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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
BRASIL - Depois de se desgastar com os repetidos aumentos dos combustíveis, o governo Bolsonaro pode enfrentar uma crise ainda maior no setor, e bem no meio da campanha eleitoral: o País pode sofrer desabastecimento de diesel, vital para a cadeia produtiva e o transporte urbano. O alerta veio do atual presidente (demissionário) e de conselheiros da Petrobras, que afirmam que ANP e o Ministério de Minas e Energia (MME), ignoraram alertas sobre o problema.
Também denunciam descaso e falta de planejamento do governo. As informações mostram que o risco maior é no terceiro trimestre, quando haverá um aumento de consumo tanto no Brasil quanto nos EUA, responsável por quase dois terços do óleo importado. Desde o início do ano, os EUA já enviaram US$ 3,7 bilhões (ou R$ 17,5 bilhões) em combustíveis para cá, um aumento de 83,7% em relação ao ano anterior.
De acordo com o Ministério das Minas e Energia (MME), os estoques de diesel nacional e importado são suficientes somente para mais 38 dias. Em resposta ao documento, emitido pelo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, que foi demitido por Bolsonaro em 23 de maio, mas ainda exerce a função, o MME argumentou que está atento ao abastecimento desde o início da guerra entre Ucrânia e Rússia. “O Ministério segue atento aos movimentos do mercado doméstico e internacional, mantendo o monitoramento de forma intensa e constante”, diz em nota.
A defasagem de preços em relação ao mercado internacional é uma das causas do problema, já que comprar o óleo do exterior pode se tornar desvantajosa para os importadores. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), se a estatal quiser alinhar seus preços terá que aumentar a gasolina em R$ 0,56 e o diesel em R$ 0,33.
Para Paulo Lustosa, presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas (FENATAC), o momento é preocupante. “Imaginamos que é possível amenizar esses impactos no Brasil em duas formas: ou cria-se um fundo de compensação de valores para que a gente tenha previsibilidade ou o governo abre a mão de partes de seus dividendos na companhia”, propõe.
Os caminhoneiros estão com mais uma batata quente para segurar, sem saber qual é a quantidade de estoque do combustível no mercado interno. “Já estamos avisando faz tempo que poderíamos entrar nesse colapso, pedindo transparência em relação ao estoque do produto para o mercado interno.”, argumenta Wallace Landim (Chorão), presidente da ABRAVA (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores).
Uma paralisação em plena campanha eleitoral seria um desastre para o governo Bolsonaro, que tem adotado uma política errática diante da escalada do preço dos combustíveis. O presidente acusa a Petrobras pelos aumentos (já demitiu três presidentes da estatal), assim como joga a culpa da alta para os governadores, seus adversários, por causa dos impostos estaduais, como o ICMS. Mas são apenas cortinas de fumaça. Além da crise com a guerra na Ucrânia, a escalada do dólar também é responsável pela expansão dos preços – e a instabilidade institucional promovida pelo mandatário alimenta a desvalorização do real e o círculo vicioso que pode causar mais um apagão.
Para tentar amenizar uma crise semelhante ou até pior do que a ocorrida em 2018, o Ministério da Economia se mostrou favorável à concessão de uma “bolsa-caminhoneiro”, com custo R$ 1,5 bilhão ainda neste ano, próximo à campanha eleitoral. Para a equipe econômica esse auxílio seria como um “seguro barato”, já que, segundo eles, amenizaria a probabilidade de uma nova paralisação no abastecimento, como no passado. Mas, não é assim que pensa Chorão, que se diz afrontado com a medida. “Somos autossuficientes na extração e não no refino. Estão entregando nossa matriz para os estrangeiros. Aí eles me falam de bolsa combustível de R$ 400,00, é uma piada! Estamos tentando não parar o Brasil mais uma vez”, resumiu.
A informação de um risco de desabastecimento também agrava a segurança energética do País. As usinas de biodiesel estão com capacidade ociosa para 2022 em torno de 50%. Os produtores de óleo de soja e de biodiesel, além de parlamentares federais, defendem que o governo avalie aumentar a mistura de biodiesel ao diesel. Atualmente, apenas 10% desse biocombustível é acrescentado ao combustível à venda nas bombas.
De acordo com a Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio), a autorização federal para aumentar a produção e a mistura de biodiesel acabaria em menor dependência do produto importado; estimularia a produção desse biocombustível. Enquanto mais uma crise está em gestação, Bolsonaro continua em negação.