começou a mexer nos interruptores, dava para ver que estava mais agitado, nervoso", conta.
Os três foram para o quarto. Foi nesse momento que começaram as agressões. "Assim que a gente entrou, o agressivo me deu um soco na nuca e puxou um revólver. Ele meio que comandava a ação. Ele falou: 'deita na cama, isso aqui é um assalto'. Falou para o outro me amarrar", lembra o homem.
O dono do apartamento teve os pés e as mãos amarradas e a boca tampada com uma fita isolante.
"Eu achei que eles iam me matar asfixiado. No meu instinto, gritei."
Com a reação, o suspeito mais agressivo passou a dar socos no rosto da vítima do golpe, além de tampar o nariz do rapaz. "Eles falavam: 'quem sabe a gente apaga esse cara'. Não desmaiei, parei de reagir e não falei mais nada", conta o homem.
O rapaz ainda diz ter sido vítima de ofensas homofóbicas, principalmente do homem que aparentava estar agitado.
O suspeito de perfil mais tranquilo falava que não queriam machucar o jovem, só roubar objetos. Nesse momento, eles pegaram notas de dinheiro que estavam guardadas em um guarda-roupa, além do dinheiro da conta bancária, transferido por Pix.
De acordo com o autor do boletim de ocorrência, a dupla conversava sobre como deixar o local e permitir que o rapaz de libertasse. "Eles conversavam entre eles: 'será que esse cara não vai morrer aqui? Ele sangrou demais'. O último ato deles antes de irem embora foi deixar uma tesoura na minha mão esquerda. Dois ou três minutos depois, eles apagaram todas luzes e foram embora com a minha chave. Eu consegui cortar a corda que ligava meus pés às minhas mãos", diz.
O jovem saiu do apartamento e pediu socorro aos vizinhos, que chamaram a polícia e uma ambulância. Com a demora no atendimento, ele foi junto com um amigo ao Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre.
No dia seguinte, ele registrou o caso na Polícia Civil. O homem passou por exames médicos e teve a casa periciada.
Não há outros registros de crime semelhante em Porto Alegre, mas a polícia suspeita que possa haver outras vítimas do golpe. "Há uma série de elementos que me levam a crer que possa haver outras vítimas e que elas não tenham registrado boletim de ocorrência por vergonha", afirma a delegada Andréa Mattos.
Um vídeo de uma câmera de segurança do local mostra a dupla chegando junta à casa onde o crime foi supostamente cometido. Os suspeitos usavam boné e máscara, o que dificulta a identificação.
A polícia tenta entender se eles se deslocaram ao local em um carro de aplicativo de transporte ou se havia uma terceira pessoa envolvida no golpe. Aplicativos de transporte e bancos foram acionados pela polícia, a fim de identificar os suspeitos.