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    porto velho, sábado 28 de setembro de 2024

Ana Castela não é nem de longe a nova Marília Mendonça e compará-las é quase um crime

Sim, as duas são mulheres e cantam sertanejo, mas as semelhanças não vão muito além disso


r7

Publicada em: 12/05/2023 10:27:40 - Atualizado

Tem um monte de gente por aí dizendo que Ana Castela é “a nova Marília Mendonça” e isso é um erro sem tamanho. É mais ou menos a mesma coisa de dizer, lá atrás, que Ludmilla seria a nova Anitta. Simplesmente não dá.

Ana Castela está fazendo muito sucesso, chamando a atenção do mundo sertanejo e da mídia em geral, é mulher e jovem. Nestes quesitos realmente dá até para fazer um paralelo entre as duas, mas são comparações genéricas e sem noção. Tipo, Ana é igual a Marília porque as duas são mulheres jovens. Coisa de quem tem pensamento curto, claro.

Ana e Marília são duas cantoras sertanejas completamente diferentes. A dona do hit Pipoco é, digamos, um tanto quanto mais tradicional do que Marília. Ana é praticamente uma versão de saias (embora quase sempre use calças compridas) de cantores sertanejos. Na maioria de suas canções os temas são festas, namoro, ficadas e coisas do tipo. É mais ou menos a mesma coisa que se vê no “sertanejo masculino”.

Uma outra diferença entre elas é que Ana Castela compõe bem menos do que Marília. A maior parte das canções gravadas pela boiadeira vem de outros autores. E não há nenhum problema com isso, mas é algo que reforça a distância entre as duas artistas.

Por outro lado, em sua música, Ana faz uma mistura interessante de ritmos em algumas faixas. Ela é claramente uma cantora sertaneja, mas coloca também funk e pop nas músicas, ritmos de que também é fã.

Marília Mendonça, por sua vez, foi por um caminho um pouco diferente e justamente por isso foi considerada uma grande novidade no gênero musical. Grande compositora, Marília teve várias de suas canções gravadas por duplas famosas antes mesmo de ficar conhecida.

E essa sua capacidade de criar letras foi o que impressionou toda a indústria do estilo rural. Ainda mais porque Marília seguiu por um caminho novo, colocando a mulher em primeiro plano, algo que foi considerado bastante inovador.

A cantora que morreu aos 26 anos colocava as mulheres como protagonistas em muitas de suas composições, mostrava como elas pensavam e como se sentiam em relação aos homens e ao mundo. A cantora tirou as garotas de mero objeto nas canções sertanejas e deu a elas um lugar de fala que nunca havia sido visto antes nas faixas das duplas tradicionais. Este seu estilo de compor foi o que tirou Marília do lugar comum e a colocou em destaque entre seus pares.

Claro que Marília também falava de namoro, de levar foras de namorado e tinha um lado romântico bem forte, mas foi além. Saiu do lugar comum e se notabilizou por isso, daí a imensa falta que faz à música sertaneja moderna brasileira.

Marília era meio que única no gênero. Ana Castela é também uma novidade na música sertaneja, principalmente por usar outros ritmos em suas canções, o que é muito bem-vindo, mas há mesmo uma distância grande entre ela e Mendonça. E isso não é bom, nem ruim. É apenas diferente.



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